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Channel: RUAS DE LISBOA COM ALGUMA HISTÓRIA
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LARGO DO CARMO [ III ]

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 Largo do Carmo - (finais do séc. XIII) Desenho de Alberto de Sousa (Panorama conjecturável da "PEDREIRA". Vê-se no primeiro plano, ao centro ( 1 ) "CONVENTO DO ESPÍRITO SANTO DA PEDREIRA" (antigos Armazéns do Chiado), a margem do declive para o vale, já povoado de casas;    ( 6) em frente, na direcção a poente a Estrada de Santos, depois "Rua Pública" (actual "RUA GARRETT"); ( 2 ) na margem esquerda o "CONVENTO DE SÃO FRANCISCO" e a antiga "IGREJA DOS MÁRTIRES"(mandada construir por D. Afonso Henriques); ( 5 ) mais longe, o PAÇO que foi dos Condes de Ourém; ( 3 ) à direita o "ESTUDO GERAL" (depois Liceu do Carmo), o CONVENTO E IGREJA DO CARMO; ( 4 )mais ao fundo em cima, o "CONVENTO DA TRINDADE".  in O CHIADO PITORESCO E ELEGANTE
 Largo do Carmo - (Século XIV) Desenho de Jesuíno A. Ganhado (Planta Geral do Território do CARMO E DA TRINDADE, no final do século XIV, mostrando os vários domínios directos e indicando a sua proveniência da propriedade)  in  O CARMO E A TRINDADE
 Largo do Carmo - (século XV) (Desenho de Jesuíno A. Ganhado) (Planta do século XV do "Sítio da Pedreira" notando-se já uma ligeira diferença em relação ao século transacto)  in O CARMO E A TRINDADE
Largo do Carmo - (2013)  (Panorama do "LARGO DO CARMO" e seu envolvente, no século XXI)  in  GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO - LARGO DO CARMO [ III ]

«O SÍTIO DA PEDREIRA»

Muito cedo começaram estes sítios a ser povoados em tempo já cristão, que é como quem diz posteriores a 1147, ano da tomada de LISBOA aos MOUROS.
Bem perto, para lá do que é hoje o CHIADO ergueu-se um templo, por vontade do  nosso primeiro "REI DE PORTUGAL", a ermida dos MÁRTIRES. Antecessora da actual Igreja na "RUA GARRETT", estava situada noutro local, mais para os lados do actual "LARGO DA ACADEMIA DE BELAS ARTES".
A Igreja foi edificada após a conquista de LISBOA, sendo lançada a primeira pedra no dia 21 de Novembro de 1147. Nesse mesmo dia era também fundada a IGREJA DE S. VICENTE, no sítio onde existia um cemitério dos CRUZADOS INGLESES que ajudaram D.AFONSO HENRIQUES, ficando a ERMIDA DOS MÁRTIRES a perpetuar a memória de todos os bravos que se bateram no Cerco à Cidade.
Toda a zona, incluindo a CALÇADA DO SACRAMENTO e demais ruas íngremes que nos nossos dias conduzem ao LARGO DO CARMO e suas imediações, era conhecido pelo "SÍTIO DA PEDREIRA". Ficava a Ocidente do VALE DA BAIXA onde corria um esteiro vindo do ROSSIO em direcção ao TEJO.
Embora nessa época com tal nome, só existia esta pedreira no sítio de LISBOA. Muitas outras PEDREIRAS terão eventualmente aparecido na cidade, como em SÃO TOMÉ, (São Tomé do Penedo), na ALFUNGERA, ao Norte do ROSSIO, nos contrafortes do MONTE DE SANTANA, existiram, mas só em épocas menos remotas.
Durante o século XIV e até XVI, a PEDREIRA, o campo ou lugar que chamavam de PEDREIRA, como se diz em vários documentos da época, começou a povoar-se.
Os Reis doavam aforavam ou emprazavam as casas ou chãos do seu herdamento. As DONAS DE S. TIAGO, também senhorias directas, e a CONFRARIA DOS CLÉRIGOS RICOS, faziam o mesmo.
Para melhor conhecimento, procurámos transcrever um resumo de algumas escrituras de venda, permutas, doação ou emprazamento (aforamento) nas Chancelarias, nos Cartórios Conventuais e noutros corpos de documentos:
1 - Doação de CLARA ANES, de uma casas à PEDREIRA, às DONAS DE S. TIAGO, em 20 de Outubro de 1301.( 1 ).
2 - Venda feita, às mesmas DONAS, de umas casas à PEDREIRA, por CATARINA PASCOAL, criada do Mosteiro, em 11 de Maio de 1307. ( 2 ).
3 - Aforamento feito por D. DINIS, ao seu Escrivão DOMINGOS FERNANDES, em 25 de Janeiro de 1307, "de duas cassarias, no meu herdamento que ey en LIXBOA no lugar que chamã pedreyra". ( 3 ).
4 - Posse de umas casas no canal, à PEDREIRA tomada por SANCHA MARTINS, em 2 de Maio de 1318. ( 4 ).
5 - Doação feita pelo Rei, em 9 de Setembro de 1318 a ESTÊVÃO DIAS, seu vassalo, de casas que foram de PERO FERNANDES DA PEDREIRA, escrivão de LISBOA, das quais os sótãos estavam ocupados por VASCO DOMINGUES.( 5 ).
E por ai em diante. Sabe-se que o desenvolvimento urbano do arrabalde da PEDREIRA é evidente. Os senhorios directos dos chãos deste território iam promovendo a sua urbanização. Tanto as DONAS DE S. TIAGO DO MOSTEIRO DE SANTOS-o-NOVO, mercê de doações dos devotos, acrescentavam ainda os seus domínios, situados no extremo Nascente do Outeiro contra o SANTO ESPÍRITO do lado Sul da via pública que, em meados do século, se chamava já RUA DA PEDREIRA, ou RUA DIREITA. Foi este o primeiro térreo que se "semeou" de casas. Ia desde a CORDOARIA VELHA ao SANTOESPÍRITO e a RUA DIREITA limitava-o pelo Norte. Foi aqui que a velha designação de PEDREIRA se agarrou, depois que a fustigou do Norte o incipiente BAIRRO DO ALMIRANTE.
D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, uma das grandes personagens portuguesas, é agora, uma figura retabular. A sua grandeza impõe-se, por si mesma e pela simbolização que lhe deu e que a acrescentou. O SANTO CONDESTÁVEL ou CONDESTABRE (como se dizia em meados do século XV), foi o mentor e fundador do MOSTEIRO DE SANTA MARIA ou SANTA MARIA DO CARMO, ou NOSSA SENHORA DO VENCIMENTO ou ainda NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO, como se foi chamando sucessivamente pelos anos fora.

( 1 ) - Cartório do Mosteiro de Santos-o-Novo, Maço 2, Doc. 4.
( 2 ) -  Idem   Maço 2, Doc. 2.
( 3 ) - Chancelaria de D. Dinis, Lº. 2, fl. 12-vº.
( 4 ) - Cartório de Santos-o-Novo, Maço 2, Doc. 5.
( 5 ) - Chancelaria de D. Dinis, Lº. 3º., fl. 120-vº.

(CONTINUA)-(PRÓXIMA)«LARGO DO CARMO [ IV ] O CHAFARIZ DO CARMO» 

LARGO DO CARMO [ IV ]

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 Largo do Carmo - (Século XIX Gravura) Foto de Eduardo Portugal )Os aguadeiros do "Chafariz do Carmo", numa gravura do século XIX. Este chafariz era abastecido neste tempo pelo "Aqueduto das Águas Livres", proveniente da "Galeria do Loreto") in AFML 
 Largo do Carmo - (Século XIX Gravura Litografia de M. L. da Costa-Foto de José Artur Barcia) (Os aguadeiros esperam sentados no seu barril, no "Chafariz do Carmo", aguardando a sua vez. Por altura do calor a água corria com menos quantidade nas bicas, os aguadeiros desesperavam e entravam em discussões. No séc. XIX quase ninguém tinha água canalizada nas suas casas, tomar banho era um verdadeiro luxo e saia demasiadamente caro. (Abre em tamanho grande)  in  AFML 
 Largo do Carmo (1959) - (Foto de Fernando Manuel de Jesus Matias (O "Chafariz do Carmo" terá sido construído segundo um projecto do Engº Genovês "Miguel Ângelo Blasco". Em cima é fechado pelas armas reais e coroa) in  AFML
 Largo do Carmo - (1960) Foto de Arnaldo Madureira ( O "Chafariz do Carmo" e alguns alunos da ex-escola "Veiga Beirão". Construção atribuída ao Engº Miguel Ângelo de Blasco" sendo a data da construção de 1769)  in AFML
Largo do Carmo - (2009) Foto de Aires dos Santos (O "Chafariz do Largo do Carmo" na altura dos jacarandás em floração) in TREKEARTH


(CONTINUAÇÃO) LARGO DO CARMO [ IV ]

«O CHAFARIZ DO CARMO»

O «CHAFARIZ DO CARMO» considerado um dos mais originais chafarizes de LISBOA, está localizado no LARGO DO CARMO (antigo TERREIRO DO CARMO do século XV), em frente às ruínas da "IGREJA DO CONVENTO DO CARMO".
Com o início das obras no LARGO DO CARMO em Outubro de 1769 deve ter coincidindo com as obras de construção de um chafariz em conjunto com o prolongamento do ramal, proveniente do AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES construído entre 1731 e 1748. Foram intervenientes os arquitectos Manuel da Maia, Custódio Vieira, João Frederico Ludovice e Carlos Mardel, tendo ainda desenvolvido grande trabalho o italiano "António Canavari".
As águas conduzidas pelas GALERIA DO LORETO que passavam pela RUA DA ESCOLA POLITÉCNICA e terminava no LARGO DE SÃO CARLOS, abastecia  entre outros chafarizes: o CHAFARIZ DO SÉCULO na (antiga Rua da Formosa) o CHAFARIZ DOCARMO  e ainda o CHAFARIZ DO LORETO, demolido entre 1853 e 1854.
Este CHAFARIZ DO CARMO terá sido construído conforme o projecto inicial do Engenheiro Genovês MIGUEL ÂNGELO BLASCO.
Depois de várias alterações efectuadas ao antigo chafariz durante vários anos, em 1786 REINALDO MANUEL DOS SANTOS terá eventualmente terminado um novo chafariz. Mas no século XIX são substituídos os tanques e em 12 de Junho de 1805 foram consertados os repuxos por onde passavam as águas para o CHAFARIZ DO CARMO.
Era o chafariz com o maior caudal de todos os que foram construídos no âmbito do AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES.
Em 17 de Junho de 1873, a Câmara deu posse de mais uma bica aos aguadeiros, ao que a população reagiu desfavoravelmente, tendo que fugir a polícia que pretendia proteger os aguadeiros.
A 5 de Outubro de 1875, com a enorme afluência de pessoas que residiam na zona envolvente e que levava a conflitos constantes com os aguadeiros, a CÂMARA DE LISBOA aprovou uma proposta prevendo a sua demolição, o que se não veio a realizar.
O CHAFARIZ DO CARMO de arquitectura infraestrutural, tardo-barroca, é um chafariz ligado à distribuição de água a LISBOA, pelasÁGUAS LIVRES, do tipo nicho, com o chafariz ao centro, constituído por uma coluna em forma de prisma, formando a caixa de água, com acesso por porta de verga recta, onde se enquadram quatro bicas circulares, que vertem para dois tanques contracurvados e de perfil galbado. O conjunto é encimado por um esquema escultórico, piramidal, a que se endossam quarteirões, ornados por golfinhos. A estrutura é protegida por um nicho composto por arcos de volta perfeita, assentes em pilares toscanos, rematados por pináculos piramidais, com cobertura em falsa cúpula coroada.
Este chafariz fabricado em cantaria de calcário lioz, implantado sobre  plataforma de planta circular com dois degraus, onde se ergue uma coluna em forma de prisma octogonal, formando a caixa de água, rematada em cornija e rasgada por uma porta de verga no lado SO., protegida por uma folha em metal pintado de verde. Sobre este, surge um pequeno pedestal octogonal e um segundo contracurvo, onde surge elemento piramidal irregular.
A cobrir o chafariz, surge uma estrutura em cantaria de calcário lioz, formada por quatro arcos, com o intradorso almofadado e o fecho marcado pelas armas reais e coroa fechada, assente em pilares toscanos, a que se adossam, exteriormente, quarteirões, com capitel dórico, sustentados por plintos de silharia fendida e rematados por pináculos piramidais. A estrutura é coberta por falsa cúpula por quatro nervuras e bocete central circular, com uma a rematar o exterior.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ V ] O CONVENTO E IGREJA DO CARMO(1)»

LARGO DO CARMO [ V ]

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 Largo do Carmo - (Século XIV) (Maqueta da "IGREJA DO CONVENTO DO CARMO" apresentada em 3D no "Museu da Cidade")  in MUSEU DA CIDADE
 Largo do Carmo - (Século XVIII Desenho aguarelado de Alberto de Souza) (Frade da "Ordem dos Carmelitas Descalços" ou simplesmente "Carmelitas Descalços", um ramo da "Ordem do Carmo") in ALFACINHAS-OS LISBOETAS DO PASSADO E DO PRESENTE
 Largo do Carmo - (1858) (Desenho de Francisco Augusto Nogueira da Silva e Gravura de João Maria Baptista Coelho Júnior) (Aspecto das ruínas da "IGREJA DO CARMO", vista do exterior) in  FESTAS DE LISBOA -1955
 Largo do Carmo (1959) Estúdios Mário Novais (Entrada principal para a "IGREJA DO CARMO", hoje Museu Arqueológico do Carmo) (Abre em tamanho grande)  in AFML
 Largo do Carmo - (1959) Foto de Armando Serôdio (ARCOBOTANTE ou Arco que une o Contraforte à parede na arquitectura gótica, na passagem entre o LARGO DO CARMO e o Elevador de Santa Justa, ou "TRAVESSA D. PEDRO MENEZES") in  AFML
Largo do Carmo - (2013) - (O antigo "CONVENTO DO CARMO" hoje alterado, alberga o Comando Geral da GNR, que em 1834 era a sede da "GUARDA MUNICIPAL")  in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO - LARGO DO CARMO [ V ]

«O CONVENTO E IGREJA DO CARMO ( 1 )»

O "CONVENTO E IGREJA DO CARMO"da"ORDEM DO CARMO" foi mandado edificar pelo "CONDESTÁVEL - D. NUNO ÁLVARES PEREIRA", e começou a ser construído em 1389, pouco depois de iniciada a construção do "MOSTEIRO DA BATALHA".
O conjunto do CONVENTO E IGREJA constitui um projecto dos maiores da arquitectura medieval portuguesa, e concilia princípios arquitectónicos de outros tempos monacais de ordens mendicantes com novidades experimentadas no estaleiro da BATALHA ao longo do primeiro quartel do século XV.
O lugar cimeiro escolhido teve grande significado para os FRADES CARMELITAS, como afirmou "Fr. JOSÉ PEREIRA DE SANTA ANA", na sua "Crónica dos Carmelitas - 1745 - Em memória do nossos primeiro e antigo Solar, que erigido na eminência do celebérrimo Carmelo da Palestina, deu a toda a ordem Carmelita o nome, e oprincípio". Mas tinha também significado especial para o CONDESTÁVEL, que abandonava a vida militar mas não a sua extraordinária ambição.
Segundo ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA, a escolha da ordem dos CARMELITAS, com muito pouca expressão, não terá apenas dependido de estes terem por padroeira "NOSSASENHORA", sendo grande a devoção do CONDESTÁVEL pela VIRGEM. Não se pode esquecer que NUNO ÁLVARES PEREIRA transferiu uma ordem que habitava um pequeno CONVENTO DE MOURA para um templo eminente da capital, cedendo-lhe ainda grande propriedade.
Assim pôde tomar, em contrapartida, a chefia da ordem renovada, instalada, como em desafio, num monte que afronta o do CASTELO, em cuja encosta estavam o "PAÇO REAL" e a SÉ. Por fim, a completar a conjugação simbólica, o CAMPO DO ROSSIO chamava-se então VALVERDE, o que decerto lembrava a NUNO ÁLVARES o triunfo da batalha do mesmo nome. O significado do lugar para D. NUNO confirma-se na teimosia com que insistiu na construção do CONVENTO ali mesmo, apesar de enormes dificuldades técnicas entretanto surgidas na consolidação da escarpa onde assentariam as fundações da cabeceira do Templo.
Os alicerces cederam por duas vezes, e FREI JOSÉ , na crónica citada diz que D. NUNO jurava fazê-los de bronze, caso voltassem a ruir. 
Tinham começado efectivamente os trabalhos pela CAPELA-MOR, na esperança que mais rapidamente, segundo se supõe, poder-se iniciar o culto: mas o terreno era falso, de «areias mortas», diz o P. PEREIRA DE SANTANA( 1 ) e as dificuldades da obra permaneceram, ocasionando desastres de que foram vítimas alguns trabalhadores.
Para a terceira tentativa foram encontrados os mestres mais famosos: AFONSO EANES; GONÇALO EANES e RODRIGO EANES. D. NUNO«tirou uma exacta informação acerca dos melhores oficiais de Canteiros que se achavam em LISBOA», diz FREI JOSÉ, tendo sido contratado os pedreiros LOURENÇO GONÇALVES; ESTEVÃO VASQUES;LOURENÇO AFONSO e JOÃO LOURENÇO. Este número de oficiais supõe o concurso de muita mão-de-obra, já que cada um traria certamente consigo a sua «campanha deserventes». Os servidores e amassadores de cal, tarefa especializada, foram os judeus "JUDAS ACARRON"e"BENJAMIM ZAGAS", formados numa tradição que deixaria marcas nos trabalhos do PAÇO DE OURÉM, igualmente implantado num declive e dotado de um pequeno jorramento na base, como acontece no forte embasamento do CONVENTO DO CARMO.
Igual aplicação foi usada nas naves colaterais da IGREJA DO CARMO. Oito anos levou o fabrico dos alicerces e do Cruzeiro.
Porém, consolidada essa parte da obra, surgiu novo problema estrutural, também motivado pela instabilidade dos terrenos:

( 1 ) - O falecido Engº FRANCISCO LUÍS PEREIRA DE SOUSA, no seu excelente trabalho, intitulado "EFEITOS DO TERRAMOTO DE 1755", publicado na "Revista de Obras Públicase Minas", (Tomo XI-1909), documenta fartamente a afirmação de que os terrenos em que assenta a IGREJA E MOSTEIRO DO CARMO, se compõem de "areolas da Avenida Estefânia", de pouca consistência desfazendo-se facilmente como se fosse areias (pág. 344,358.359 e 360).

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ VI ] O CONVENTO E IGREJA DO CARMO ( 2 )».

LARGO DO CARMO [ VI ]

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 Largo do Carmo - (2008) Foto de APS  (O "Convento do Carmo e Igreja" vista da "Praça D. Pedro IV" vulgo Rossio)  in  ARQUIVO/APS
 Largo do Carmo - (Século XIV) (Foto de 19.11.2010) (Maqueta da "Igreja e Convento do Carmo" ) inSÉTIMA COLINA
 Largo do Carmo - s/d Foto de Ferreira da Cunha(1901-1970) (Fachada das ruínas da "Igreja do Convento do Carmo" (Abre em tamanho grande) inAFML
 Largo do Carmo - (Provavelmente no início do século XX) Autor da fotografia não identificado (Fachada principal do "Convento e (ruínas) da Igreja do Carmo, Monumento Nacional desde 1910) (Abre em tamanho grande)  in AFML
Largo do Carmo - (2013) (Aspecto do antigo "Convento do Carmo" hoje quartel da GNR)  in  GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ VI ]

«O CONVENTO E IGREJA DO CARMO ( 2 )»

«Abriu o frontispício por entre o pórtico e o cunhal da porta do Sul». A solução para o problema passava pela aquisição dos terrenos  a Sul do CONVENTO para nova intervenção de engenharia.
Pertenciam os terrenos ao cunhado de "D NUNO", o"ALMIRANTE PESSANHA", cuja aquisição está datada de 1399, data em que, portanto, as paredes do templo e a frontaria estavam já construídas. Dos cinco arcobotantes ou botaréus então acrescentados, visíveis nas gravuras antigas, um ainda é facilmente reconhecível, talvez reconstruído, junto à passagem que nos conduz ao vizinho "ELEVADOR DE SANTA JUSTA", pela "TRAVESSADOM PEDRO DE MENESES".
Entretanto a direcção da obra terá mudado, após a conclusão das fundações, para ser entregue a consolidação e alçada das naves e da fachada a nova orientação. 
A este Mestre se deve a assinatura da "PORTA SUL"ou PORTA TRAVESSO"da IGREJA, bem como a razoável opção de cobrir as naves colaterais em berço quebrado de tijoleira, mais leve e diminuidora das tensões mecânicas nas fachadas laterais da IGREJA. Apenas a BATALHA e o CARMO exibem a estrutura complexa de cinco capelas de panos poligonais no topo, uma evolução do modelo das mais importantes igrejas de GÓTICO MENDICANTE do Centro e do Sul do país, como SANTARÉM ou ELVAS.
O CARMO conjuga o aperfeiçoamento da BATALHA - a solução da planta poligonal - com a tradição monástica das capelas escalonadas.
D. NUNO tomou no Templo o nome de FREI NUNO DE SANTA MARIA. Data de 1404 a primeira doação patrimonial que fez ao CONVENTO, e de 1423 a doação do CONVENTO à ORDEM DO CARMO.
D. DUARTE e depois D. AFONSO V tomaram sob sua protecção o CONVENTO. A IGREJADO CARMO passou a ser a maior da cidade. Após o Terramoto de 1755 ruiu grande parte da IGREJA, tendo junto à derrocada um incêndio que ajudou a fazer desaparecer a maior parte do património artístico, no qual se encontrava o cadeiral da capela-mor, obra de DIOGO DE GARÇA. O CONVENTO manteve-se de pé e habitável.
Após sucessivos esforços de restauro, nunca concluído, o templo chegou a ser vazadouro público, e por tanto tempo foi esquecido, que a descoberta da verdadeira base das colunas da nave central, aquando da limpeza da lixeira, constituiu grande surpresa.
A nave central e as duas laterais do corpo da IGREJA, hoje a céu aberto, deixam o visitante imaginar a sua cobertura, lembrada a descrição de FREI JOSÉ: " No alto dos barretes da abóbada. há uns remates de pedra, nos quais se distinguem lavradas as imagens, que o SANTO CONDESTÁVEL trazia na sua bandeira, que depois foram elaboradas em relevo no seu túmulo. Só ao barrete maior (que he o do Cruzeiro) serve de remate um escudo de armas com a cruz floretada do ilustre fundador". As abóbadas saiam, portanto, em cruzaria de ogivas, com fechos decorados a rematá-las. A cobertura seria simples - a avaliar por sinais persistentes nas naves laterais - em berço quebrado, com arcos torais apoiados em mísulas chanfradas. O tecto das capelas da cabeceira da IGREJA não fugia à norma também praticada nas capelas absidais de Templos como os de SANTA CLARA de SANTARÉM ou BATALHA.
No exterior, são a marca do edifício a cabeceira e a fachada, as partes mais bem conservadas. Um terço da altura da cabeceira, cujo arrojo pode ser admirado do ROSSIO, faz parte do (embasamento com jorramento), a solução de engenharia que permitiu reter as terras e garantir a solidez do alçado.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ VIII ]O CONVENTO E IGREJA DO CARMO (3)» 

LARGO DO CARMO [ VII ]

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 Largo do Carmo - (Finais do séc.XIX)Gravador J. Novais (As ruínas da IGREJA DO CONVENTO DO CARMO" e a passagem para o futuro elevador, com o seu gradeamento)  in LISBOA de Alfredo Mesquita
 Largo do Carmo - (1959) Foto dos Estúdios de Mário Novais ( A Abside da "IGREJA DO CONVENTO DO CARMO" vista do lado Nascente) (Abre em tamanho grande) in  AFML
 Largo do Carmo - (1960) Foto de Armando Serôdio (Panorama da "IGREJA DO CONVENTO DO CARMO", visto do lado Nascente) (Abre em tamanho grande) inAFML
 Largo do Carmo - (2006) Foto de Georges Jansonne ("Igreja e Convento do Carmo" visto de Nascente) inWIKIPÉDIA
Largo do Carmo - (2013) (O actual aspecto do antigo "Convento do Carmo" hoje quartel da GNR, e uma parte do "Largo do Carmo")  in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ VII ]

«O CONVENTO E A IGREJA DO CARMO (3)»

O traçado da Capela-mor é um pouco compacto para modelo gótico, com panos de parede pouco rasgados,  que deverá ter sido devido às preocupações com a estabilidade do conjunto. A fachada principal chegou a ser modificada antes do terramoto, mas não deixa de manter muita da feição original. Possuía ao centro um coroamento de empena triangular; hoje fica pelo começo da moldura da rosácea.
Datam de 1523 as lápides visíveis no corpo saliente do portal, altura em que se fizeram algumas modificações na fachada.
A composição do portal, de perfil tardo-gótico, lembra a do portal axial da BATALHA. Da iconografia gótica do interior, uma mísula figurativa subsiste, na base dos arcos primitivos, logo à entrada, junto à parede ocidental: dois anjos, esguios, de excelente recorte.

A parte habitada do CONVENTO DO CARMO, foi convertida em instalações militares, zona ocupada inicialmente para se tornar no QUARTEL DA GUARDA MUNICIPAL em 1834. Passado anos foi neste mesmo lugar instalada a Sede do COMANDO DA GNR. Foi ainda no QUARTEL DO CARMO que o Presidente do Concelho de Estado, Dr. MARCELOCAETANO, se refugiou dos militares revoltosos, durante a Revolução de 25 de Abril de 1974. Neste CONVENTO DO CARMO foi apresentada a capitulação do Governo, então chamado de "ESTADO NOVO". Durante a rendição o QUARTEL DO CARMO esteve cercado por populares, e militares sob o comando do Capitão "SALGUEIRO MAIA" (1944-1992).

Falando ainda da sua arquitectura, apenas a sacristia, que mantém a abóbada de cruzaria de ogiva e os dois janelões góticos, terá sido edificada na primeira campanha de obras. As outras divisões são de datas posteriores, como o confirmam algumas aduelas ornamentadas e um portal quinhentista de pedraria, de arco abatido e de decoração complexa, que mostra motivos vegetalistas e cabeças aladas de querubim.

Confiando mais uma vez no testemunho de FREI JOSÉ, deviam seguir-se para oriente desta IGREJA as seguintes secções do CONVENTO: a Sacristia, de planta regular; o seu acrescento seiscentista; o CAPÍTULO DOS BISPOS, (espaço hoje devoluto), a pequena capela, desaparecida; o CAPÍTULO NOVO, cuja entrada era o portal referido; o refeitório e, correndo sobre estas divisões, o dormitório. O Claustro é já do século XVII, em estilo característico, de arcos e pilastras de modelo toscano muito simplificado. A frontaria antiga do CONVENTO desapareceu. Pode ser vista numa gravura de "GUILHERME DEBRIE" incluída na edição de 1745 na crónica de FREI JOSÉ, que mostra a porta de recorte tardo-renascentista, com uma pedra de armas sobre a verga recta. Após o terramoto de 1755, tornado necessário o restauro, principalmente na IGREJA, o resultado das obras foi mais o de uma imitação superficial do gótico do que uma verdadeira restituição, apesar de certamente ter ficado utilizável uma parte do material derrubado.
A cobertura da CAPELA-MOR, as colunas da IGREJA, o revestimento interno dos muros, os arcos divisórios, as capelas "à face" das arcadas cegas das paredes laterais e outros pormenores são obras setecentistas, em cuja inspiração gótica é possível ir assinalando prevaricações barrocas.

Na IGREJA está hoje instalado o MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO, da ASSOCIAÇÃO DOS ARQUEÓLOGOS PORTUGUESES. O Arqº SIZA VIEIRA, principal responsável da renovação do CHIADO, posterior ao incêndio de 1988, decidiu ligar o topo da RUA DO CARMOàs traseiras dos prédios do lado poente, através de uma escada interior aberta numa das fachadas. O novo pátio teria, em consequência, ligação natural ao portal SUL da IGREJA DO CARMO, pelo que foi projectada uma série de compensações de desníveis que impedia esse acesso. Curiosamente, no decurso do debate público do projecto, alguém revelou ao arquitecto a existência de uma gravura anterior ao Terramoto que representa uma escadaria exactamente entre os dois pontos, afinal reencontrados.

Assim, o CONVENTO DO CARMO E SUA IGREJA, que foi de "CARMELITASDESCALÇAS", era um primor de arquitectura gótica, e poucos monumentos existirão no seu género que se lhe aproximem em obra de arte e riqueza material.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ VIII ] O PALÁCIO VALADARES (1)»

LARGO DO CARMO [ VIII ]

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 Largo do Carmo - (1960) Foto de Arnaldo Madureira ("Palácio Valadares" no "Largo do Carmo" antiga "Escola Veiga Beirão")  in AFML
 Largo do Carmo - (Anos 30 do século XX) Foto de Autor não identificado (A Escola Maria Amália Vaz de Carvalho" passou também por este palácio nos anos trinta do século passado) inESCOLA SECUNDÁRIA MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO 
 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale (O "Palácio Valadares" no "Sítio da Pedreira", um pouco mais para Norte, podemos ver parte da Igreja do Carmo)  in SIPA
 Largo do Carmo - (2013) -(O "Palácio Valadares" antigo "Palácio dos Pessanhas" com a junta de freguesia do Sacramento, já na "Calçada do Sacramento")  in  NCREP
Largo do Carmo - (2013) - ( O "Palácio Valadares" antigo espaço do "Club Lisbonense" ou "Club do Carmo" em 1835 visto do "LARGO DO CARMO") in   GOOGLE EARTH 

(CONTINUAÇÃO)- LARGO DO CARMO [ VIII ]

«O PALÁCIO VALADARES ( 1 )»

Ao que consta, foi o primeiro rei de português dado a coisas de cultura, "D. DINIS" de seu nome, quem primeiro deitou os olhos para aquele seu património. E não o fez por questões de pouca monta: uma lápide existente na antigo ESCOLA VEIGA BEIRÃO recorda a data memorável para LISBOA e para o País: "No sítio deste Palácio existiu a primeira casa da UNIVERSIDADE DE LISBOA criada pelo rei D. DINIS, por carta de 1 de Março de 1290, com o nome de ESTUDO GERAL(...)".
(Abra-se aqui um parêntesis breve, apenas para recordar, quanto são distraídos estes bons patrícios alfacinhas, quando em 1990 passou o centenário da criação da UNIVERSIDADE, os nossos irmãos de COIMBRA - com os quais temos inegáveis boas relações - assenhorearam-se em exclusivo da efeméride. Existiu cerimonial e a pompa devida para assinalar a data como se tudo tivesse nascido logo na cidade do MONDEGO e não tivessem sido as insónias do nosso excelso e piedoso D. JOÃO III, com a reforma da UNIVERSIDADE em 1537, a deslocou para COIMBRA. Nem uma palavra oficial apareceu a recordar que o ESTUDO GERAL fazia 700 anos de facto, mas com os anos decorridos sobre a sua fundação em LISBOA).
Certo é que não foi longa a permanência dos estudantes Universitários no sítio da PEDREIRA, e no local que viria a ser o CARMO (1 ).
O mesmo D. DINIS começou por ceder aquelas suas casas, uma vez desocupadas em 1302, a uma família JUDIA de apelido NAVARRO, notáveis pelos seus dotes em leis. 
Tal circunstância motivou NORBERTO DE ARAÚJO, que se supusesse ter ali existido um bairro de Judeus.
O mesmo Rei "LAVRADOR" quis depois reformar a MARINHA PORTUGUESA, mandou vir de GÉNOVA o navegador MANUEL PESSAGNO (que aportuguesado passou a ser chamado de PESSANHA). À posse deste marinheiro foram parar as casas e as terras que iam do CONVENTO DA TRINDADE até ao CHIADO de hoje, abrangendo portanto o que foi a ESCOLA VEIGA BEIRÃO, duradouramente conhecido por PALÁCIO VALADARES.
Quer isto dizer que toda aquela parcela da cidade que vem desde a MISERICÓRDIA, até à RUA GARRETT dos nossos dias só tinha, em finais do século XIV, dois proprietários: os FRADES DO CONVENTO DA TRINDADE e a família PESSANHA.
Mas voltemos ao Palácio dos PESSANHAS que passou a posse do edifício aos seus descendentes, pelo que, a dada altura, eram proprietários os CONDES DE VIANA.
Em meados do século XVII, quem punha e dispunha no local, ainda por razões de descendência, eram já os MENESES,  Marqueses de VILA REAL. O pior é que esta família foi conotada com uma conspiração contra D. JOÃO IV.
Assim, D. LUÍS DE NORONHA E MENESES(1589-1641) foi o 9º CONDE DE VILA REAL e 6º MARQUÊS DE ALCOUTIM  e 7º CONDE DE VALENÇA, filho secundogénito dos 1ªs. DUQUES e irmão do anterior. Foi 9º Capitão-General de Ceuta, senhor de todas as vilas e vínculos da sua casa, Alcaide-mor, de LEIRIA, membro do Conselho de Estado de D. FILIPE III e de D.JOÃO IV. Com o título de MARQUÊS, herdou também o lugar de Conselheiro de Estado, em que o confirmou D.JOÃO IV, quando subiu ao trono em 1640.
Não se julgou o MARQUÊS suficientemente contemplado e andava descontente com o Governo que saíra da RESTAURAÇÃO e com a aclamação de D.JOÃO IV. O Arcebispo de BRAGA D. SEBASTIÃO MATOS DE NORONHA, também filiado no grupo dos descontentes, aliciou-o para uma conspiração contra D.JOÃO IV, que, se tivesse êxito, lhe obteria o valimento e fartas honras junto do Rei de Espanha.
O MARQUÊS tentou aliciar o Duque de CAMINHA, seu filho, que não acedeu a tomar parte na conspiração, mas guardou segredo dela, o que foi motivo para ser igualmente incriminado.
A conspiração foi descoberta e o MARQUÊS foi preso a 28 de Junho de 1641 nas escadas do PAÇO DA RIBEIRA
Condenado à morte com outros conjurados - entre os quais seu filho - foi executado no ROSSIO, e todos os seus bens foram confiscados para a COROA. Esta, porém, não se mostrou avara e doou o conjunto a um fidalgo de nome D. ÁLVARO ABRANTES DA CÂMARA.
( 1 ) - Diz-nos GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA em"O CARMO E A TRINDADE" Volume I- 2ª Ed. 1939, referente ao ESTUDO GERAL o seguinte: " O que é certo - sem hipóteses - é que em 1302 o ESTUDO GERAL já não estava na PEDREIRA".

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ IX ] O PALÁCIO VALADARES ( 2 )»

LARGO DO CARMO [ IX ]

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 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale (Fachada principal e portal do "PALÁCIO VALADARES". Nesta local foi instalada a primeira Casa da "UNIVERSIDADE DE LISBOA" com o nome de "ESTUDO GERAL" nos finais do século XIII" in SIPA 
 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale  (Fachada principal Oeste do "PALÁCIO VALADARES" na "Calçada do Sacramento"in SIPA
 Largo do Carmo - (2013) - Fachada do "PALÁCIO VALADARES" já dentro da "Calçada do Sacramento")  in GOOGLE EARTH
Largo do Carmo - (2013) - (O "PALÁCIO VALADARES" entrada principal vista da "Calçada do Sacramento")  in  GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ IX ]

«O PALÁCIO VALADARES ( 2 )»

"D. ÁLVARO ABRANCHES DA CÂMARA" este nobre tinha-se mostrado valente e patriota durante a conspiração de 1640. Na verdade, rezam as crónicas que foi ele quem fez desfraldar a bandeira portuguesa no CASTELO DE SÃO JORGE em 1 de Dezembro daquele ano, mostrando com esse gesto que LISBOA estava firmemente ao lado do Monarca Português.
E só agora vamos chegar aos VALADARES que deram nome ao PALÁCIO: a única filha de "D. ÁLVARO A. CÂMARA, "DONA MADALENA MARIA LANCASTRE" nasceu em a 29.01.1630 e veio a casar-se, a 29.01.1654 com o primeiro CONDE DE VALADARES - D. MIGUEL LUÍS DE MENESES, que veio a falecer em 01.11.1714.
Por este nome de PALÁCIO DE VALADARES não será tão fácil alguns alfacinhas que o identifiquem. Mas se aos mais idosos se falar no LICEU DO CARMO e aos que já atingiram um pouco mais que a meia idade  se nomear a ESCOLA VEIGA BEIRÃO já muita  gente sabe onde fica.
O PALÁCIO VALADARES na antiga"PEDREIRA" foi objecto de várias obras de profundo restauro, foi sendo alvo ao longo dos séculos não se conseguindo achar notícia, não sendo de espantar no entanto que algumas fossem de grande volume. Sabe-se, porém, que o grande sismo de 1755 o destruiu praticamente por completo, tal como fez aos edifícios vizinhos entre os quais, como tem sido frequentemente repetido nestes últimos escritos, uma boa parte do CONVENTO DO CARMO, e arruinada a sua Igreja.
Os VALADARES não desistiram, contudo, do seu Palácio. Tinham aliás já raízes no local, sendo nomeadamente juízes perpétuos da Irmandade do Santíssimo da freguesia ao antigo SACRAMENTO
O quinto CONDE D. ÁLVARO DE NORONHA CASTELO BRANCO, decidiu reconstruir o edifício. As medições de terrenos e a marcação de limites deram azo a uma demanda entre o CONDE e os FRADES CARMELITAS. Mas vencida a querela, a casa foi reerguida e D. JOSÉ LUÍZ E MENESES ABRANTES CASTELO BRANCO - 6º CONDE VALADARES, que alguns anos andou pelo BRASIL ao serviço de PORTUGAL, regressou e em 1785 ainda foi a MADRID como Ministro plenipotenciário, foi GENTIL-HOMEM da CÂMARA DA RAINHA D. MARIA I, veio a morrer em 1792 já instalado no que fora o solar dos seus antepassados.
Má sina parecia acompanhar a casa: em Fevereiro de 1798 sofreu um Incêndio, já no tempo de D. ÁLVARO ANTÓNIO, Sétimo CONDE DE VALADARES, tendo ardido por completo, nada restando sequer do seu rico interior. Ainda desta vez não houve desistência: o PALÁCIO voltou a ser reerguido, embora os VALADARES não tivessem voltado a residir naquele local; talvez impressionados com o azar, mudaram-se para o outro PALÁCIO no sítio do CAMPO DE SANTANA, onde já residiam em 1803 ou 1804.

Na sua descrição a configuração do PALÁCIO VALADARES apresenta uma planta em " U "composta pela articulação de corpos de planta rectangular em redor de um pátio também rectangular, sendo a cobertura constituída por telhado diferenciado de duas e três águas. Com pano de muro em reboco pintado e punhais em cantaria.
O alçado principal a (SO), de três pisos, dos quais se demarca o embasamento, com revestimento em placagem de cantaria e de pé-direito crescente no sentido (NO-SE), dado o declive do terreno em que se encontra implantado, já na CALÇADA DO SACRAMENTO.
A fachada de dois corpos separados por pilastras de cantaria, no corpo principal a (NO), o portal nobre, de verga curta articulado lateralmente com molduramento de cantaria em chanfro e mourões e superiormente, com janelas de sacada de bandeira curva sobrepujada por ática animada pela pedra de armas dos CONDES DE VALADARES, servida por varanda de grande contracurvada em ferro forjado. 
O edifício é construído por paredes de alvenaria de pedra e de frontal, pavimentos em abóbada de tijolo e madeira, e cobertura em madeira. Apresentando um estado de conservação e a pouca adequabilidade das soluções existentes no que diz respeito à resistência sísmica do edifício, e os condicionalismos arquitectónicos, teve recentemente uma intervenção de substituição das coberturas, que consistiu em asnas de madeira lamelada colada, com elementos estruturais ligados através de chapas, parafusos e pinos metálicos embutidos.
O trabalho foi desenvolvido pelo INSTITUTO DA CONSTRUÇÃO DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO (através do então NCREP-NÚCLEO DE CONSERVAÇÃO E REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS E PATRIMÓNIO) (hoje - NCREP-CONSULTORIA EM REABILITAÇÃO DO EQUIPAMENTO E PATRIMÓNIO, LDA.).

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ X ]- O PALÁCIO VALADARES (3)»

LARGO DO CARMO [ X ]

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 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale  (Fachada lateral esquerda (NO) do "PALÁCIO VALADARES" no LARGO DO CARMO)  in  SIPA
 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale  ( Vista geral da fachada posterior do PALÁCIO VALADARES) in  SIPA 
 Largo do Carmo - (2013) (Aspecto de uma sala do PALÁCIO VALADARES, depois da última intervenção de obras, no antigo "CLUBE DO CARMO de 1835")  in  NCREP
Largo do Carmo - (2013) - (Foto da última intervenção na cobertura  no PALÁCIO VALADARES, antiga ESCOLA SECUNDÁRIA VEIGA BEIRÃO, no LARGO DO CARMO)  in NCREP

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ X ]

«O PALÁCIO VALADARES ( 3 )»

No PALÁCIO VALADARES numa parte do edifício instala-se uma fábrica de arame cujo proprietário é  JERÓNIMO PEREIRA DE LOUREIRO, aí permaneceu até 1817. No ano de 1819 o PALÁCIOé arrendado pelo seu proprietário a um grupo de clubistas, denominado "ASSEMBLEIA PORTUGUESA", que efectuaram obras de adaptação com vista à utilização de parte do edifício para festas e bailes. Em 28 de Dezembro de 1819 realiza-se o 1º baile do clube. A 13 de Maio de 1820, anos de D. JOÃO VI, realizou-se uma sessão de música clássica e dança e uma maravilhosa ceia ( 1 ).
A 20 de Janeiro de 1822 é dada uma festa neste clube, instalado no antigo PALÁCIO VALADARES que contou com a presença do rei D. JOÃO VI e dos infantes D. ISABELMARIA, D. MIGUEL e D. SEBASTIÃO.
Em 28 de Novembro de 1826 estiveram presentes 400 convidados neste baile - entre os mais destacados - os oficiais ingleses BERESFORD e CASTELLANE. Três anos depois a ASSEMBLEIA PORTUGUESA muda-se para o PALÁCIO do "MANTEIGUEIRO" ali na RUA DA HORTA SECA ao CAMÕES, onde permaneceu até 1832. 
Em 1835 foi criada e instalada neste edifício do PALÁCIO o"CLUB LISBONENSE" também chamado pelo "CLUBE DO CARMO", realizando-se para o efeito nova campanha de obras.
No período de 1836 a 1850 residiram na sobreloja do PALÁCIO os primeiros CONDES DE PARATY (irmão e cunhado do 1º MARQUÊS DE TORRES NOVAS). De 1838 a 1842 celebraram-se neste Palácio boas festas com grande sucesso, como atestam as memórias do MARQUÊS DE FRONTEIRA, que era um dos Directores do"CLUB LISBONENSE".
No início de 1850 instala-se na sobreloja do Palácio um COLÉGIO FEMININO, do qual era directora D. EUSÉBIA GERTRUDES GUIMARÃES, aí permaneceu até 1869.
Em 1870 instala-se também na sobreloja o COLÉGIO DE NOSSA SENHORA DO CARMO, que no ano seguinte passa a designar-se COLÉGIO MILHEIRO, sendo directora JOHANE STEPHAN. No ano de 1974 o colégio passa a chamar-se COLÉGIO ALEMÃO e permanece naquela parte do PALÁCIO até 1882.
Ainda no ano de 1880 extingue-se o CLUB LISBONENSE e o andar nobre do PALÁCIOé arrendado em 1881 à DIRECÇÃO GERAL DOS CORREIOS, TELÉGRAFOS e FARÓIS, que permaneceram neste local durante seis anos. Em 1888 todo o edifício é arrendado a JOÃO PEDRO TAVARES TRIGUEIROS (Director da COMPANHIA DOS CAMINHOS DE FERRO DO SUL E SUESTE) por quatro anos.
No início de 1892 funciona no antigo PALÁCIO VALADARES o LICEU NACIONAL (que tinha vindo do PALÁCIO DA REGALEIRA, a S. DOMINGOS), que passa a ser conhecido como LICEU DO CARMO, que depois de ter sido um liceu feminino, passou a chamar-se de ALMEIDA GARRETT, nome que se conservou até 1926.
Nesse ano, pensou-se que uma escola feminina devia ter o nome de uma mulher, tendo sido escolhida para "padrona" a escritora MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO. (Era tempo, porém, de nascer outro edifício de raiz, e num terreno da RUA RODRIGO DA FONSECA nasceu em 1932, aquela que seria durante longos anos, o mais conhecido liceu feminino da Capital, nascido no CARMO).
No ano de 1906 os descendentes do 9º CONDE DE VALADARES e da 4ª MARQUESA DE VAGOS (que tinham, pelo casamento, reunido as duas casas), efectuaram partilhas de bens, entre os quais se conta o PALÁCIO, que vai à praça, sendo adquirido por 41.300$00, pelo negociante BALTASAR RODRIGUES CASTANHEIRA (a carta de arrematação data de 10.01.1907).
Em Outubro de 1941 instala-se no imóvel a ESCOLA COMERCIAL VEIGA BEIRÃO
No início de 1950 o edifício era pertença dos três netos de BALTASAR R. CASTANHEIRA, Pedro, Rafael e Carlos Castanheira Viana, encontrava-se então maioritariamente ocupado pela ESCOLA VEIGA BEIRÃO, enquanto que numa das sobrelojas se instalara a JUNTA DE FREGUESIA DO SACRAMENTO e nas restantes lojas e sobrelojas alguns estabelecimentos comerciais.
Este PALÁCIO VALADARES que em meados do século XIX foi sede da ASSEMBLEIA PORTUGUESA, seguiu-se o CLUB LISBONENSE que se manteve longas décadas. Na última década do século XIX funcionou o LICEU NACIONAL que passou a ser conhecido como LICEU DO CARMO, que depois passou a chamar-se ALMEIDA GARRETT até 1926.
Chamou-se MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO até aproximadamente ao ano de 1932, seguiu-se a ESCOLA COMERCIAL VEIGA BEIRÃO e a última a ocupar este antigo palácio foi a ESCOLA E.B. 2. 3, FERNÃO LOPES, que em 2004 passou para a RUA DAS CHAGAS, 28.

( 1 ) - Gazeta de LISBOA, de 16 de Maio de 1820.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XI ]-A CAPELA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO(1)»

LARGO DO CARMO [ XI ]

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 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale ( Fachada principal da "Igreja da Ordem Terceira do Carmo" voltada para o "Largo do Carmo") in SIPA
 Largo do Carmo (195_) Foto de António Castelo Branco  (Fachada da "Igreja da Ordem Terceira do Carmo)  in AFML
 Largo do Carmo (194_) Foto de Ferreira da Cunha  (Procissão do Triunfo ou dos Santos Nus da Ordem Terceira do Carmo)  in AFML
 Largo do Carmo - (1944) Foto de J. C. Alvarez  (Fachada da "Igreja da Ordem Terceira do Carmo" no "Largo do Carmo")  in  AFML
Largo do Carmo - (1907) Foto de autor não identificado ("Procissão do Triunfo ou dos Santos Nus" saindo da "IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO") in  AFML

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ XI ]

«A CAPELA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO (1)»

A face Norte do "LARGO DO CARMO"é formada por um prédio tipo pombalino onde está instalada desde 1780, a "VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO CARMO", entre a"RUA DA OLIVEIRA AO CARMO" (Antiga RUA DO OLIVAL) e a "RUA DA CONDESSA"(da Vidigueira).
O prédio está ornado na fachada, ao alto, por um motivo de carácter religioso sobrepujado de cruz. Veio substituir o local do PALÁCIO DOS TEIVAS, dos ELVAS e dos COUTINHOS destruídos pelo terramoto de 1755 ( 1 ).
Os herdeiros destes fidalgos, senhores sucessivos da propriedade, eram, ao tempo do sismo, RUI DA SILVA COUTINHO e AIRES ANTÓNIO DA SILVA. O primeiro, e o segundo como seus imediatos sucessores (eram irmãos) doaram, por escritura de 18 de Dezembro de 1763 e de 3 de Janeiro de 1764, feitas perante o tabelião INÁCIO MATIAS DE MELO,à VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA e ao HOSPITAL DO CARMO, os chãos e ruínas do seu palácio que constituíam um prazo foreiro ao Mosteiro do CONDESTÁVEL, em 100 réis cada ano. Feita a doação, a propriedade foi oficialmente adjudicada à ORDEM, em 27 de Janeiro de 1771, livre de encargo do foro, por Decreto de 6 de Março de 1769, a 1$00 o palmo de frente com o fundo respectivo ( o que tudo importou em 720.000 réis, conforme a verba exarada no TOMBO DA CIDADE e entregue em 9 de Dezembro de 1774.
É de estranhar que tendo a ORDEM recebido por doação tais chãos e ruínas, tivesse de os adjudicar à razão de 1.000 réis o metro. A explicação está em que os herdeiros dos doadores, não concordaram com a doação, tinham movido uma demanda à Mesa DAORDEM TERCEIRA, com o fundamento de que os chãos eram bens de morgadio ( 2 )
A ORDEM para não protelar a construção do novo hospital resolvera comprá-los, conseguindo tal autorização pela CARTA de 25 de Outubro de 1774, tomando posse do terreno e ruínas em 31 de Janeiro do ano seguinte. Era então Prior o VISCONDE DE PONTE DE LIMA.
Os caboucos abriram-se e a obra começou ( 3 ).
Os TERCEIROS DO CARMO tinham pois desistido definitivamente de reerguer o HOSPITAL no antigo local, apesar de terem tomado posse (em 5 de Janeiro de 1768) dos terrenos da RUA DAS ESCADINHAS DO CARMO, RUA NOVA DO CARMO, RUA DE VALVERDE, RUA NOVA DO ESPÍRITO SANTO e RUAS do MESTRE GONÇALO, dos SAPATEIROS e das ORTAS que correspondiam, no novo traçado, ao antigo assento do edifício, por quatro sentenças cíveis de adjudicação, julgadas pelo Desembargador MANUELJOSÉ GAMA( 4 ).
Ficara encarregado de todo este expediente legal de escrituras, adjudicações e obras o Procurador da Mesa LUÍS JOAQUIM FERNANDES, e diligentemente conseguiu que o soberano consentisse que todo o entulho do terreno dos "SILVAS COUTINHOS" e a construção de um muro de suporte do lado da RUA DA OLIVEIRA, se fizesse à custa do ESTADO. 
Por autorização, dada em 6 de Fevereiro de 1776 pelo PATRIARCA, o CARDEAL DACUNHA, e pela "sentença" do Desembargador JERÓNIMO DE LEMOS MONTEIRO, de 17 de Agosto de 1775, fez-se desistência dos outros chãos na ribanceira do CARMO para VALVERDE que tinham sido adjudicados em 1768 recebendo a ORDEM alguma quantia.
Em 21 de Junho de 1775 tinham sido lançados os fundamentos para o novo edifício. Festa solene. Mas dinheiro para a obra não existia. No cofre só estavam 2.693$775 réis já desfalcados com a compra dos chãos, e tivera. de recorrer a peditórios.
Fizeram-se cartas rogatórias a todas as ORDENS TERCEIRAS DO CARMO espalhadas pelo país, em 13 de Setembro de 1775, distribuíram-se "BOLSAS DE PEDIR" aos irmãos, e até se obteve dos operários da obra e dos fornecedores de materiais, algumas reduções nos salários e preços. Mas apesar de todos os esforços, chegava-se a Março de 1779 tinha-se gasto tudo o que se apurara - oito contos de réis - e já existia mais de cinco emprestados à ORDEM, e a dívida de mais dois à Dízima do PAÇO DA MADEIRA. O Terceiro MANUEL SIMÕES que falecera em 16 de Outubro de 1780 deixara 300$000 réis para as obras do HOSPITAL e para serem logo utilizados, foram gastos na erecção da CAPELA DA ORDEM, fiando na Virgem do CARMO as esperanças da possibilidade da continuação da obra. A Mesa aprovou-a, o procurador do Carmo entendeu-se com o arquitecto MANUEL CAETANO DE SOUSA, autor do risco, e das obras da CAPELA começaram em 29 de Outubro desse ano.

 ( 1 ) - Em 1844 eram representantes destes fidalgos, a quem chamaram "OS CAINS", ANTÓNIO DE SOUSA COUTINHO MENDES PINTO e ELVAS. Uma herdade de que ele era senhorio directo, no termo da Azambuja, chamava-se, ainda, "COHORTE DO CAHIM"(anúncio do Diário do Governo de 22 de Julho de 1844).
( 2 ) - Códice 92 do Arquivo da Ordem Terceira do Carmo, intitulado "LIVRO DA RECEITA E DESPESA GERAL NA REEDIFICAÇÃO DO HOSPITAL DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO DE LISBOA - ano de 1784, pág. 406-v.
( 3 ) - Idem, idem.
( 4 ) - Idem idem.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XII ] A CAPELA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO (2)»  

LARGO DO CARMO [ XII ]

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 Largo do Carmo - (1907-03) Foto de Joshua Benoliel (Procissão do Triunfo ou dos Santos Nus saindo da IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO) (Abre em tamanho grande)  in AFML 
 Largo do Carmo - (1948) Foto de Eduardo Portugal (IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO fachada) (Abre em tamanho grande) in AFML 
 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale (Interior, patamar superior da escada central da IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO no LARGO DO CARMO)  in SIPA
 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale (Interior da Capela, "Retábulo" da ORDEM TERCEIRA DO CARMO no LARGO DO CARMO in SIPA
Largo do Carmo - (2013)  - ( Parte do Edifício da IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO, com esquina para a RUA DA CONDESSA)  in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ XII ]

«A CAPELA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO (2)»

Em 1782 só faltava dourar e pintar o retábulo. Nova paragem até Março de 1784 em 1785 continuaram os trabalhos. Em 15 de Fevereiro de 1789, concluída a obra, p Prior, que era então o CONDE DE LUMIARES, determinou que para o novo templo fosse conduzida, processionalmente, a imagem da VIRGEM DO CARMO e se pusesse sobre o altar-mor, tendo a Rainha D. MARIA I aprovado a ideia. No dia seguinte foi benzida a Capela, pelo Prior do SACRAMENTO, mais tarde em 23 de Agosto de 1793 realizou-se no Templo a primeira grande festa, vésperas solenes, e missa cantada de festa a Nª.SENHORA DO CARMO.
No ano de 1796 existiu outro género de espectáculo na sede da ORDEM TERCEIRA. Realizou-se um leilão e venderam nos primeiros dias de Junho os bens móveis, peças de prata, diamantes, etc., que tinham sido legados por uma benfeitora - D. MARIA INÁCIA DEMACEDO E SILVA - embora a Ordem tenha ficado por testamenteira da  legatária ( 1 ).
Como a situação financeira não fosse próspera, os IRMÃOS TERCEIROS DO CARMO tiveram de viver num constante peditório, e o recheio da sua capela, paramentos, quadros, imagens e outros objectos de culto, foi tudo obtido por rogatórias. Em 15 de Janeiro de 1835 recebeu, consoante a letra do Decreto de 30 de Maio de 1834, do desmanche de feira que foi a extinção das casas religiosas, cálices paramentos, repertórios, turíbulos, castiçais, missais, livros do coro, capitulários e um púlpito portátil ( 2 ).
A 5 de Dezembro de 1835 foi solicitado à Rainha, pela Secretaria de Fazenda, a troco de juros, alguns paramentos e ainda em 1836 foi igualmente pedido à Rainha os paramentos do extinto "Hospício da Terra Santa" que estavam depositados no GOVERNO CIVIL ( 3 ).

A PROCISSÃO DO TRIUNFO que a ORDEM promovia, e que um dos espectáculos festivos de LISBOA no tempo da Monarquia, levava-a todos os anos a pedir à CÂMARA a limpeza e desimpedimento das ruas do percurso, tal qual fazia a IRMANDADE DOS PASSOS DA GRAÇA nas vésperas da sua procissão.
Os lisboetas estimavam esse dia em que os andores de CRISTO, nos PASSOS DA PAIXÃO, deslizavam nas ruas entre as fachadas policromadas de colchas ricas pendentes das janelas.
Tudo isso lá vai. A procissão, o ambiente da época e até o "espírito". Veio a "blague" substituí-lo, o "apropósito" lisboeta, que é inimitável mas que sabe a outra coisa e nos deixa no "paladar", às vezes, uma amarga revolta surda. A culpa não é dos alfacinhas... é do tempo.

A Capela da Ordem que ocupa na fachada sobre o LARGO DO CARMO os dois pavimentos, tem o altar.mor virado ao Sul-Poente e o coro ao Norte-Oriente, ficando a meio o corpo principal. Bem iluminada, com três portas de acesso, dando a central para a escada nobre, e as extremas, uma para a sacristia e outra para os corredores do lado da RUA DACONDESSA, tem o tecto direito, ornado a meio com um painel a óleo representando a SENHORA DO CARMO dando o escapulário  a S. SIMÃO STOCK. No altar-mor, ladeado por dois nichos onde estão as imagens de SANTO ELIAS e SANTO ELISEU vindas do CONVENTO DO CARMO, esculturas de madeira do século XVII, venera-se a PADROEIRA, imagem  de roca da mesma proveniência.
Tem dois altares laterais. O do lado da Epístola é dedicado a S. NUNO ÁLVARES e tem ainda as imagens de SANTO ALBERTO e de SÃO JOSÉ, além de outras modernas de menor interesse. Aos pés da imagem de SÃO NUNO, está o cofre de preta com as RELÍQUIAS DO CONDESTÁVEL, ornamentado de relevos e documentado com duas inscrições. Atrás do frontal envidraçado, vê-se a imagem de Nª. SENHORA DA BOA-MORTE, vinda também do CONVENTO DO CARMO.
O altar do lado do Evangelho tem, no meio do retábulo, um CRISTO CRUCIFICADO, e além da imagem do CORAÇÃO DE JESUS, as de SANTO AMARO e SANTO ANTÓNIO.
No frontal do altar envidraçado, está uma imagem do SENHOR MORTO, escultura de madeira setecentista.
Num outro altar de encosto, do lado do Evangelho, está uma imagem do SENHOR DOS PASSOS, e, mísulas ao lado do arco da CAPELA-MOR, as de S. BRÁS e SANTA LUZIA. A sacristia tem duas janelas para a RUA DA OLIVEIRA. O tecto é de moldura de madeira e pinturas. O frontal do altar é envidraçado: aos lados da maquineta, estão as imagens da SENHORA SANTA ANA e SANTA BÁRBARA.
É vasta e rica a série de resplendores  e coroas de prata que a ORDEM possui. Além de um valioso relicário de prata que se guarda no cofre forte da ORDEM. É uma peça possivelmente do século XVII, onde os frades do CARMO guardavam as 27 relíquias que, segundo a tradição conventual, o fundador trouxera sempre consigo. Um frade curioso, "FREI ANTÓNIO HENRIQUES DE OLIVEIRA", salvara o relicário do descalabro de 1834, guardando-o avaramente e, antes de morrer, entregara-o ao PRIOR de então, que era o CONDE DE PARATY. Este mostrou-o aos irmãos, contou a sua proveniência e, em reunião de 10 de Maio de 1862 se lavrou uma acta das relíquias.

( 1 )-Códice 92 do Arquivo da Ordem Terceira do Carmo, intitulado "LIVRO DA RECEITA E DESPESA GERAL NA REEDIFICAÇÃO DO HOSPITAL DA VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO DE LISBOA", ano de 1784, pág. 406-V.
( 2 ) -Gazeta de Lisboa, de 11 de Junho de 1796.
( 3 ) - Crónica Constitucional de Lisboa, de 9 de Junho de 1835.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XIII ] A CAPELA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO (3)». 

LARGO DO CARMO [ XIII ]

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 Largo do Carmo - (19__) Fotógrafo não identificado (O "Largo do Carmo"à esquerda a fachada da IGREJA DA ORDEM TERCEIRA, obras no CONVENTO DO CARMO e CHAFARIZ DO CARMO) (Abre em tamanho grande)  in AFML 
 Largo do Carmo - (entre 1898 e 1908) Foto de autor não identificado (Procissão do Triunfo ou dos Santos Nus no LARGO DO CARMO)  (Abre em tamanho grande)  in AFML 
 Largo do Carmo - (1959) Foto de Armando Serôdio (Igreja da Ordem Terceira do Carmo, fachada principal virada para o LARGO DO CARMO)  in  AFML
 Largo do Carmo - (2001) Foto de Teresa Vale (Pormenor do Portal da IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO, no LARGO DO CARMO)  in  SIPA
 Largo do Carmo - (2013)  (Fachada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo) inGOOGLE EARTH
Largo do Carmo - (2013) (Parte do edifício da "IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO" com esquina para a RUA DA OLIVEIRA)  in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ XIII ]

«A CAPELA DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO (3)»

Fez-se um "OFICIO" em 24 de Maio de 1862, e em 3 de Junho seguinte, à ordem do Vigário Geral do Património, e perante o DR. MANUEL JOSÉ FERNANDES CICOURO e três "TERCEIROS" do CARMO, foi aberto o relicário e autenticadas as 27 relíquias.
Uma das peças de prata circular, media 64 cm de diâmetro e 15 de espessura, tendo ligada uma corrente grossa, também de prata. No anverso, circundado por uma virola, ornamentada com um dentado de pontas redondas há a seguinte inscrição, em caracteres latinos: "Estas relíquias deste relicário trazia consigo o CONDESTÁVEL N. ÁLVARES".
Na parte central vê-se gravado no espelho de prata um SÂO CRISTÓVÃO. No reverso, onde está gravada a cena do CALVÁRIO, lê-se ao redor da virola: "Este relicário é de NOSSA SENHORA DO CARMO DE LISBOA".

O HOSPITAL DA ORDEM TERCEIRA da à muito que só existia teoricamente, por falta de recursos. O saudoso D. TOMÁS DE MELO BREYNER, Irmão TERCEIRO, alimentou um dia o sonho de restaurá-lo. Fez-se ainda um projecto de arquitectura, mas a ideia não pode ir por diante. Era necessário muito dinheiro.
Foi ainda organizado um gabinete de consultas e tratamentos, mas as duas enfermarias, de homens e de mulheres, continuavam vazias, aguardando o velho material hospitalar.

Com o recrudescimento do culto patriótico de NUNO ÁLVARES, seguido da sua beatificação, a CAPELA da ORDEM TERCEIRA obteve uma nomeada maior. Quase esquecida, com o seu aspecto exterior de prédio de habitação, onde se não suspeita o que existe no seu interior, passou de novo a ser conhecida da população.
Na altura da visita da infanta D. FILIPA DE BRAGANÇA ao CARMO e à ORDEM TERCEIRA, mais uma vez a velha corporação religiosa se evidenciou e de novo o antigo TERREIRO DO CARMO teve a concorrência de outros tempos.
A venerável ossada, identificada em SÃO VICENTE em 11 de Fevereiro de 1918, por uma comissão nomeada por portaria, concluiu a sua missão, foi mandada entregar à ORDEMTERCEIRA em 10 de Maio de 1918, colocada dentro do cofre em que estava, no altar do lado da Epístola. Por deliberação do senhor Cardeal Patriarca, fez-se a mudança para a actual urna de prata em 30 de Julho de 1927( 1 ).
Aquando das festas de 1938, comemorando a data de 28 de Maio, no LARGO DO CARMO armou-se de verdura, coreto, mastros com bandeiras - um verdadeiro arraial popular - e a MOCIDADE PORTUGUESA  mais a LEGIÃO PORTUGUESA, foram à CAPELA DA ORDEM, prestar a sua homenagem ao SANTO CONDESTÁVEL, visitar a urna de prata que contém os seus despojos mortais (conduzindo-a num andor do altar para o átrio do templo, processional e solenemente).

Em 1835 tinha a CML mandado intimar a ORDEM a edificar, ou vender a quem nele edificasse, o chão que possuía junto à RUA DA CONDESSA ( 2 ) e onde se alastrava uma série de barracas que aí ficou muitos anos, formando um corredor entre aquela RUA e a RUA DA OLIVEIRA. Parece-me desnecessário dizer que a ORDEM nada fez. As suas finanças não o consentiam e esta situação continuou por aí fora.
Em 1859, como os seus telhados necessitassem de obras, viu-se obrigada a pedir à CÂMARA que lhe fizesse a obra, dado que os seus recursos eram precários ( 3 ).

No andar térreo do edifício da ORDEM esteve sempre ocupado por vários estabelecimentos.
Contava-se uma OFICINA DE GALVANIZADOR, durante largos anos, uma LOJA DECHOCOLATARIA. O artista, chamava-se JOÃO CAETANO PIRES BRANCO e esteve ali de 1837 a 1883, embora de 1866 a 1869 se mencione lá um tal JOSÉ ALVES, talvez caixeiro do Estabelecimento. Em 1885 ainda permanecia a loja onde o fabrico se fazia à vista do cliente, e à moda antiga, esmagando-se o chocolate entre duas pedras ( 4 ).
Também uma CAPELISTA aqui esteve instalada de 1873 a 1880 e tantos, tendo depois aparecido uma TABACARIA. Um BARBEIRO para manter a tradição dos "FÍGAROS" que ali se sucederam desde 1840. De 1849 a 1857, o barbeiro chamava-se PASTOR.
Existiu também uma TABERNA, entre 1841 e 1848, um DENTISTA chamado NEVES, de 1873 a 1875 que acumulava o manejo do "BOTICÃO" com a navalha de escanhoar, e ainda um PADEIRO em 1883.
Nesta altura o que existe no edifício da ORDEM TERCEIRA, é uma loja de calçado - SAPATARIA CARMO - e um BARBEIRO.

( 1 ) - Elementos e informação obsequiados dos confrades AFONSO ORNELAS e GUSTAVO DE MATOS SEQUEIRA.
( 2 ) - Archivo Municipal, de 1859, pág. 266
( 3 ) - Archivo Municipal, de 1859, pág 266
( 4 ) - Informação de um erudito sr. JOSÉ RODRIGUES SIMÕES.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XIV ]AS RELÍQUIAS DO CONDESTÁVEL» 

LARGO DO CARMO [ XIV ]

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 Largo do Carmo - (2010)-Desenho: Atelier Acácio Santos e Túlio Coelho - (Emissão de um selo pelos CTT comemorativo à canonização do BEATO NUNO de SANTA MARIA ou D. NUNO ÁLVARES CABRAL, em 26 de Abril de 2009) in POVO
 Largo do Carmo - ( 2010 ) - Pintura do Mestre Carlos Alberto Santos (D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, pintura do Mestre Carlos Alberto Santos) in REAL ASSOCIAÇÃO DA BEIRA
 Largo do Carmo - (2010) Carlos Fontes ( D. Nuno Álvares Pereira empunhando a espada, em cima do seu cavalo) inCOISAS DA CULTURA
 Largo do Carmo - (2009) ( A Espada do "SANTO CONDESTÁVEL" NUNO ÁLVARES PEREIRA no MUSEU MILITAR DE LISBOA)  in LUSOPHIA
Largo do Carmo - (2010) Foto de Carlos Gomes ( O CENOTÁFIO de NUNO ÁLVARES PEREIRA e Terceiro Conde de Ourém, está colocado no Corpo Central do Panteão Nacional de Lisboa)   inAUREN

(CONTINUA) LARGO DO CARMO [ XIV ]

«AS RELÍQUIAS DO CONDESTÁVEL»

Os restos mortais de «NUNO ÁLVARES PEREIRA» ou"FREI NUNO DE SANTA MARIA" tiveram um percurso bastante acidentado.


Recolhido ao seu Convento no LARGO DO CARMO, o antigo CONDESTÁVEL DO REINO passou ali a sua vida. Lá faleceu em 1 de Abril de 1431 ( isto à sensivelmente 583 anos), num Domingo de Páscoa. Foi obviamente sepultado na Igreja que ele próprio criara.


Durante mais de 300 anos, as relíquias do guerreiro que se fizera monge foram veneradas no local próprio. Aconteceu depois o terramoto de 1755 que (como ainda hoje é visível, apesar das tentativas de reconstrução levadas a cabo e nunca completadas) deixou a Igreja muito mal tratada.

As preciosas relíquias de NUNO ÁLVARES foram então recolhidas e levadas para a IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO, instalada num prédio (de que já falámos) no topo do LARGO DO CARMO, entre as Ruas da"CONDESSA"e da OLIVEIRA ao CARMO".
Ali permaneceram até 24 de Março de 1836, data em que foram levadas para o MOSTEIRO de SÃO VICENTE, existindo a intenção de os transportar depois para um dos Mosteiros Nobres: o da BATALHA ou o dos JERÓNIMOS. Nada se resolvendo, acabaram os ossos por ir parar novamente à IGREJA DA ORDEM TERCEIRA - de onde só saíram já em meados do século XX, com destino à nova IGREJA DO SANTO CONDESTÁVEL, em CAMPO DE OURIQUE.
Nesta complexa relação do beato NUNO DE SANTA MARIA (elevado aos altares em Janeiro de 1918) com a cidade de LISBOA, faltava um capítulo no qual fosse prestada a homenagem devida.

Não se tornando viável reerguer a IGREJA DO CONVENTO DO CARMO e existindo a necessidade de se construir novas IGREJAS na CIDADE, para corresponder às necessidades provocadas pela expansão e pelos locais de fixação, decidiram as autoridades eclesiáticas que o novo templo a erguer em CAMPO DE OURIQUE fosse dedicado ao antigo defensor da independência de Portugal, entretanto beatificado.
A IGREJA DO SANTO CONDESTÁVEL foi construída no espaço da antiga "EMPRESACERÂMICA DE LISBOA" existindo desde o ano de 1883, tendo sido um dos polos de desenvolvimento do BAIRRO de CAMPO DE OURIQUE, especializada no fabrico de telhas "MARSELHA", situava-se exactamente onde podemos ver hoje esta IGREJA do CONDESTÁVEL.
Em 1946, começou a construção da IGREJA em forma de cruz latina, inspirada nos tempos portugueses da fase final do gótico.
O projecto foi do arquitecto VASCO REGALEIRA e foram chamados a prestar colaboração os escultores LEOPOLDO DE ALMEIDA, VELOSO DA COSTA e SOARES BRANCO e ospintores ALMADA NEGREIROS, PORTELA JÚNIOR e JOAQUIM REBOCHO. A inauguração teve lugar em data apropriada: 14 de Agosto de 1951, dia em que se comemorava o aniversário de ALJUBARROTA.
Saíram então as relíquias do SANTO CONDESTÁVEL do seu velho lugar de repouso, na ORDEM TERCEIRA. Foram levadas num armão de artilharia, com escolta de honra, em vistoso cortejo. Uma pequena relíquia ficou na Igrejinha do Carmo e o lugar do primitivo túmulo, no então CONVENTO e hoje MUSEU, ficou devidamente assinalado.
Também, no corpo central do PANTEÃO NACIONAL (em SANTA ENGRÁCIA) encontra-se (além de outros) o CENOTÁFIO ( 1 )de"D. NUNO ÁLVARES PEREIRA".

Longa e algo acidentada jornada tiveram pois as ossadas de NUNO ÁLVARES, desde a sua morte até 1951. Anos antes, em 1944, ao assinalar-se o aniversário natalício do BEATO, tinha um "Conselho da Ala do Santo Condestável" decidido fazer em LISBOA uma procissão em que figuravam as suas ossadas. Tal cortejo pareceu um tanto insólito a muito boa gente, por não vir a propósito, não ter qualquer antecedente e poder até ser encarada como uma espécie de profanação.
A encabeçar os protestos, esteve o olisipógrafo e jornalista NORBERTO DE ARAÚJO.
Diga-se ainda, que se vaticinou para LISBOA projectar também uma estátua para NUNOÁLVARES. Discutiu-se se deveria estar em pé ou a cavalo, foi escolhida a última versão, e resolvida a questão, foi para a BATALHA, oferecida "pelo povo de LISBOA".

( 1 ) - CENOTÁFIO - (do Grego Kenotaphion, pelo Latim Coenotaphium). Túmulo ou Monumento sepulcral, erigido à memória de alguém (neste caso a D. Nuno Álvares Pereira), mas que lhe não contém o corpo.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XV ] - NUNO ÁLVARES PEREIRA»

LARGO DO CARMO [ XV ]

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 Largo do Carmo - (1554) - (Imagem em Xilogravura da "Crónica do Condestável" D. Nuno Álvares Pereira)  in SECRETARIADO NACIONAL DA PASTORAL DA CULTURA
 Largo do Carmo - (Século XV) - (NUNO ÁLVARES PEREIRA 1423-1431, Donato Carmelita. Encontra-se exposto no Palácio do Marquês de Pombal em OEIRAS)  in ALFACINHAS-OS LISBOETAS DO PASSADO E DO PRESENTE
 Largo do Carmo - (2006) Foto de Georges Jansoone (A estátua equestre de D. NUNO ÁLVARES PEREIRA na frente do MOSTEIRO DA BATALHA, uma obra do escultor LEOPOLDO DE ALMEIDA) in WIKIPÉDIA
 Largo do Carmo - (2009) (A IGREJA DO SANTO CONDESTÁVEL inaugurada a 14 de Agosto de 1951 no Bairro do CAMPO DE OURIQUE em LISBOA, uma obra do arquitecto VASCO REGALE IRA)  in WIKIPÉDIA
Largo do Carmo - (26.04.2010) (Foto do 1º Aniversário da Canonização de NUNO DE SANTA MARIA anterior D. NUNO ÁLVARES PEREIRA. Em segundo plano podemos observar a IGREJA DO CARMO)  in  REAL FAMÍLIA PORTUGUESA

(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO CARMO [ XV ]

«NUNO ÁLVARES PEREIRA»

Já falámos do vetusto CONVENTO DO CARMO e passamos com natural normalidade, ao respectivo fundador, o CONDESTÁVEL DO REINO, D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, a cuja persistência e fortuna se deve a construção deste CONVENTO no local do CARMO.
Começarei por recordá-lo que embora natural de CERNACHE DE BONJARDIM, NUNO ÁLVARES PEREIRA nasceu a 24 de Junho de 1360 e faleceu em LISBOA no dia 1 de Abril de 1431. Era filho ilegítimo de Frei ÁLVARO GONÇALVES PEREIRA, CAVALEIRO DOS HOSPITALÁRIOS DE S. JOÃO DE JERUSALÉM e PRIOR DO CRATO, e de D. IRINA GONÇALVES DO CARVALHAL. Passou algum tempo após o seu nascimento  o menino foi legitimado por Decreto Real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica dos filhos dos Nobres do seu tempo. 
Feito mais tarde CONDE DE OURÉM e senhor de terras em todo o PORTUGAL (era donatário de trinta e três VILAS), NUNO ÁLVARES PEREIRA cedo conheceu LISBOA, aqui se deslocando com frequência e cá acabando por professar e morrer.
Logo aos 13 anos, NUNO foi apresentado na Corte, onde conheceu a Rainha D. LEONORTELES esposa do Rei D. FERNANDO, que desejou tomá-lo para seu escudeiro.
Em plena juventude, viveu NUNO um célebre episódio que já demonstrava a sua propensão para as armas e para a valentia: durante um cerco das tropas castelhanas a LISBOA, divertiam-se os soldados estrangeiros a atravessar a Ribeira de ALCÂNTARA, e vir por quintais e hortas adentro até SANTOS, pilhando e estragando. Tal comportamento suscitou os ardores bélicos e patrióticos do moço guerreiro, que arremeteu sozinho contra a tropa castelhana até que os amigos, envergonhados, lhe deram ajuda, acabando por correr com os intrusos. Depois, com o MESTRE DE AVIS feito D. JOÃO I, obviamente muitas foram as vezes em que o CONDESTÁVEL DO REINO tinha de vir palestrar com o monarca.

A ligação maior de NUNO ÁLVARES com LISBOA deu-se, porém, a partir de 1389. Prometera ele em ALJUBARROTA um grandioso templo à Virgem. Quatro anos depois da batalha, começou a cumprir o voto, comprando  aos Frades da TRINDADE uma parte das suas terras, que em termos actuais situaríamos da RUA DA CONDESSA para baixo. 
Sendo escasso o terreno para o que pretendia, comprou mais aos PESSANHAS, descendentes do Almirante que ainda hoje dá nome a uma das ruas do CARMO.
Começou a construção do CONVENTO em seguida, naquele alto onde ainda se encontra, dominando o ROSSIO e a parte baixa da cidade.
Ora, reza a história que por duas vezes se desmoronou a projectada mole de pedra, porque assentava sobre terreno de fraca consistência e os alicerces não se agarravam suficientemente. D. NUNO ÁLVARES terá dito que,  nem que o CONVENTO tivesse de assentar sobre bronze, ficaria ali. Assim aconteceu, mas o guerreiro e futuro monge deve lá ter gasto boa parte dos seus capitais: a construção demorou até 1423 ( 34 anos de obras, portanto), embora já em 1397 lá habitassem FRADES CARMELITAS. Sabemos destes factos dos séculos XIV e XV, não será pois de espantar muito que as mexidas constantes no subsolo daquela elevação tivessem provocado na actualidade complicações nos prédios da RUA, e do LARGO DO CARMO e da vizinha CALÇADA DO SACRAMENTO. Vejam lá, já NUNO ÁLVARES se queixava na época!

Após a sua morte FREI NUNO DE SANTA MARIA passou a ser reputado de SANTO pelo povo, que desde então o começa a chamar "SANTO CONDESTÁVEL".  O Santo Padre, PAPA BENTO XVI, durante o Consistório de 21 de Fevereiro de 2009, determina que o "BEATO NUNO" seja inscrito no dia 26 de Abril de 2009, no álbum dos SANTOS (Canonização), 578 anos depois da sua morte.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XVI ]O MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO»

LARGO DO CARMO [ XVI ]

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 Largo do Carmo - (2009) Foto de Bert Kaufmann (Ruínas da nave da IGREJA DO CONVENTO DO CARMO, hoje MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO) in  PANORAMIO 
 Largo do Carmo - (2008) Foto de João Martinho 63    (Ruínas da nave da IGREJA DO CONVENTO DO CARMO actualmente o MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO)  in WIKIPÉDIA
 Largo do Carmo - (2008) - Foto de Carlos Luís M. C. da Cruz  (Peças escultóricas em exposição no MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO)   in   WIKIPÉDIA
 Largo do Carmo - (2013)  (Interior das ruínas da antiga Igreja do Convento do Carmo, hoje ali instalado o Museu Arqueológico do Carmo)  in    MATRAQUEANDO
Largo do Carmo - (ant. 1895) Foto de Francesco Rochini  (Portal da entrada principal da antiga Igreja do Convento do Carmo, presentemente o Museu Arqueológico do Carmo) (Abre em tamanho grande) in AFML

(CONTINUAÇÃO) LARGO DO CARMO [ XVI ]

«O MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO»

Neste capitulo (e último desta série), entre o passado e o presente, é especialmente dedicado à IGREJA DO CONVENTO DO CARMO, ou melhor dizendo, ao que dela resta, sobretudo da IGREJA que foi tentada reerguer no século XVIII, e que hoje constitui o núcleo do MUSEU ARQUEOLÓGICO DO CARMO.
O MUSEU está ali instalado desde 1864 nas ruínas da IGREJA DO CONVENTO, o que restou do terramoto de 1755, embora tenha existido uma intenção de obras mais tarde, mas com pouco sucesso.
Do edifício podemos destacar o corpo principal da IGREJA e o Coro, cujo telhado resistiu ao terramoto.
Fundado pelo primeiro presidente da ASSOCIAÇÃO DOS ARQUEÓLOGOS PORTUGUESES, JOAQUIM POSSIDÓNIO NARCISO DA SILVA (1806-1896), será considerado o mentor do MUSEU. Ele tem como objectivo salvaguardar o maior número do património NACIONAL que até à altura, se encontrava abandonado ou em delapidação, motivado pela extinção das ORDENS RELIGIOSAS e ainda de alguns estragos sofridos durante as INVASÕES FRANCESAS e as GUERRAS LIBERAIS.
 Assim, POSSIDÓNIO DA SILVA consegue reunir inúmeras peças de Arquitectura e de Escultura. bem como monumentos funerários de grande relevo artístico e histórico.
Era sua intenção que funcionasse como um "MUSEU VIVO", onde os visitantes pudessem apreciar e ao mesmo tempo conhecer as técnicas arquitectónicas e artísticas de então. O MUSEU desde cedo pôde contar com uma biblioteca, que ainda hoje se conserva, numa das salas do MUSEU.
No seu interior se pode hoje ver uma pequena mas interessante colecção do paleolítico e neolítico português, destacando-se as peças vindas das escavações e de uma fortificação pré-histórica perto da AZAMBUJA.
Um núcleo túmulos góticos inclui o de D. FERNANDO SANCHES(início do século XIV), decorado com cenas de caça ao javali, um outro magnifico túmulo transferido de um CONVENTO DE SANTARÉM para este museu do rei D. FERNANDO (1367-1383) (o rei que mandou levantar uma cerca em volta de LISBOA do século XIV, à qual se dá o nome de MURALHA FERNANDINA) obra-prima da escultura gótica no país, recentemente restaurado. Existe também umas peças romanas, outras visigóticas.
O CONDE DE SÃO JANUÁRIO em finais do século dezanove era na altura o presidente da ASSOCIAÇÃO tendo oferecido ao MUSEU parte da sua colecção particular de cerâmicas pré-colombianas, e duas múmias do mesmo período. Essa colecção exótica constitui hoje um dos principais atractivos do MUSEU.
No último quartel do século XIX e o terceiro quartel do século XX deram entrada no MUSEU valiosas colecções de Arqueologia Pré e Proto-Histórica, proveniente de diversas escavações arqueológicas.
Existem ainda no espólio do Museu: O SARCÓFAGO DAS MUSAS(romano, séc. III-IV d.C.; quatro placas de alabastro com cenas da Paixão de Cristo esculpidas em baixo-relevo, oriundo das oficinas de NOTTINGHAM (meados do século XV); o túmulo da rainha MARIAANA DE ÁUSTRIA, em estilo barroco; Colecção de 101 pedras de armas, com destaque para a lápide com BRASÃO DE FERNÃO ÁLVARES DE ANDRADE (século XVI), realizada a partir do desenho de FRANCISCO DE HOLANDA.
Durante o período de 1995 e 1996, por motivo das obras do METRO linha CHIADO, com a abertura de dois túneis na COLINA DA PEDREIRA provocando assinaláveis danos nas ruínas da IGREJA DO CARMO. O MUSEU esteve encerrado durante sete anos, motivado pelo procedimento de conservação das estruturas, reabrindo em Julho de 2001. [ FINAL ]

BIBLIOGRAFIA
- ARMORIAL LUSITANO - Coord. de A.E.M. Zuquete-Editorial Enciclopédia, Lda. 1961-LISBOA. 
- AZEVEDO, João de - LISBOA 125 anos sobre carris - Roma Editora-1998 - LISBOA
- CAEIRO, Baltazar Matos - OS CONVENTOS DE LISBOA - Distri. Editora-1989 - SACAVÉM.
- COSTA, Mário - O CHIADO Pitoresco e Elegante-Assoc. dos Arqueólogos Portugueses Ed 2ª - 1987 - LISBOA.
- DIAS, Marina Tavares . LISBOA DESAPARECIDA - Vol. 5 - Quimera- 1996 - LISBOA.
- FESTAS DE LISBOA 1955 - Direcção de Monteiro de Macedo e outros-Publicado pela NEUGRAVURA - 1955 - LISBOA.
- LISBOA E O AQUEDUTO - Edição da C. M. L. 1997 - LISBOA.
- MACEDO, Luís Pastor de - LISBOA DE LÉS A LÉS- Pub. da CML - Vol. III 3ª Ed.1985-Lx.
- MESQUITA, Alfredo-LISBOA- Ed. Perspectivas &Realidades - 1987-LISBOA
- MOITA, Irisalva - O Livro de Lisboa - Liv. Horizonte - 1994 - LISBOA.
- NOBREZAS DE PORTUGAL E BRASIL - Coord. de A.  E. M. Zuquete - Editorial Enciclopédia,Lda - Vol. III - 1961-1984 - LISBOA.
- OLIVEIRA, Cristóvão Rodrigues - LISBOA EM 1551 SUMARIO - Liv. Horz.-1987-LISBOA.
- PINTO, Luís Leite - História do Abastecimento de água a Lisboa - Imp. Nac. Casa da Moeda - 1972 - LISBOA.
- SEQUEIRA, Gustavo de Matos - O CARMO e a TRINDADE - Publicações Culturais da C.M.L. Vol. I, II e III - 1939 - LISBOA.
- SILVA, A. Vieira - A Cerca Fernandina de Lisboa - Publicações da CML - Vol. I - 2ª Ed. 1987 - LISBOA.
- SOUZA, Alberto - ALFACINHAS os lisboetas do passado e do presente (1964?) - LISBOA.
- VIDAL, Angelina - LISBOA ANTIGA E LISBOA MODERNA Ed. VEGA - 1994 - LISBOA.

INTERNET
- NCREP
- REVELAR LX
- SIPA 

(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES[ I ]RUA ACTOR ISIDORO»

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ I ]

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 Rua Actor Isidoro - (2014) (A "RUA ACTOR ISIDORO" com início na ALAMEDA D. AFONSO HENRIQUES, no primeiro "BAIRRO DE ACTORES") in GOOGLE EARTH 
 Rua Actor Isidoro - (2007) (Vista Panorâmica da "RUA ACTOR ISIDORO" que começa no lado da Alameda e termina na "Rua Actriz Virgínia")  in GOOGLE EARTH
 Rua Actor Isidoro - (2014) (A "RUA ACTOR ISIDORO" no cruzamento com a "Rua Augusto Machado")  in GOOGLE EARTH
 Rua Actor Isidoro - (2014) (Um troço da RUA ACTOR ISIDORO no sentido Sul para Norte)  in  GOOGLE EARTH
 Rua Actor Isidoro - (2014) (A "RUA ACTOR ISIDORO" vista da Rua Actriz Virgínia na parte Norte do Bairro) inGOOGLE EARTH
 Rua Actor Isidoro - (entre 1950 e 1970) Foto de Amadeu Ferrari ( A Alameda D. Afonso Henriques esquina com a "RUA ACTOR ISIDORO") (Abre em tamanho grande)  in AFML
Rua Actor Isidoro - (1963-12) Foto de Artur Goulart  (A "RUA ACTOR ISIDORO" nos anos sessenta do século vinte)  in  AFML

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ I ]

«RUA ACTOR ISIDORO»

Vamos iniciar hoje uma ronda pela cidade de LISBOA que tem vindo a perpetuar o seu topónimo, dando nomes de ACTRIZES e ACTORES às suas RUAS. Existe mesmo um ou dois bairros que são privilegiados com esses nomes. Trata-se do "BAIRRO DOS ACTORES", que engloba as antigas freguesias de: ALTO DO PINA, S. JOÃO DE DEUS, S. JOÃO e S. JORGE DE ARROIOS, hoje denominadas AREEIRO, PENHA DE FRANÇA e ARROIOS.
Um segundo novo Polo de topónimos de ACTORES tem aparecido na freguesia de BENFICA, desde a década de sessenta aos nossos dias, por motivo do enorme desenvolvimento urbanístico que se verificou, embora neste momento com mais abrandamento.
Existem ainda mais ruas espalhadas por toda a LISBOA com nomes de ACTORES, muito embora não tão agrupados actualmente. No entanto não sabemos se num futuro não poderão constituir outro Polo de ACTORES. É o caso da antiga freguesia da AMEIXOEIRA (hoje SANTA CLARA) que já comporta muitos nomes de ACTORES e ACTRIZES, podendo ser eventualmente ser considerado um terceiro Polo de BAIRRO DOS ACTORES.
Nesta nossa abordagem vamos começar pelo 1º BAIRRO DOS ACTORES, este junto da ALAMEDA D. AFONSO HENRIQUES.

A RUA ACTOR ISIDORO pertencia à freguesia do ALTO DO PINA que juntamente com a freguesia de S. JOÃO DE DEUS, e pela REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA, passou a pertencer à freguesia do «AREEIRO».  Tem início na ALAMEDA DOM AFONSOHENRIQUES, 60 e finaliza na RUA ACTRIZ VIRGÍNIA, 9. Integrada no primeiro BAIRRO DOS ACTORES, em Acta Nº 4 de 18 de Janeiro de 1944 da COMISSÃO DE TOPONÍMIA, foi aprovada a sua nomenclatura.

ISIDORO SABINO FERREIRA mais conhecido como o ACTOR ISIDORO, nasceu em LISBOA na TRAVESSA DAS PEREIRAS à GRAÇA, em 18 de Novembro de 1828. Tendo falecido também em LISBOA em 23 de Setembro de 1876.
Seu pai era um modesto operário numa oficina de reparação de equipamento para o exército, tendo cegado seis meses antes de seu filho nascer. O Actor ISIDORO teve uma infância muito difícil, sem poder ir à escola, foi na rua que aprendeu a ler e a escrever, com os rapazes da sua infância e cedo, aos 11 anos começou a trabalhar.
Primeiro como chapeleiro e mais tarde tecelão, e nas horas vagas experimentava o teatro como actor amador em grupos que ele próprio organizava.
Conseguiu entrar no TEATRO D. MARIA II, com 12 anos como "COMPARSA"( 1 ) e por lá ficou durante anos no anonimato.
Terá recebido o seu primeiro salário como actor em 1849, no Teatro de ALMADA.
Assistiu a uma das suas representações o actor TABORDA que ficou fascinado com o talento do jovem ISIDORO. Passado algum tempo já ele se estreava no TEATRO DOSALITRE, na peça "UMA FRAQUEZA", apadrinhado por TABORDA.
Não podemos esquecer que o TEATRO DO SALITRE foi um dos mais carismáticos espaços teatrais do século XIX. Com a experiência adquirida no TEATRO DO SALITRE, ISIDORO passa a ser um caso sério na comédia, sendo por isso muito disputado dos palcos de LISBOA.
Ingressa no elenco do TEATRO GINÁSIO, onde acabaria por se estrear em 1853, com a interpretação do "MANUEL FERREIRO"na peça ANDADOR DAS ALMAS, uma paródia de FRANCISCO PALHAà Ópera "LUCIA DI LAMMERMOOR de DONIZETTI. E, dois anos depois, ISIDORO fez a sua primeira revista. Ao lado de TABORDA e da vedeta francesa EMÍLIA LETROUBLON, destacou-se bastante, tendo representado mais duas peças de grande comicidade. Na sequência desta sua prestação, ISIDORO foi convidado para o TEATRO D. MARIA II, mas o GINÁSIO não o deixou sair, aumentando-lhe o vencimento que o convenceu a ficar. Mas passados seis meses ISIDORO não resiste a um convite do TEATRO DO SALITRE, então rebaptizado de TEATRO VARIEDADES, que pagou por essa razão uma indemnização ao GINÁSIO.  
E foi nesse teatro que o actor fez a REVISTA DE 1858 que teve um êxito brilhante. E finalmente no ano de 1863 ISIDORO entrava para o D. MARIA II, estando assim classificado com um actor de primeira classe, onde representou brilhantemente. Mas foi no TEATRO DATRINDADE que ISIDORO criava a sua inesquecível personagem: o REI BOBECHE" da ópera bufa O BARBA AZUL de Offenbach.
Antes, porém, regressara ao TEATRO GINÁSIO por três temporadas, onde escreveu a REVISTA DE 1862, experiência que o levaria a outros géneros literários.
Assim, paralelamente à sua actividade de actor, ISIDORO escreve crónicas e artigos de opinião para diversos jornais, assinou inúmeras traduções de peças teatrais.
ISIDORO era um homem empreendedor, cheio de força, a par de um enorme talento reconhecido pela crítica, pelo público e pelos seus colegas, o que lhe valeria em 1875, as insígnias de "CAVALEIRO DA ANTIGA, NOBILÍSSIMA E ESCLARECIDA ORDEM DE S. TIAGO DE MÉRITO CIENTIFICO, LITERÁRIO E ARTÍSTICO".
O ACTOR ISIDORO deixou-nos aos quarenta e oito anos, certo de que fez tudo para merecer o que a vida lhe proporcionou: a glória e a fortuna!

( 1 ) - COMPARSA - (do ital., comparsa ) Pessoa que, entrando numa peça teatral, pouco ou nada tem que dizer.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ II ]-ACTOR JOÃO ROSA»

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ II ]

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RUA ACTOR JOÃO ROSA
 Rua Actor João Rosa - (2014) (A "RUA ACTOR JOÃO ROSA" inicia na Rua Egas Moniz" no número oito, do primeiro BAIRRO DOS ACTORES) inGOOGLE EARTH
 Rua Actor João Rosa - (2007) (Panorâmica do BAIRRO DOS ACTORES onde se insere a RUA ACTOR JOÃO ROSA) inGOOGLE EARTH
 Rua Actor João Rosa - (2014) (Um troço da RUA ACTOR JOÃO ROSA no sentido Sul para Norte) inGOOGLE EARTH
 Rua Actor João Rosa - (2014) (A RUA JOÃO ROSA vista da Rua Barão Sabrosa na parte a Norte) inGOOGLE EARTH
 Rua Actor João Rosa - (1885) Desenho a carvão de José Malhôa (O jovem JOÃO ROSA numa das suas representações teatrais) in O INFERNO 
 Rua Actor João Rosa - (depois de 1883) Pintura de Columbano Augusto Bordalo Pinheiro(1857-1929) ("Retrato" do actor JOÃO ROSA pintado por COLUMBANO) inAPPH - ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE FOTOGRAFIA
Rua Actor João Rosa - (Gravura de autor não identificado) (Um "retrato" do actor JOÃO ROSA, publicado na revista "O OCIDENTE" em 20.11. 1907) in CVC-INSTITUTO CAMÕES

(CONTINUAÇÃO) - RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ II ]

«RUA ACTOR JOÃO ROSA»

A RUA ACTOR JOÃO ROSA pertencia à freguesia do ALTO DO PINA que, juntamente com a freguesia de S. JOÃO DE DEUS e de acordo com a REFORMA ADMINISTRATIVA DELISBOA DE 2013, resultou na freguesia do «AREEIRO». Começa na RUA EGAS MONIZ no número oito e finaliza na RUA BARÃO SABROSA, 309. Integrada no primeiro BAIRRO DOSACTORES, em Acta Nº 4 de 18.01.1944 da COMISSÃO DE TOPONÍMIA, foi aprovada a sua nomenclatura.
JOÃO ANASTÁCIO ROSA nasceu em LISBOA a 18 de Abril de 1843 tendo falecido também em LISBOA a 16 de Março de 1910.  JOÃO ROSA nasceu numa família que viria a ser destacada como uma das mais notáveis famílias de artistas do teatro português.
JOÃO ROSA tinha um irmão mais novo de nome AUGUSTO ROSA que seguia a mesma vocação do irmão JOÃO.  Pai e filho partilhavam o mesmo nome - JOÃO ANASTÁCIOROSA - sendo que ao filho foi atribuída a designação de ROSA JÚNIOR. Pouco tempo durou tal epíteto, pois que cedo passou a ser conhecido simplesmente como JOÃO ROSA, recaindo sobre o pai a designação de ROSA PAI.
JOÃO ROSA sofre a desventura de ser matriculado na ACADEMIA DE BELAS ARTES, mesmo tendo desde cedo, demonstrado o desejo de representar. Terá caído seu pai no mesmo equívoco quando seu avô, quis orientar o ROSA PAI, contra a sua vontade para a medicina. Mas o destino desta gente era a arte de representar! Assim, aos 19 anos, JOÃOROSA, apresenta-se ao público pela primeira vez ao lado do pai, no TEATRO BAQUET no PORTO, em 15.11.1862, na comédia AS JÓIAS DE FAMÍLIA de CÉSAR DE LACERDA.
Do PORTO transferiu-separa LISBOA para representar no TEATRO SÃO CARLOS, D. MARIA II, GINÁSIO, TRINDADE e no TEATRO DO PRÍNCIPE REAL, sempre com grandes êxitos e com um trabalho digno de maior admiração em cada papel.
Depois de breve passagem pelo TEATRO GINÁSIO, em 1892 com seu irmão AUGUSTOROSA, e o ACTOR EDUARDO BRASÃO fundou a COMPANHIA ROSAS & BRANDÃO, que dirigiu o TEATRO D. MARIA II durante 18 anos. Estes anos de JOÃO ROSA passados no D. MARIA, foi uma das suas épocas mais notáveis, com inúmeras e geniais criações e desempenhos. Filho e discípulo de um Mestre, foi companheiro de grandes da sua época como: EMÍLIA DAS NEVES, MANUELA REY, TASSO, TEODORICO, JOSÉ CARLOS DOS SANTOS (o SANTOS PITORRA) e outros. Em todos os seus actos soube impor-se pelo carácter e merecimento, tanto ao público como  e no meio teatral. Foi professor de Declamação no CONSERVATÓRIO NACIONAL, onde patenteou a sua vasta cultura e os seus profundos conhecimentos de TEATRO, tanto antigo como moderno. Distinguido como actor de primeira classe e condecorado com a comenda da ORDEM DE SANTIAGO DA ESPADA, passou a ser conhecido como MESTRE JOÃO. Pelos seus relevantes serviços prestados ao TEATRO PORTUGUÊS, foi-lhe ainda concedida uma reforma.
JOÃO ROSAé surpreendido por uma terrível doença, que começou a enfraquecê-lo e a deixar marcas como lapsos de memória, problemas de dicção e envelhecimento precoce, foi forçado a afastar-se do palco e consequentemente do seu público que guardou a sua imagem com tal saudade que, num espectáculo realizado em seu beneficio (promovido pela Associação da Classe dos Artistas Dramáticos em 1909), ao vê-lo, repleto de admiração, o público estremeceu e num movimento unânime ergueu-se e fez-lhe a mais carinhosa aclamação. Esta foi a a última recordação que o público pode guardar deste esplêndido ser humano, pois no ano seguinte partia para sempre.
Dizia "O SÉCULO" Nº 10148 de 16.03.1910, página 1 - A morte do Actor JOÃO ROSA, sem dúvida um soa nossos artistas dramáticos mais queridos e admirados do público e que deixa gravado na história do teatro português dos últimos 50 anos, um nome deveras glorioso aureolado pelos mais brilhantes triunfos. 
Assistido por EGAS MONIZ na CASA DE SAÚDE PORTUGAL-BRASIL, mas já deveras debilitado, o actor não resistiu a uma hemorragia cerebral, vindo a falecer na madrugada de 16 de Março, tinha 67 anos de idade.
No seu "CURRICULUM", deixamos aqui um apontamento de algumas peças onde se notabilizou: RICARDO III de Shakespeare, O ALFAGEME DE SANTARÉM de ALMEIDA GARRETT, FEDORA de VICTORIEN SARDOU, O CARDEAL RICHELIEU, LEONOR TELES, O GRANDE INDUSTRIAL, FOGUEIRAS DE SÃO JOÃO e A CEIA DOS CARDEAIS de JÚLIO DANTAS( 1 ) entre muitas outras...

( 1 ) - A CEIA DOS CARDEAIS , apresentada em 28 de Março de 1902 pela primeira vez no TEATRO D. AMÉLIA (actual S. LUÍS). 


(CONTINUAÇÃO)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES[ III ] - RUA ACTRIZ VIRGÍNIA»

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ III ]

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RUA ACTRIZ VIRGÍNIA
 Rua Actriz Virgínia - (2014) (A "RUA ACTRIZ VIRGÍNIA" no  "BAIRRO DOS ACTORES" com entrada pela "AVENIDA ALMIRANTE REIS" junto do número 254) in GOOGLE EARTH
 Rua Actriz Virgínia - (2007) (Panorama do BAIRRO DOS ACTORES  onde se insere a "RUA ACTRIZ VIRGÍNIA")  in GOOGLE EARTH
 Rua Actriz Virgínia - (2014) (Um troço da RUA ACTRIZ VIRGÍNIA no sentido para Nascente) inGOOGLE EARTH
 Rua Actriz Virgínia - (2014) (A RUA ACTRIZ VIRGÍNIA no seu final junto da RUA ABADE FARIA) in GOOGLE EARTH
 Rua Actriz Virgínia (depois de 1916) (O "TEATRO APOLO" antigo PRÍNCIPE REAL onde se estreou em 15 de Abril de 1866, aos 16 anos a ACTRIZ VIRGÍNIA, situado no MARTIM MONIZ) inFACEBOOK
 Rua Actriz Virgínia - (Retrato  "possivelmente" de 1880, com 30 anos de idade) (A  ACTRIZ VIRGÍNIA na época em que representava no TEATRO D. MARIA II)  in  FACEBOOK
 Rua Actriz Virgínia - (1916) (Retrato da ACTRIZ VIRGÍNIA ou VIRGÍNIA DIAS DA SILVA, publicada no 1º Vol. do Álbum Teatral - Ilustração Quinzenal - Biografias em Prosa e Verso por Avelino de Sousa - Editores Pedroso & Santos - 1916- Imprensa Libanio da Silva - LISBOA) in BIBLIOTECA DIGITAL da FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Rua Actriz Virgínia - (Publicada em 1925 uma colecção da autoria de AMARELHE sob a direcção de Mário Duarte) (Caricatura feita por AMARELHE da ACRIZ VIRGÍNIA, que tem uma rua com seu nome, no BAIRRO DOS ACTORES) inARQUIVO DIGITAL-CARICATURAS

(CONTINUAÇÃO)-RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ III ]

«RUA ACTRIZ VIRGÍNIA»


A «RUA ACTRIZ VIRGÍNIA» pertencia à freguesia do ALTO DO PINA que, com a REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA 2013, ficou a pertencer à freguesia do «AREEIRO».
Começa na RUA ABADE FARIA, 54 e termina na AVENIDA ALMIRANTE REIS, 254.
Um EDITAL de 31 de Março de  1932 deu nome a esta RUA, que está integrada no primeiro BAIRRO DOS ACTORES, junto da ALAMEDA D. AFONSO HENRIQUES.

A ACTRIZ VIRGÍNIA, de seu nome completo VIRGÍNIA DIAS DA SILVA, nasceu em 19 de Março de 1850 em TORRES NOVAS e faleceu em 19 de Dezembro de 1922 em LISBOA.
Filha mais nova de um casal que vivia muito humildemente, motivo para que VIRGÍNIA acabasse por ser criada por uma tia, que lhe antevia a profissão de costureira. No entanto, seu futuro passava por seu padrinho RAFAEL RODRIGUES DE OLIVEIRA, accionista do velho TEATRO DA RUA DOS CONDES.
Ainda criança, acompanhara o seu padrinho a todas as récitas e ensaios gerais, despertando assim a sua paixão pelo teatro (quando chegava a casa, punha-se a representar tudo quanto observava, cantando, dançando, repetindo frases e cenas inteiras).
Ainda impulsionada pelo seu padrinho, estreou-se num pequeno papel da comédia em 2 actos "MOCIDADE E HONRA", em 15 de Abril de 1866, no   TEATRO DO PRÍNCIPE REAL ( 1 ), revelando imediatamente o que dela havia a esperar. A sua voz era extraordinária. Inicia aí uma carreira fulgurante com particular destaque para os papeis de ingénua.
Ingressa no TEATRO D. MARIA II, acompanhando o actor e empresário JOSÉ CARLOS DOS SANTOS ( o SANTOS PITORRA), representando a maior parte do reportório deste TEATRO, salientando-se em PRINCESA DE BAGDAD, DIONÍSIA, FÉDORA, OTHELLO, e A ESTRANGEIRA.
Foi primeira dama no TEATRO D. MARIA II durante 27 anos, de onde sai para o TEATRO DA TRINDADE, de que chegou a ser secretária. Devemos referir que, aos 23 anos, já era considerada a primeira actriz portuguesa.
Uma das características mais extraordinárias de VIRGÍNIA era a sua voz, particularmente bem timbrada e com acentos que lhe conferiam uma sonoridade cristalina (este pormenor é várias vezes mencionado em crónicas da época).
Foi duas vezes ao BRASIL, em 1886 e 1887 onde obteve êxitos estrondosos. Regressa a PORTUGAL, ingressa novamente no elenco do D. MARIA II, destacando-se em peças como: A DOR SUPREMA; OS VELHOS; PERALTAS E SÉCIAS; FREI LUÍS DE SOUSA;  LEONOR TELES e AO TELEFONE.
VIRGÍNIA casou com o actor ALFREDO FERREIRA DA SILVA em 1892, de quem vaio a divorciar-se em 1919. Deste casamento resultou uma única filha.
Em 1902 é-lhe atribuído o hábito da ORDEM DE SANTIAGO, sendo a primeira actriz portuguesa a receber esta distinção. No ano de 1920, é o PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA a atribuir-lhe a ORDEM DE SANTIAGO DE ESPADA. 
Em 1906 é obrigada a retirar-se dos palcos devido a doença. Contudo, já quase no final da sua carreira, participou no filme mudo O CONDENADO ao lado do pintor JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS.
Mas talvez mais importante que as qualidades profissionais foram as suas virtudes humanas. VIRGÍNIA era extremamente humilde, era uma acérrima defensora da classe de actores, indiferente a vaidade ou invejas, muitíssimo disciplinar e leal para com os colegas.
Esteve sempre associada a obras sociais, espectáculos para fins de caridade ajudando incondicionalmente quem precisava  (por ex., refira-se que foi ela quem apoiou a actriz EMÍLIA CÂNDIDA, de geração acima da sua, que se encontrava cega e na miséria).
Esta dedicação aos outros, associada a uma reforma extremamente baixa que auferia, levou a que também ela acabasse por cair em situação económica débil.
Todos estes méritos de VIRGÍNIA levaram a que, em Abril de 1922, lhe organizassem uma festa de homenagem com o propósito de a auxiliar. Ironicamente viria a falecer poucos meses depois. O reconhecimento foi tal que a sua evocação fez referência à sua grande alma de artista mas, acima disso, à sua excepcional alma de mulher.

( 1 ) - TEATRO DO PRÍNCIPE REAL - Que em 1910 a REPÚBLICA obrigaria a que tomasse a designação de TEATRO APOLO, situado na RUA DA PALMA, foi construído por FRANCISCO VIANA RUAS em 1864, e demolido no ano de 1956.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [IV]RUA JOÃO VILLARET»

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ IV ]

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RUA JOÃO VILLARET
 Rua João Villaret - (2014) (A RUA JOÃO VILLARET com entrada pela AVENIDA DE ROMA, na freguesia do AREEIRO)  in  GOOGLE EARTH

Rua João Villaret - (2014) (A RUA JOÃO VILLARET paralela com a linha de Cintura dos Caminhos de Ferro, na zona do AREEIRO) inGOOGLE EARTH
Rua João Villaret - (2014) - (um troço da RUA JOÃO VILLARET no sentido Nascente-Poente e no seu lado direito a separação do caminho de ferro, linha de cintura de Lisboa) inGOOGLE EARTH
Rua João Villaret - (Finais dos anos 40 do século XX) (JOÃO HENRIQUE PEREIRA VILLARET foi um grande mestre da recitação poética, tendo trabalhado como actor no teatro D. MARIA I, na revista e no cinema português. Tem uma rua em LISBOA na freguesia do AREEIRO)  in AVEIRO CULTURAL
Rua João Villaret - (1950) (Paulo Borges) (JOÃO VILLARET no filme FREI LUÍS DE SOUSA" interpretando o papel de TELMO PAIS ao lado da jovem MARIA DULCE) inOS ANOS DE OURO DO CINEMA
Rua João Villaret - (1959) (Um momento de JOÃO VILLARET no seu programa aos Domingos à noite na RTP, recitando alguns dos mais famosos poetas nacionais) inRTP

(CONTINUAÇÃO)-RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ IV ]

«JOÃO VILLARET»


A «RUA JOÃO VILLARET» pertencia à freguesia de S.JOÃO DE DEUS, que pela REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA DE 20013, juntamente com a freguesia do ALTO DO PINA passou a designar-se por freguesia do «AREEIRO». Começa na AVENIDA DE ROMA junto ao número 31-D, não tendo ainda uma finalização definida. São convergentes a esta rua, do seu lado esquerdo a RUA ACTOR VIANA, RUA AUGUSTO GIL e RUA DAVID SOUSA.
Pelo Edital de 4 de Março de 1961 a CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA escolheu uma RUA na freguesia de SÃO JOÃO DE DEUS (hoje AREEIRO) para acolher a figura do genial actor e declamador. À RUA JOÃO VILLARET (actor-1913-1961) foi-lhe atribuído a artéria conhecida como rua projectada à AVENIDA SACADURA CABRAL, RUA ACTOR VIANA e ainda como rua projectada à RUA DAVID DE SOUSA. Igualmente a COMISSÃO CONSULTIVA MUNICIPAL DE TOPONÍMIA na sua Acta Nº 78 de 1 de Maio de 1961, emitiu parecer favorável para que a RUA JOÃO VILLARET figurasse na rua projectada à AVENIDA SACADURA CABRAL.
JOÃO HENRIQUE VILLARET, nasceu em LISBOA a 10 de Maio de 1913 e faleceu também em LISBOA no dia 21 de Janeiro de 1961. Evidencia-se como actor de teatro de cinema, declamador, encenador e ainda chegou  a ter um programa na TELEVISÃO. Deu nas vistas pela sua maneira muito pessoal e inédita como recitava poesia. Estudou no LICEU PASSOS MANUEL e começou logo a fazer teatro amador, o que levou de seguida a frequentar o CONSERVATÓRIO NACIONAL, concluindo em 1931 sem uma classificação muito alta. Nesse ano, junta-se à COMPANHIA DE TEATRO REY COLAÇO-ROBLES MONTEIRO e mais tarde à COMPANHIA DE TEATRO OS COMEDIANTES DE LISBOA, dirigida por RIBEIRINHO e seu irmão ANTÓNIO LOPES RIBEIRO, fundada em 1944.
Estreou-se em OUTUBRO no D. MARIA II em LEONOR TELES de MARCELINO MESQUITA. VILLARET terá feito muitas revistas no NACIONAL, prática comum em todos os actores da altura. Teve grande sucesso e cedo se destacou pela forma como dizia poesia.
No ano de 1942 JOÃO VILLARET representou no TEATRO AVENIDA a revista BELEZASDE HORTALIÇA de Fernando Santos, Almeida Amaral e L. Rodrigues com música de Jaime Mendes e José Nobre. Um quadro de comédia em verso, um poema patriótico de ANTÓNIO BOTO e uma rábula cómica, marcavam a sua presença, notada sobretudo neste último número, que se adaptava à circunstância política portuguesa da época, com a célebre cançoneta de MAURICE YVAIN, "C'est mon homme". Referia-se a SALAZAR nas entrelinhas quando cantava, com uma piscadela maliciosa de olho. "Aquele a quem dou tudo, tudo a sorrir, - cést mon homme, - e a quem dou la chemise se ele um dia ma pedir, (...)". No ano seguinte no palco do D. MARIA II representou ELECTRA e "OSFANTASMAS" de O´Neil, um dos papeis que mais marcas lhe deixou.
A partir de 1946 passa a trabalhar nos COMEDIANTES DE LISBOA, desempenhando o papel principal de MISS BA;  O REI; CADÁVER VIVO; PIGMALEÃO e BÂTON.
Em 1947 na Revista TÁ BEM OU NÃO TÁ de Ascenção Barbosa, Aníbal Nazaré e Nelson de Barros no TEATRO AVENIDA, com música de FERNANDO DE CARVALHO e FREDERICO VALÉRIO.
Escreveu um dia PAVÃO DOS SANTOS..."Ao som das guitarras, num ritmo crescente, entrecortado de pausas dolentes, VILLARET conta uma história de vida e põe o público ao rubro no "FADO FALADO" - de quem HERMINIA SILVA faria a contrapartida cómica um ano depois, no seu "FADO MAL FALADO" na revista "AÍ, BATE, BATE" de Fernando Santos, Almeida Amaral e Fernando Ávila".
JOÃO VILLARET durante vinte anos esbanjou versatilidade e talento não só em palcos como nos estúdios. No cinema teve a sua primeira participação em 1936 interpretando D.JOÃO VI no filme O BOCAGE de Leitão de Barros, segue-se O PAI TIRANO(1941) onde interpreta o papel de um pedinte mudo, INÊS DE CASTRO (1945), CAMÕES (1946), FREI LUÍS DE SOUSA (1950) na interpretação de (TELMO PAIS), A GARÇA E A SERPENTE (1952) e O PRIMO BASÍLIO (1959). 
Na RTP  JOÃO VILLARET teve um programa aos Domingos onde declamava poesia NACIONAL, e isto ajudou a dar a conhecer os nossos grandes poetas. Na memória dos portugueses fica ainda muito do seu estilo inconfundível na A PROCISSÃO de ANTÓNIOLOPES RIBEIRO e O MENINO DE SUA MÃE entre outros. Aos 48 anos JOÃO VILLARET deixa-nos, ficando para sempre a lembrança do seu estilo inconfundível de dizer poesia.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ V ]RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO)»

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ V ]

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RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO)
 Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (2014) (A "RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO)" na freguesia de ARROIOS e começa na RUA FEBO MONIZ) inGOOGLE EARTH 
 Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (2007) (Vista Panorâmica de uma parte da freguesia de ARROIOS onde se insere a RUA FRANCISCO RIBEIRO "RIBEIRINHO")  in  GOOGLE EARTH
 Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (2014) (Um troço da RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO), no sentido Sul para Norte)  in GOOGLE EARTH
 Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (2014) ( A parte final da RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO) junto da RUA FREI FRANCISCO FOREIRO) inGOOGLE EARTH
 Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (1932) Caricatura de AMARELHE ("RIBEIRINHO" e BEATRIZ COSTA na "Revista Pirilau" estreada no Teatro VARIEDADES) in  FOTOLOG
 Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (1941) - (Uma cena do filme "O PAI TIRANO" de António Lopes Ribeiro com RIBEIRINHO (o CHICO) e LEONOR MAIA (a TATÃO)  in CINEMAS SAPO
Rua Francisco Ribeiro (Ribeirinho) - (1950) (Cartaz do Filme "O GRANDE ELIAS" de Artur Duarte, com RIBEIRINHO, ANTÓNIO SILVA, MILÚ e MARIA OLGUIM) inCINEMAS SAPO

(CONTINUAÇÃO) - RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ V ]

«RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO)»


A «RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO) pertencia à freguesia de S. JORGE DE ARROIOS, NA SEQUÊNCIA DA REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA de 2013,juntamente com as freguesias dos ANJOS e PENA, passou a designar-se apenas freguesia de «ARROIOS». Começa na RUA FEBO MONIZ e termina na RUA FREI FRANCISCO FOREIRO.
Na Acta Nº 1/86 de 18 de Abril de 1986, por deliberação tomada pela CÂMARA em reunião de 3 de Setembro de 1984, dando o nome de FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO) a uma rua de LISBOA. Com o parecer e os votos favoráveis do presidente e da vogal Drª. SALETESIMÕES SALVADA, a COMISSÃO deliberou propor que o nome do falecido actor seja atribuído ao arruamento no prolongamento da RUA ANTÓNIO PEDRO, compreendido entre a RUA FEBO MONIZ e a RUA FREI FRANCISCO FOREIRO que passará a denominar-se RUA FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO) - Actor - (1911-1984).

FRANCISCO CARLOS LOPES RIBEIRO nasceu em LISBOA, num terceiro andar de um prédio da CALÇADA DA ESTRELA, no dia 21 de Setembro de 1911.  Veio juntar-se a outro irmão de 3 anos chamado ANTÓNIO LOPES RIBEIRO. Os dois irmãos (que teriam mais tarde uma vida artística em comum), nasceram de uma família dada às artes, que cedo mostraram os seus talentos.
FRANCISCO e ANTÓNIO aprenderam línguas ainda muito pequenos, familiarizaram-se desde cedo com escritores, jornalistas, pintores e muita da intelectualidade que frequentava a casa dos seus pais.
ANTÓNIO conta na sua biografia que para os dois irmãos foi muito importante um presente chamado «TEATRO DE LOS NIÑOS» que permitia "armar um palco de meio metro, com pano de boca, poscénio e urdimento de onde se suspendiam lindíssimos cenários". Nesse "TEATRO", conta ANTÓNIO LOPES RIBEIRO puderam montar duas peças de SHAKESPEARE. Não se estranhe, portanto que o grande sonho de FRANCISCO tivesse sido desde muito pequeno, ser actor. Para isso muito contribuiu o actor CHABYPINHEIRO, amigo do pai, tendo sido até na sua COMPANHIA TEATRAL que FRANCISCO RIBEIRO (ainda não o RIBEIRINHO), se estreou na peça A MALUQUINHA DE ARROIOS, onde interpretava o galã cómico da peça de ANDRÉ BRUN. Tinha 18 anos e era o início de uma carreira de mais de cinquenta anos no TEATRO e no CINEMA português.
FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO) no entanto não foi só um homem de TEATRO. Ele foi também actor, realizador, encenador, autor de diálogos para o cinema português dos anos 40 e 50 do século passado. Provavelmente não o conheçam bem do teatro, onde ele foi rei e senhor, mas conhece-o certamente do cinema. Basta lembrar o (CHICO), aquele caixeiro humilde do PAI TIRANO(1941) apaixonado pela (TATÃO) (LEONOR MAIA) ou o (RUFINO FINO FILHO), dono de uma leitaria, tutor de um VASCO SANTANA sempre embriagado com quem fazia a famosa "GINÁSTICA CUECA", no êxito de bilheteira que foi "O PÁTIODAS CANTIGAS"(1942)Curiosamente, RIBEIRINHO foi também o realizador do filme e actor com seu irmão ANTÓNIO LOPES RIBEIRO, dos diálogos engraçadissimos que hoje se ouvem na televisão quando a RTP-Memória resolve exibir a comédia. Ao tempo, a crítica elogiou o trabalho de RIBEIRINHO no filme O PAI TIRANO, no (já desaparecido) DIÁRIODE LISBOA, TAVARES DA SILVA escreveu: "Não se pode representar melhor nem com mais perfeição. Para nós, ele é a grande figura do filme".
Justamente com seu irmão, o realizador ANTÓNIO LOPES RIBEIRO, funda a COMPANHIA "OS COMEDIANTES DE LISBOA"e foi director do TEATRO DO POVO e do TEATRONACIONAL(1978-1981). Ficou para a posterioridade o seu talento em diversos filmes dos quais acrescentamos aos já citados: "A REVOLUÇÃO DE MAIO"(1937; "O FEITIÇO DO IMPÉRIO"(1940); "A MENINA DA RÁDIO"(1944); "A VIZINHA DO LADO"(1945); "TRÊS ESPELHOS"(1947); "O GRANDE ELIAS"(1950); "O COSTA DE ÁFRICA"(1954); "O PRIMO BASÍLIO"(1959); "AQUI HÁ FANTASMAS"(1964) e "O DIABO DESCEU À VILA"(1979).
FRANCISCO RIBEIRO (RIBEIRINHO) faleceu em LISBOA a 7 de Fevereiro de 1984 na mesma cidade que o "viu" nascer.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [VI]-RUA EDUARDO BRAZÃO»

RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ VI ]

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«RUA EDUARDO BRAZÃO»
 Rua Eduardo Brazão - (2014) ( A "RUA EDUARDO BRAZÃO" no primeiro BAIRRO DOS ACTORES, visto da AVENIDA ALMIRANTE REIS) inGOOGLE EARTH
 Rua Eduardo Brazão - (2014) (A RUA EDUARDO BRAZÃO vista da RUA CARLOS MARDEL) inGOOGLE EARTH
 Rua Eduardo Brazão - (2007) (Vista Panorâmica do BAIRRO DOS ACTORES onde se insere a RUA EDUARDO BRAZÃO) inGOOGLE EARTH
 Rua Eduardo Brazão - (2014) - (Um troço da RUA EDUARDO BRAZÃO ao fundo pudemos ver o "Mercado de Arroios") inGOOGLE EARTH
 Rua Eduardo Brazão - (1912)? - (O grande actor EDUARDO BRAZÃO numa das suas representações) inWIKIPÉDIA
Rua Eduardo Brazão - (1925) (Uma colecção da autoria de AMARELHE publicada em 1925 sob a direcção de Mário Duarte) (EDUARDO BRAZÃO caricaturado por AMARELHE, já quase no final da sua carreira artística) inARQUIVO DIGITAL 

(CONTINUAÇÃO) -RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [ VI ]

«RUA EDUARDO BRAZÃO »


A «RUA EDUARDO BRAZÃO» pertencia à freguesia de S. JORGE DE ARROIOS que, de acordo com a REFORMA ADMINISTRATIVA DE LISBOA DE 2013, passou  a designar-se   «ARROIOS». Começa na AVENIDA ALMIRANTE REIS no número 160 e finaliza na RUA CARLOS MARDEL junto do número 37-A. Esta artéria passou a figurar no «BAIRRO DOS ACTORES» pelo Edital Camarário de 12 de Março de 1932.

«EDUARDO JOAQUIM BRAZÃO» foi um célebre actor português da escola romântica e um dos fundadores de uma das mais importantes Companhias de Teatro portuguesas, a "ROSAS & BRAZÃO
EDUARDO BRAZÃO durante cerca de cinquenta anos que esteve na arte de representar, passou pelos mais importantes Teatros portugueses - TEATRO NACIONAL D. MARIA II, D. AMÉLIA (depoisTeatro de São Luís), TRINDADE, GINÁSIO, SÃO CARLOS etc. - bem como por vários teatros no BRASIL, país que várias vezes visitou em digressão. Esteve ainda envolvido no TEATRO DA NATUREZA (1911), projecto no qual assumiu funções de direcção artística. Foi casado com a actriz ROSA DAMASCENO sócia na  "SOCIEDADE DE ARTISTAS DRAMÁTICOS" que era também composta por JOÃO ROSA, AUGUSTO ROSA, VIRGÍNIA, PINTO DE CAMPOS, EMÍLIA DOS ANJOS e JOAQUIM DE ALMEIDA. 
Foi na cidade do PORTO que se estreou em 1867 no TEATRO BAQUET, com"TRAPEIRAS DE LISBOA"de LEITE BASTOS e"PRECISA-SE DUM PRECEPTOR", comédia dos Irmãos QUINTERO, no TEATRO SÃO CARLOS.
Entre as suas inúmeras prestações memoráveis, salienta-se o seu trabalho em  "KEEAN"(1877), OTELO(1882), HAMLET(1887), BIBLIOTECÁRIO(1890) e ALCÁCER-QUIBIR(1891). Fez várias traduções de peças que representou, no CINEMA (MUDO) deixou também a sua colaboração: "AS PUPILAS DO SENHOR REITOR"(1923) de JÚLIO DINIS com realização de  MAURICE MARIAND; "OS OLHOS DA ALMA"(Adaptação do romance da escritora VIRGÍNIA DE CASTRO E ALMEIDA); "O FADO" (curta metragem)1932 baseado no quadro de MALHÔA, uma realização de MAURICE MARIAND, e interpretação de EDUARDO BRAZÃO, EMA DE OLIVEIRA e RAUL DE CARVALHO.

«EDUARDO JOAQUIM BRAZÃO» nasceu a 6 de Fevereiro de 1851, no BAIRRO DACOSTA DO CASTELO em LISBOA, e veio a falecer no dia 29 de Maio de 1925.
Filho de um alfaiate de renome da cidade de LISBOA, que desde cedo o levou  a frequentar os teatros da época. Na escola, foi colega do actor AUGUSTO ROSA com quem brincava aos teatros. Optou primeiro pela carreira da MARINHA, mas rapidamente compreendeu que a  sua verdadeira vocação era representar. Estreou-se como já tínhamos referido no PORTO e, nesse mesmo ano regressa a LISBOA, para participar no elenco de "DOIS ANJOS"de DUMAS, no TEATRO DO PRÍNCIPE REAL (depois APOLO), e a convite de FRANCISCO PALHA, integrou a COMPANHIA que inaugurou o TEATRO DA TRINDADE a 30 de Novembro de 1867, com os espectáculos "A MÃE DOS POBRES", de ERNESTOBIESTER, e"O XEREZ DA VISCONDESSA". BRAZÃO evidenciou-se como"DANIEL", numa adaptação de ERNESTO BIESTER de"AS PUPILAS DO SENHOR REITOR",  e como "PRÍNCIPE SAPHIR", na ópera cómica" O BARÃO-AZUL", de Offenbach, em 1868. Esta Companhia passou depois para o D. MARIA II e em 1870 BRAZÃO foi contactado por FURTADO COELHO para realizar aquela que foi a sua primeira digressão ao BRASIL. No regresso a PORTUGAL, em 1871, assinou contrato com a EMPRESA SANTOS & Cª. por dois anos. Aquando da morte da sua mãe EDUARDO BRAZÃO ficou responsável pelos seus sete irmãos, todos mais novos, visto que o seu pai ter falecido uns anos antes. 
Esta enorme responsabilidade - com implicações financeiras também - levou a fazer uma nova digressão pelo BRASIL, em Setembro de 1876, com JOAQUIM DE ALMEIDA, integrando a COMPANHIA DE ISMÉLIA DOS SANTOS.
Estas digressões internacionais, bem como pelo nosso país, repetiram-se várias vezes até 1921.

BRAZÃO abandonou o TEATRO NACIONAL e foi para o TEATRO GINÁSIO, onde teve o seu primeiro e grande êxito desempenhando, um papel em "ENJEITADOS"de ANTÓNIO ENES. Esta ópera no GINÁSIOé referida pelo próprio BRAZÃO, nas suas memórias, como um importante período na sua carreira. Quando acabou o contrato com a EMPRESA SANTOS & Cª., BRAZÃO juntou-se ao dramaturgo ERNESTO BIESTEL e a JOÃO DE MENEZES para formar a empresa "BIESTER, BRAZÃO & Cª.", no sentido de poder concorrer à exploração do NACIONAL, onde se instalaram de 1877 a 1880. Em Junho de 1879 BRAZÃO realizou a sua terceira digressão pelo BRASIL, onde representou "OSFIDALGOS DA CASA MOURISCA" e "A MORGADINHA DE VAL-FLOR". Quando regressou a LISBOA, integrou a nova gerência do TEATRO NACIONAL D. MARIA II, sob a designação BRAZÃO, ROSAS & Cª:.
Quando terminou o contrato com esta empresa foi realizado um novo, desta vez apenas com EDUARDO BRAZÃO, JOÃO e AUGUSTO ROSAà cabeça, formando, assim ROSAS &BRAZÃO, Companhia que explorou o NACIONAL de 1893 a 1898, ano em que abandonaram o TEATRO NACIONAL e se instalaram no TEATRO D. AMÉLIA (actual S. Luís). Desavenças internas dentro da Companhia levaram à saída de BRAZÃO do D. AMÉLIA e, em 1905 apresentou-se de novo no NACIONAL, onde se manteve até 1910. Depois de ter passado pelo TEATRO DO PRÍNCIPE REAL durante um curto período voltou novamente a integrar o elenco do TEATRO D. AMÉLIA (nessa época com o nome de REPÚBLICA). Representou "ALJUBARROTA"(1912), de RUI CHIANCA e"A MALUQUINHA DE ARROIOS"(1916), de ANDRÉ BRUN.
Foi-lhe diagnosticado, em 1917, um cancro na laringe, do qual recuperou, embora a doença ameaçasse um afastamento definitivo do palco, visto que a operação necessária à sua recuperação poderia danificar-lhe as cordas vocais. Contudo, entre 1917 a 1923, BRAZÃO fez várias aparições em palcos como o do GINÁSIO (1918-19), no AVENIDA(1919), do TEATRO NACIONAL(1922) e do TEATRO APOLO(1923). E o inevitável afastamento dos palcos por motivo de doença, acabou por chegar.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUAS DE LISBOA COM NOMES DE ACTRIZES E ACTORES [VII]-RUA CHABY PINHEIRO»
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