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Channel: RUAS DE LISBOA COM ALGUMA HISTÓRIA
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RUA DO AÇÚCAR [ I ]

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 Rua do Açúcar - (2013) Desenho adaptado da "Rua do Açúcar" e seu enquadramento - Sem Escala - APS - LEGENDA -1)Rua do açúcar - 2)Quinta da Mitra - 3)Palácio da Mitra - 4)Fábrica de Cortiça na Mitra e outras actividades - 5)Quinta e Palácio dos Marialvas - 6)Quinta das Murtas - 7)A Quintinha - 8)Fábrica de Borracha Luso-Belga - 9)Companhia Portuguesa de Fósforos-Sociedade Nacional de Fósforos - 10)Quinta do Bettencourt - 11)Vila Pereira - 12)Convento de Nossa Senhora da Conceição de Marvila - 13)Quinta e Palácio do Marquês de Abrantes - 14)Quinta Grande depois Quinta do Marquês de Abrantes - 15)Linha de Cintura de Lisboa (Marvila-Alcântara Terra) - 16)Linha do Norte (Santa Apolónia-Porto) inARQUIVO/APS  
 Rua do Açúcar - (1835) (Pormenor da Carta das linhas de fortificação de Lisboa - 1835 - sendo visível o traçado antigo da Estrada de Marvila e a via junto ao rio, hoje "Rua do Açúcar". Podem ver ainda como pontos de referencia o "Palácio da Mitra", junto ao Rio, e o Convento de Marvila, a as Quintas dos Marqueses de Abrantes e Marialva, na Rua de Marvila) inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Desenho possivelmente do séc. XVI, gravura do séc. XIX de Pedroso) O lugar da sede dos Olivais, antes do seu aproveitamento. De notar que, nesta altura, Sacavém, numa curva do Tejo, era visível do sítio do templo) in A ANTIGA FREGUESIA DOS OLIVAIS
Rua do Açúcar - (2008) (Foto de Microsof Virtual Earth) (Panorâmica de uma grande parte da "QUINTA DE MARVILA" no cimo podemos ver o antigo "Palácio dos Marqueses de Abrantes", A "Quinta da Mitra" na ponta esquerda, a "Vila Pereira", o Lote do Bettencourt e o "Convento de Marvila") in SKYSCRAPERCITY


RUA DO AÇÚCAR [ I ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 1 )»


A «RUA DO AÇÚCAR» pertence à freguesia de «MARVILA», começa na «PRAÇA DAVIDLEANDRO DA SILVA»( ao Poço do Bispo) e termina na «RUA DO BEATO».
Com data da deliberação Camarária de 18.05.1889 e Edital de 08.06.1889, sabe-se que este topónimo cuja data de atribuição se desconhece, mas que provavelmente a partir do século XVIII, já era denominação de «RUA DIREITA DO AÇÚCAR» e parece estar relacionada com uma "FÁBRICA DE AÇÚCAR REFINADO", que existia na "QUINTA DOBETTENCOURT" a qual foi explorada pelo súbito inglês e homem de negócios «CHRISTIAN SMITH» até ao ano de 1782.
No anos de 1752 também aparece no «MAPA DOS FOROS DE MARVILA» a designação desta artéria como «ESTRADA PARA O BEATO».
A «RUA DO AÇÚCAR» é atravessada próximo do "Poço do Bispo" pela «RUA PEREIRA HENRIQUES» e são-lhe convergentes no sentido norte para sul, no lado direito o «BECO DA MITRA», «RUA CAPITÃO LEITÃO», «RUA JOSÉ DOMINGOS BERREIRO» e «RUA AMIGOS DE LISBOA». No lado esquerdo é convergente a«RUA ACÁCIO BARREIRO».

A QUINTA DE MARVILA
O nome de «MARVILA», juntamente com o de «XABREGAS» e«CHELAS», constituem os topónimos mais antigos da Zona Oriental de Lisboa.
Logo após a conquista de LISBOA, "DOM AFONSO HENRIQUES" doou à "MITRA DELISBOA""todas as rendas e terras de Marvila que possuíam as Mesquitas dos Mouros", (1) partilhando logo no ano seguinte o bispo metade da propriedade com o "CABIDO", angariando-se assim a base de sustentação da mais alta estrutura eclesiástica de LISBOA.
Sabendo nós que o Vale de Chelas pertencia em grande parte às antigas freguesias colegiadas de Lisboa, sem que se conheça neste caso qualquer doação, talvez se possa colocar a hipótese de o acto de 1149 não ser mais que a confirmação de uma situação preexistente, lançando alguma luz sobre a orgânica social e administrativa milenar da cidade de LISBOA.
Os limites de MARVILA - sobretudo os da "QUINTA DOS ARCEBISPOS" - são bem conhecidos, definidos com precisão e, 1495, no contrato de emprazamento que o arcebispo "D.JORGE DA COSTA", o célebre CARDEAL de «ALPEDRINHA», fez à sua irmã, "D. CATARINA DE ALBUQUERQUE", de toda a propriedade, assim constituída: "Uma Quinta que se chama de Marvila, que está além do Mosteiro de São Bento (...), a qual parte com o mar, desde o "Poço do Bispo" até ao dito Mosteiro(...), vindo pelo muro do dito Mosteiro ter à Estrada que vai da cidade, e atravessando a dita Estrada, partindo com vinhas do Cabido (...), indo ter à cerca dos currais e palheiros que estão junto com as casas e assento da dita Quinta (...) cerrando onde primeiro começou, ficando o dito "Poço do Bispo" dentro das ditas divisões. 

( 1 ) - Cunha, Rodrigues da - História Eclesiástica da Igreja de Lisboa-Lisboa 1642 pp 69 e seguintes.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) - «RUA DO AÇÚCAR [ II ] - A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 2 )».


RUA DO AÇÚCAR [ II ]

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 Rua do Açúcar - (2007) - (Panorama do percurso mais a norte da "Quinta de Marvila". O Lote do Convento,  do Bettencourt e a "Vila Pereira" integrado neste último lote) inGOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (1867) Gravura em madeira de J. Pedrodo (A "Quinta de Marvila" dos Condes de Valadares, ao Poço do Bispo, publicada no Álbum das Gravuras em Madeira) inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (1835) - (Pormenor da "Carta das linhas de fortificação de Lisboa"(1835), sendo bem visível o traçado antigo da "Estrada de Marvila" e a via junto ao rio, hoje "Rua do Açúcar" até ao "Poço do Bispo") inCAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (anos 50 do séc. XX) (Foto de autor não identificado) (Lavadouro Municipal na "Rua Direita de Marvila" onde se encontra o histórico "Poço do Bispo") in  ANTIGA FREGUESIA DOS OLIVAIS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ II ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 2 )»

Sobre o«PALÁCIO DOS MARQUESES DE ABRANTES» cabeça original desta imensapropriedade  já naquela época "as casas e assento da dita Quinta" , pormenorizar-se-á a evolução do senhorio desta propriedade, transformada em foro perpétuo no século XVI, que foi inicialmente dos senhores de «PANCAS» e mais tarde integrada no «MORGADO DOESPORÃO», que veio a cair por herança na grande casa de "VILA NOVA DE PORTIMÃO/ABRANTES".
Aqui interessa sobretudo traçar os contornos genéricos que o termo abrangia e perceber-lhe a evolução, quer da subdivisão da propriedade, quer da evolução viária.
Uma das informações contidas nessa descrição de 1495 é a ausência de qualquer referência a uma via pública ribeirinha, afirmando-se que entre o "Mosteiro de São Bento"e o "Poço do Bispo" a quinta segue "a par com o mar". A estrada que vai da cidade é então só uma, aquela que ainda hoje conhecemos como a "ESTRADA DE MARVILA".
Pergunta-se então quando terá sido batido o caminho pela praia até ao "POÇO DO BISPO", da nossa actual "RUA DO AÇÚCAR"? "Ralph Delgado", no seu importante estudo sobre os OLIVAIS, em cuja freguesia de MARVILA se encontrava integrada desde a sua criação , em 1398, afirma que em 1573, «D. INÊS DE NORONHA», viúva de « JOÃO DA COSTA». senhor de «PANCAS», renovou o plano dos aforamentos de toda a quinta, falando-se de uma «QUINTA NOVA», exactamente com serventia já pelo caminho ribeirinho. Ou seja, poderá admitir-se que entre 1495 e 1573, essa nova via foi sendo consolidada ao longo da praia, impondo naturalmente uma utilização diversa da propriedade que a bordejava em toda a sua extensão, alteração essa administrativamente consagrada na última data referida.
Se ligarmos esta informação a outra já atrás reunida, podemos de facto começar a afirmar com segurança, apesar da ausência de documentação explícita, que a via ribeirinha, foi ganhando consistência ao longo do século XVI, aliás no seguimento da franca aproximação da margem do rio detectada em toda a cidade.
Quanto aos limites genéricos abrangidos então pelo termo «MARVILA», são eles bem claros na documentação: "o muro norte do "Convento de São Bento, ( o BEATOe o "Poço do Bispo", que iremos agora localizar com mais precisão.
O POÇO dito do BISPO dada a sua localização na propriedade episcopal, situava-se no término da mesma, quase na base da rampa da actual «RUA DIREITA DE MARVILA». Junto existia uma pequena azinhaga de ligação à praia, cujo traçado deveria corresponder aproximadamente à parte plana da actual «RUA ZÓFIMO PEDROSO» - de certo está muito mais larga - constituindo uma espécie de limite norte da "QUINTA DOS ARCEBISPOS".
Para cima a via passava a chamar-se o "Vale Formoso", bifurcado em duas direcções; o de "CIMA" e o de "BAIXO".
O topónimo «POÇO DO BISPO», logo estendido à vizinha azinhaga, depressa se autonomizou, passando com o tempo a denominar a parte junto ao rio e o seu prolongamento para Norte, distinguindo-se com nitidez da parte antiga mais acima, junto do velho caminho, que manteve o nome "MARVILA", depois reforçado pela construção do «CONVENTO DAS BRÍGIDAS».

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)-«RUA DO AÇÚCAR [ III ] -A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO (3)».   

RUA DO AÇÚCAR [ III ]

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 Rua do Açúcar - MAPA DOS FOROS DE MARVILA (1752) - (Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo-Arquivo da Casa de Abrantes-Morgado do Esporão Nº 194, Doc. 4045). Esta planta desenhada à mão é acompanhada pela seguinte legenda: - 1)Palácio e Quinta de Marvila; - 2)Casas defronte do jardim; - 3)Courela defronte do pátio; - 4)Três moradas de casas na "Rua Direita de Marvila"; - 5) Quinta defronte da Cruz ao sair da azinhaga das Fontes; - 6)Vinha (separada da Quinta de Marvila) chamada de Calçada; - 7)Casas na "Rua de São Bento dos Loios" para Marvila; - 8)Quinta e Palácio dos Marqueses de Marialva; - 9)Luís da Costa Campos; - 10)José da Rocha de Vasconcelos; - 11)Padre Estêvão Pissola(casas); - 12)João de Oliveira; - 13)Padre Gabriel da Silva; - 14)Francisco Tinoco; - 15)Luís da Costa; - 16)José Teixeira da Silva; - 17)Doutor Miguel de Araújo; - 18)Quinta do Bettencourt; -19)Convento Nossa Senhora da Conceição de Marvila; - 20)Quinta das Murtas. "A"-Azinhaga das Fontes (depois) Azinhaga dos Alfinetes - "B" - Estrada chamada de São Bento para Marvila e antiga para Sacavém; - "C" - Estrada para o (BEATO?), (Rua Direita do Açúcar) actual "RUA DO AÇÚCAR". inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (2007) (Panorama da "Quinta de Marvila" podemos observar quase na sua totalidade. A direita o Convento de Santa Brígida, baptizado conforme o desejo de Brígida de Santo António, com o nome de "Nossa Senhora da Conceição", e ainda a doca do "Poço do Bispo") in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2007) - (Panorama da "Quinta de Marvila", vendo-se a "Quinta da Mitra" a do "Bettencourt" à direita, na parte esquerda a "MITRA" a "Quinta dos Marqueses de Marialva" in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2007) - (Panorama da "Quinta da Mitra o Palácio e seus Jardins" entre a ferrovia e a "Rua do Açúcar") in GOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ III ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 3 )»

Do lado norte dessa azinhaga e estendendo-se entre o rio e o "Vale Formoso de Baixo", ficava a quinta que foi dos "CONDES DE LINHARES", depois dos de "VALADARES", inicialmente conhecida também por quinta do Morgado de "MARVILA", apesar de estar fora dos terrenos abrangidos pelas propriedades episcopal. Mais tarde, talvez para evitar confusões, generaliza-se a designação de «QUINTA DO CONDE DE VALADARES» ao "POÇO DO BISPO".
Dispomos de um desenho tosco, (que iremos fazer acompanhar este post), trata-se de um documento feito à mão e datado de 1752, da subdivisão em foros de todos os terrenos da «QUINTA DE MARVILA», então propriedade de raiz do Morgado do ESPORÃO, e que acompanha como explicação o auto de posse do referido Morgado por "MANUEL RAFAEL DE TÁVORA", em nome do filho, o "CONDE DE VILA NOVA, então menor.
Este documento precioso, pois embora tosco é o mapa mais antigo desta zona, elucida-nos sobre a divisão da propriedade, permitindo identificar com mais ou menos precisão, algumas quintas hoje profundamente transformadas. Vamos olhá-lo com alguma atenção, seguindo a legenda que o acompanha, e identificando as parcelas da grande propriedade de «MARVILA» que mais directamente nos interessam.

MAPA DOS FOROS DE MARVILA - 1752

Começando por uma leitura global, individualizemos as principais vias desenhadas.
A nascente junto ao rio, corre o caminho ribeirinho, aqui chamado "ESTRADA PARA OBEATO". Entronca ele no "POÇO DO BISPO", que por lapso se designa por "BEATO", onde começa a subir a "RUA DE MARVILA", que atravessa em arco o desenho, como eixo central de toda a propriedade, aqui dita "ESTRADA chamada de SÃO BENTO para MARVILA e antiga para SACAVÉM". Dela nasceu para poente duas azinhagas a das "FONTES" (depois  ALFINETES)e outra não nomeada, hoje "RUA JOSÉ DO PATROCÍNIO", ambas cruzando-se a poente na então "ESTRADA NOVA DO FUNDÃO". Entre estas vias, isola-se uma vasta parcela de terreno, com o número ( 1 ), e designada por "QUINTA GRANDE", correspondendo à propriedade principal, então do referido " CONDE DE VILA NOVA", depois «MARQUÊS DE ABRANTES». Mas é o espaço a nascente entre a referida "RUA  DE MARVILA" e a "RUA DO AÇÚCAR" que especialmente nos interessa.
Aqui encontramos as seguintes parcelas, referentes a quintas que adiante iremos apreciar. Partindo da fronteira do "BEATO", e devidamente identificadas na legenda, encontramos: com o (Nº 20) a "QUINTA DAS MURTAS", com o (Nº 8) a do "MARQUÊS DE MARIALVA", com o seu Palácio bem desenhado sobre a "RUA DE MARVILA".
A este segue-se a propriedade aforada à «MITRA», não numerada, onde se ergue o Palácio desse nome, vizinho do lote (Nº3), referido como "Courela em frente ao palácio", ou seja uma parcela ainda então na posse directa do senhorio. Depois, o (Nº18) corresponde ao lote do "BETTENCOURT", terminando por fim num cone imperfeito com o (Nº19), onde então já se achava construído o «CONVENTO DAS BRÍGIDAS DE MARVILA». Alguma confusão se levanta com os números (7) e (9), apresentados respectivamente na legenda como "casas na Rua de São Bento e foro de Luís da Costa Campos", sem mais especificações. Estamos em crer que o (Nº9) corresponderá à chamada "QUINTINHA", já então na posse da "CASA DE MARIALVA", que a adquiriu e, 1717 a um tal "REBELO DE CAMPOS", nome que o autor do desenho possivelmente se deve ter confundido no primeiro apelido, transformando o "REBELO" em "COSTA"

(CONTINUA) - (PRÓXIMO)-«RUA DO AÇÚCAR [ IV ]- A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 4 )»

RUA DO AÇÚCAR [ IV ]

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 Rua do Açúcar - (1835) (Pormenor da "Carta das Linhas da Fortificação de Lisboa - 1835 - Vendo-se a Estrada de Marvila e a via junto ao rio, hoje "Rua do Açúcar" até ao "Poço do Bispo", dominado ainda pela grande quinta dos "Condes de Valadares". O Palácio da Mitra, junto ao rio, e o Convento de Marvila", as Quintas dos Marialvas, e dos Abrantes na antiga Estrada de Marvila) inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1992/3) Foto de Filipe Jorge (A margem direita do "RIO TEJO", junto da "ZONA ORIENTAL DE LISBOA", que nesta altura ainda mantinha grande quantidade de armazéns) inLISBOA VISTA DO CÉU
 Rua do Açúcar - (2007) (Da "Rua Capitão Leitão" para sul, toda a propriedade pertencia aos MARIALVAS, incluindo nela estavam as Fábricas dos Fósforos e Borracha) inGOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2010) Barragon (Panorâmica abrangendo a "Quinta da Mitra". A norte os edifícios construídos pela Fábrica de Cortiça depois Asilo, separado pela "rua Capitão Leitão" as antigas instalações da "Sociedade Nacional de Fósforos", contíguo a antiga "Fábrica da Borracha Luso-Belga". Do nosso lado direito podemos ver um troço da "Avenida Infante D. Henrique", e seguindo para a esquerda encontramos a "Rua do Açúcar") inSKYSCRAPERCITY  

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ IV ]

«A RUA DO AÇÚCAR E SEU ENQUADRAMENTO ( 4 )

Quanto do Lote ( 7 ) pertencerá então também já à «CASA MARIALVA», pois a partir de 1762 dez anos depois deste desenho, os livros de Registos da Décima são bem explícitos sobre a posse pelos Marqueses de Marialva; "de todos os terrenos à beira da Estrada para o "Poço do Bispo" a partir da "Quinta das Murtas" até à "Quinta da Mitra".
Possivelmente, e a fazer fé neste desenho de memória, o único enclave dentro dos vários lotes reunidos pelos «MARIALVAS» seria o referente ao ( 5 ), citado na legenda como "Quinta defronte da Cruz ao sair da azinhaga das fontes". A Cruz citada é a das "VEIGAS" de que falaremos ao tratar sumariamente do troço inicial da "ESTRADA DE MARVILA".
Refira-se, ainda, o lote ( 10 ), à direita de quem sobe a "RUA DE MARVILA", chamado então a "QUINTA DO ROCHA", cuja casa, apesar de em bastante mau estado, se encontra ainda quase intacta, como o seu pátio, escada exterior com alpendre e varanda. Particularizemos em seguida, cada um destes conjuntos, resultante do emparcelamento da enorme quinta original da "MITRA DE LISBOA".

A ESTRADA DE MARVILA
O troço inicial da "ESTRADA DE MARVILA" merece uma referência específica.
A partir da "ILHA DO GRILO", inicia-se a«ESTRADA DE MARVILA», também chamada no século XIX, como consta na carta de FILIPE FOLQUE, «RUA DIREITA DOS ANANÁSES». Este troço estendia-se até à "AZINHAGA DA FONTE", hoje dita dos "ALFINETES", onde a estrada se passava a chamar «RUA DIREITA DE MARVILA», por se iniciar aí um núcleo urbano. Para poente subiam duas azinhagas de ligação para o interior - a "da BRUXA" e a das "VEIGAS", e para nascente, sobre o rio, a depois chamada "CALÇADA DO DUQUE DELAFÕES". Antes de chegar à "AZINHAGA DAS FONTES", abre-se hoje um espaço amplo, no qual abriam os portões da antiga «SOCIEDADE NACIONAL DOS SABÕES», e onde outrora existia um CRUZEIRO, talvez de Sinalização Fluvial, chamado a «CRUZ DASVEIGAS». Em frente abria-se a homónima "Azinhaga das Veigas", dando acesso à "Grande Quinta" também do mesmo nome, onde hoje está instalada a «CASA DE SÃO VICENTE», Instituição de Caridade.
No século XVII, vamos assistir à construção de diversas Quintas em MARVILA, geralmente propriedades de nobres que ali instavam as suas casas de campo para descansar do búlicio da cidade.
A «QUINTA DO BRAÇO DE PRATA» também é dessa época e tem uma história curiosa.
Em 1638, o fidalgo «ANTÓNIO DE SOUSA DE MENESES» perdeu o braço direito numa batalha contra os HOLANDESES no BRASIL. Regressado a PORTUGAL, mandou colocar um braço de prata. A sua Quinta, perto do "POÇO DO BISPO" (actual Quinta da Matinha) cedo tomou aquela designação, mais tarde adoptada pela "Estação do Caminho de Ferro".
Mais uma curiosidade, esta relacionada com a população Moura ou Moçárabe na zona de MARVILA, nos séculos XIII e XIV, e na Panasqueira (freguesia dos Olivais) até ao século XV. Isto foi encontrado em Documentação proveniente dos Cartórios das Corporações Religiosas e conservadas na Torre do Tombo.
As terras dos MOUROS tinham sido doadas à MITRA, mas nem todos abandonaram a região, se bem que alguns tivessem mesmo sido obrigados a permanecer, porque foram feitos escravos.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ V ] «A QUINTA DAS MURTAS». 

RUA DO AÇÚCAR [ V ]

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 Rua do Açúcar - (anterior a 1998) (Fachada da "Quinta das MURTAS" na "Rua do Beato" início da "Rua do Açúcar". Reparem que nesta ocasião ainda tinha os carris dos eléctricos para o "Poço do Bispo" in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (depois 1998) - (Fachada da "Quinta das Murtas" vendo-se em primeiro plano o portão de acesso à rampa do pátio) in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (2013) - (Portão que dá acesso ao "Pátio da Quintinha" considerado uma das ilhas de habitação operária, na antiga "Quinta das Murtas") inGOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Um armazém na "Rua do Açúcar" no lado nascente inARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ V ]

« A QUINTA DAS MURTAS»

A «QUINTA DAS MURTAS» indicada no "MAPA DOS FOROS DE MARVILA" representa o número  20.
A informação mais antiga referente a esta propriedade remonta ao primeiro quartel do século XVII, sendo então seus possuidores o secretário «JOÃO LOPES SERRÃO» e sua mulher, «D. JULIANA DE SEMEDO». No ano de 1628 venderam a quinta -  que estava foreira  a «FRANCISCO DE VASCONCELOS», "CONDE DE FIGUEIRÓ" ( 1 )-  por seis mil réis e dez galinhas, ao "1º CONDE DE PALMA", "D. ANTÓNIO DE MASCARENHAS", sobrinho do seu homónimo da "QUINTA DO GRILO".
Por morte do CONDE coube a quinta em partilhas (18.07.1636) a sua mulher, "D. MARIADE TÁVORA", que a vendeu pouco depois a "D. ANTÓNIO DE CASTRO", Tesoureiro-mor da "SÉ DE LISBOA", por oitenta mil cruzados. Na escritura de venda, celebrada em 1641, a propriedade é referida como "(...)uma quinta junto do Mosteiro de São Bento de Xabregas, (actual CONVENTO DO BEATO) que foi de Estevão de Alcairo, a qual parte de uma parte com muro do dito Mosteiro e de outra parte com quinta de "João Cotrim" e com estrada pública que vai para o Poço do Bispo (...) que contém em si casas nobres, celeiros, cais de pedraria, jardim, pomar e vinha, toda murada à roda" (2). Os registos paroquiais da freguesia fazem três menções a "D. ANTÓNIO DE CASTRO", neto do "CONDE DE BASTO", "D. DIOGO DE CASTRO": Quinta de "D. ANTÓNIO DE CASTRO" junto a "S. Bento"(1649) ( 3 ).
Esta "QUINTA DAS MURTAS" constitui a parcela extrema sul da grande QUINTA DEMARVILA, constituída por uma estreita faixa entre a "ESTRADA DE MARVILA" e o "Caminho Ribeirinho que vai do Beato para o Poço do Bispo" - hoje RUA DO AÇÚCAR.
É constituída de uma típica construção de quinta arrabaldina, com o seu pátio e dependências funcionais, hoje transformada em ilha popular em muito mau estado de conservação. A antiga casa nobre é bastante simples na sua orgânica, sem grandes elementos decorativos, denotando uma estrutura bastante antiga, possivelmente ainda do século XVII.
São escassas as informações sobre campanhas de obras, mas note-se a informação de aqui ter funcionado em meados do século XVIII uma fábrica de marroquinaria, na mesma altura que a quinta do "BETTENCOURT" era transformada em FÁBRICA DE AÇÚCAR, primeiros sinais de um futuro industrial que toda esta zona viria a conhecer.

AZINHAGA DOS ALFINETES
Como curiosidade, na sua origem era denominada "AZINHAGA DAS FONTES", depois, "AZINHAGA DO CAMINHO DE FERRO", começa na«RUA DE MARVILA», ao lado do Nº 131 e finda na "AZINHAGA DO FERRÃO".
O primeiro baptismo derivou da "QUINTA DAS FONTES", por ela servida; o segundo, do assentamento da linha para o Comboio; e o terceiro e actual, pela "QUINTA DOS ALFINETES", contígua à citada Quinta das Fontes, também com igual serventia.
Julgamos que o título de «ALFINETES» proveio de uma fábrica de Trefilaria instalada na fazenda, em meados do século XVIII, onde, além de arame, se fabricavam também aqueles pequenos objectos de uso diverso, bem como pregos ( 3 ).

( 1 ) - IAN/TT,CN, C-12B, Lº307, fl. 38v. -Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo,Cartórios Notariais.
( 2 )   -  Idem
( 3 ) - A Antiga Freguesia dos OLIVAIS de Ralph Delgado - 1969.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ VI ] O PALÁCIO DA MITRA ( 1 )» 

RUA DO AÇÚCAR [ VI ]

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 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (O "Palácio da Mitra" no seu lado Sul e entrada pelo "Beco da Mitra") inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti (Vista exterior do "Palácio da Mitra" ainda com  os carris dos eléctricos na "Rua do Açúcar") inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti (O Portão de acesso ao pátio do "Palácio da Mitra" na "Rua do Açúcar") inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Século XVIII) (Lance de escada do "Palácio da Mitra", os azulejos revestem a parede envolvente até à base das janelas, apresentando paisagens transparentes e distantes, nesta se vê um palácio em construção. É sobre esta paisagem que se encontra representada a balaustrada que envolve a escadaria, formada por balaustres torneados, com cinta central, ladeados em cada troço por pilastras arquitectónicas, terminadas por pequenas urnas. As pilastras dos patamares estão decoradas por uma cabeça feminina, envolvida por palmetas e volutas, enquanto as dos lances de escadas apresentam uma grinalda florida, pendente de concheados e volutas.[J.M.] in LISBOA REVISTA MUNICIPAL 
 Rua do Açúcar - (ant. a 1943) Estúdios Mário Novais (Fachada Nascente do "Palácio da Mitra". Este longo corpo exterior e pórtico evidenciam um tratamento de fachada muito típico no séc. XVII. Nesta foto podemos ver que o alargamento da Rua ainda não se tinha efectuado) in AFML
Rua do Açúcar - (1864) (O "Palácio da Mitra" segundo uma litografia publicada in Archivo Pittoresco, T. VII, 1864. Nota-se ainda os dois obeliscos que ladeavam o cais primitivo, uma das primeiras manifestações em Lisboa deste gosto decorativo romano) inCAMINHO DO ORIENTE

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ VI ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 1 )»

A palavra "MITRA" ainda tem, em Lisboa, sentido diferente daquilo que aparece nos dicionários. Enquanto para o comum dos mortais a palavra está relacionada apenas com a dignidade episcopal, insígnia de Bispo, nesta cidade estende-se-lhe o significado, relacionando-a com extrema pobreza e gente sem tecto.
A "culpa" vem do facto de, em 1933, se ter criado, em terrenos que tinham sido da «MITRADE LISBOA», um asilo para o qual foram levados velhinhos de ambos os sexos, sem posses entregues às agruras da vida, vivendo da caridade alheia. Depois, para o mesmo albergue passaram a ser encaminhados quantos fossem apanhados a vagabundar pela cidade de Lisboa, sem darem mostras de ter eira nem beira, no fundo aqueles a quem chamamos hoje de  "sem abrigo".
Conduzidos para lá pela polícia muitos chegavam em deploráveis condições, o que terá levado a que a expressão «ir para a Mitra», fosse encarada com um misto de dó e de repulsa, era pois o ponto mais baixo da decadência.
Mas. obviamente, "MITRA" não foi só isso - nem essencialmente isso. Na verdade existe um palácio digno com esse nome, circunstância derivada, obviamente, do facto de ter pertencido aos Bispos, Arcebispos e depois Patriarcas de LISBOA.
Fica no número sessenta e quatro da "RUA DO AÇÚCAR" na freguesia de «MARVILA», e, agora que a parte Oriental da Cidade está na moda, não terá passado despercebida a sua beleza discreta, contrastando com as casas circundantes, certamente bem diferentes em formosura e estado de conservação.
Pertence hoje o Palácio à Câmara Municipal de Lisboa, e num dos pisos, lá teve a sua sede, por cedência da edilidade, o já histórico «GRUPO AMIGOS DE LISBOA».
Mas até chegar a este ponto, longas voltas deu a "MITRA".

Tudo terá começado com «D. AFONSO HENRIQUES», que decidiu em 1149, ou seja, logo dois anos depois da reconquista cristã da cidade, doar ao então bispado, uma enorme extensão de terreno a Oriente.
Os Bispos de LISBOA fizeram ali o seu local de repouso. O Palácio propriamente dito apareceu já no século XVII, através de restauros de casas antigas e novas construções, quando o pastor desta diocese já tinha a dignidade de Arcebispo e o titular era «D. LUÍS DE SOUSA»(1675-1702).

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]-O PALÁCIO DA MITRA (2)»

RUA DO AÇÚCAR [ VII ]

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 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Vista exterior do "Palácio da Mitra" já sem os carris dos eclécticos na "Rua do Açúcar") inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti - (A escadaria do "Palácio da Mitra" , aliado à nobre e sóbria arquitectura, fazem deste espaço o mais belo e elaborado do palácio e um exemplar característico da arquitectura palaciana Joanina) inLISBOA - UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) Foto de António Sacchetti - (Mais uma foto da belíssima escadaria do "Palácio da Mitra") in LISBOA - UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1945) Foto de André Salgado ("Palácio da Mitra"  perspectiva da fachada longitudinal do grande corpo rectangular para a "Rua do Açúcar". É visível quer o tratamento do pórtico armorejado em alvenaria, onde se inserem as armas patriarcais, quer o gradeamento do portal exterior onde se podem ler as iniciais em ferro T.C.P. e P.D.L. que exprimem o seguinte significado: «TOMAZ CARDEAL PATRIARCA» - «PRELADO DA DIOCESE DE LISBOA»)  in AFML
 Rua do Açúcar - (anos 40 do séc.XX) Estúdios Mário Novais (Jardim Superior do Palácio de onde se avista o Tejo, anterior à construção dos armazéns nos anos 50, que lhe tiraram as belas vistas do rio) inAFML
Rua do Açúcar - (Anos 40 do séc. XX) Autor da foto não identificado (Uma vista panorâmica sobre a margem do rio Tejo, com o "Palácio da Mitra" muito perto da margem) inAFML 

(CONTINUAÇÃO)- RUA DO AÇÚCAR [ VII ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 2 )»

No tempo de "D. JOÃO V", o Bispo (no caso Arcebispo) de LISBOA passou a usar o título de Patriarca. E foi exactamente o primeiro prelado a usar essa designação, «D. TOMÁS DEALMEIDA» (1716-1754), quem mandou proceder à grande remodelação do «PALÁCIO DA MITRA». 
Para tanto, recrutou os serviços do arquitecto italiano "GIACOMO ANTÓNIO CANAVARI», que permaneceu poucos anos em Portugal, mas que ainda deixou obra. Lá trabalharam também "RODRIGO FRANCO" e, muito provavelmente "CARLOS MARDEL".
Além da casa, todo o conjunto dos terrenos da «MITRA» foi alvo de embelezamento e engrandecimento.
A Quinta prolongava-se até ao rio, pelo que chegou a ser construído um cais próprio, onde embarcava na sua galeota rumo à cidade, o Primeiro Cardeal Patriarca de Lisboa.

A casa de repouso dos Patriarcas manteve-se assim perto de um século. Depois, em 1834, quando o ESTADO LIBERAL retirou às Ordens Religiosas e à Igreja em geral grande parte das respectivas instalações, o «PALÁCIO DA MITRA» foi "nacionalizado". Diga-se em abona da verdade, porém, que o acto administrativo não teve por alvo a satisfação urgente de uma necessidade colectiva. De facto, o ESTADO ficou com o Palácio, mas não sabia o que lhe havia de fazer.
Assim, como é costume nestas coisas, depois da anexação veio a "privatização", que talvez ainda não se chamasse assim.
O Palácio e Terrenos, foram adquiridos por dez contos de réis, com a conivência oficial do «MARQUÊS DE SALAMANCA», «D. JOSÉ SALDANHA», banqueiro poderoso muito favorecido pelos poderes públicos, por ter sido um dos fundadores da "COMPANHIA REAL DOS CAMINHOS DE FERRO" e seu concessionário.
Em 1874 o «MARQUÊS DE SALAMANCA» vende o "PALÁCIO DA MITRA", por cerca de cinquenta e quatro contos de réis, a "HORATIO JUSTUS PERRY" ( 1 ), encarregado dos negócios dos E. U. na capital espanhola, e casado desde 1852 com a conhecida poetisa espanhola "CAROLINA CORONADO", os quais se encontravam em LISBOA, desde 1873, hospedados regularmente no célebre "HOTEL BRAGANÇA" (na actual RUA VITOR CORDON)

( 1 ) - JÚLIO DE CASTILHO conhecia muito de perto o bondoso diplomata "Horatio JustusPerry" e a ela faz rasgados elogios no seu livro «LISBOS ANTIGA- O BAIRRO ALTO -Volume III, pás. 128 - 1956 - Lisboa - Publicações Culturais da Câmara municipal de Lisboa.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ VIII ]-O PALÁCIO DA MITRA ( 3)»

RUA DO AÇÚCAR [ VIII ]

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 Rua do Açúcar - (2008) (A majestosa escadaria principal do "Palácio da Mitra" vista do patamar central, de onde parte o último lance que dá acesso ao salão nobre através da elegante porta do patamar superior)(Abre em tamanho grande) in CIDADANIA LX
 Rua do Açúcar - ( 2013) - Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Fachada principal do "PALÁCIO DA MITRA" virado para a a "Rua do Açúcar" antiga "Estrada para o Beato")(Abre em tamanho grande) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (Anterior a 1998) Foto de António Sacchetti (Fachada do "PALÁCIO DA MITRA" virada para a "Rua do Açúcar") inLISBOA UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Século XVIII) (No patamar superior da escadaria do "Palácio da Mitra", no lado esquerdo, encontram-se pilastras almofadadas, sem ornatos e pintadas a azul, que servem de base a quatro figuras alegóricas recortadas, também realizadas a azul, representando os quatro elementos:TERRA, AR, ÁGUA e FOGO, com os respectivos atributos. Estas figuras características do estilo de "Bartolomeu Antunes", quanto à composição e à pintura) [JM] inLISBOA REVISTA MUNICIPAL 
 Rua do Açúcar - (1949) Estúdios Mário Novais (Planta do rés-do-chão e primeiro andar do "Palácio da Mitra" na "Rua do Açúcar", 46) in AFML
Rua do Açúcar - (ant. 1911) Foto de José Artur Leitão Bárcia ("D. Carolina Coronado" (1823-1911), poetisa espanhola, foi uma das proprietárias do "Palácio da Mitra" que terá mandado fazer algumas alterações nas salas do primeiro andar)(Abre em tamanho grande)  in AFML

(CONTINUAÇÃO)- RUA DO AÇÚCAR [ VIII ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 3 )»


Terão sido por esta altura as remodelações internas nas salas do andar nobre e as transformações de um oratório elíptico, interno, numa sala, com a abertura de portas laterais. Ambas as obras implicaram a mutilação lamentável de vários painéis de azulejos.
A 22 de Fevereiro de 1891 o diplomata americano «HORATIO JUSTUS PERRY» faleceu na Quinta do "BESSONE" ou do "Relógio", em "PAÇO DE ARCOS" (da qual também era proprietário), passando a viúva a residir no "PALÁCIO DA MITRA", conservando na CAPELA o corpo embalsamado do marido até 1911, ano em que faleceu.
A propriedade que já se encontrava hipotecada, foi vendida por «D. CAROLINACORONADO» em 31 de Outubro de 1902, ao banqueiro lisboeta «DR. ANTÓNIO CENTENO» (que possuía os direitos sobre a hipoteca) permitindo uma clausula na escritura de venda, que «D. CAROLINA CORONADO» continuasse a residir no palácio até ao fim da sua vida.
O imóvel foi depois adquirido a "CENTENO" por uma Sociedade formada pelos senhores: "FRANCISCO DE MOURA E SÁ» e «FUERTES PERES». Em 1913 o primeiro saiu, e o segundo ligou-se então a um industrial "ERNESTO HENRIQUES SEIXAS".
E assim nasceu nos terrenos outrora episcopais, a «FÁBRICA SEIXAS» de Metalurgia, Fundição, Caixotaria e Tanoaria - de tudo um pouco se fazia na dita fábrica  -  instalada no local das antigas cocheiras do Palácio e cujos escritórios da firma estiveram instalados nos salões nobres do «PALÁCIO DA MITRA» ( 1 ).
Os Pavilhões e os Armazéns da «FÁBRICA SEIXAS», depois do desaparecimento desta em 1925, vieram, mais tarde a ser aproveitados pelo "ASILO DA MITRA" (como era designado pelo povo), tendo ocupado também grande parte dos terrenos da antiga Quinta. Este ASILO teve a iniciativa do coronel «LOPES MATEUS» e inaugurado em 4 de Maio de 1933.

O «PALÁCIO DA MITRA» ainda terá alojado uma «FÁBRICA DE LICORES», cujo escritório ficava situado na antiga «RUA DO ARCO DO BANDEIRA» (actual RUA DOS SAPATEIROS).

( 1 ) - NORBERTO DE ARAÚJO - INVENTÁRIO DE LISBOA,  p. 16


(CONTINUA) - (PRÓXIMA)«RUA DO AÇÚCAR [ IX ] O PALÁCIO DA MITRA ( 4 )»


RUA DO AÇÚCAR [ IX ]

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 Rua do Açúcar - (2010) Foto de Barragon ("Palácio da Mitra" visto pelo lado sul, com fachada a nascente virada para a "Rua do Açúcar") in SKYSCRAPERCITY
 Rua do Açúcar - (2010) Foto de Luís Boléo (A fachada do "Palácio da Mitra" sobre o pátio) in PANORAMIO
 Rua do Açúcar - ( ant. 1998) Foto de António Sacchetti (Fachada superior sobre o jardim do "Palácio da Mitra") in LISBOA UM PASSEIO A ORIENTE
 Rua do Açúcar - (Finais da década de 70 do século XVIII (Painel de azulejos com as armas do 2º Patriarca de Lisboa, "D. FERNANDO DE SOUSA E SILVA" no jardim superior do "Palácio da Mitra". A composição de azulejos mais tardia do palácio encontra-se aplicada no muro que delimita o jardim superior, no lado oposto ao Palácio. Trata-se de um dilatado painel heráldico ladeado por duas pilastras e terminando por um arco contracurvado, que inicialmente servia de espaldar a um banco de pedra, sobre um friso de azulejos de "figuras avulsa" joanino, com cantos de "estrelinhas". Tanto o banco como os azulejos da figura avulsa desapareceram numa discutível obra de "embelezamento" realizada nos anos 60, deixando o painel desguarnecido inferiormente. Esta vasta composição não é do "começo do séc. XVIII", representa as armas de "D. Fernando de Sousa e Silva", Patriarca de Lisboa entre 1776 e 1786, o que permite datar o painel) [ J. M. ]  in  AFML 
 Rua do Açúcar - (1908) Foto de José Artur Leitão Bárcia (Interior da CAPELA edificada por "D. TOMÁS DE ALMEIDA" no "Palácio da Mitra", destruída em 1936) in AFML
Rua do Açúcar - (ant. 1936) (Fragmento da planta do piso inferior e da escadaria do "Palácio da Mitra", com a CAPELA adjacente. Reproduzida da "Planta da Fábrica Seixas no Palácio e Quinta da Mitra") in LISBOA REVISTA MUNICIPAL

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ IX ]

«O PALÁCIO DA MITRA ( 4 ) »

Em 15 de Abril de 1930 a «CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA» compra à Sociedade "SEIXAS" o Palácio com seus terrenos e anexos, tudo por quatro mil contos, para aqui instalar um Matadouro, projecto do qual depois a Câmara abandonou, por ter encontrado nos OLIVAIS no sítio de BEIROLAS (Quinta de São Bento da Letrada e do Salto) chão mais apropriado ( 1 ).
Nos terrenos da extinta "FÁBRICA SEIXAS" acomodou-se então, a "Estação de LimpezaOriental" e, em parte dos seus anexos foi criado o «ASILO DA MITRA», inaugurado a 4 de Maio de 1933.
No Palácio que fora dos "PRELADOS DE LISBOA", esteve instalada no rés-do-chão a «BIBLIOTECA DO POÇO DO BISPO», inaugurada em 17 de Outubro de 1934. (Sabe-se que neste período foi desmantelada a primitiva cozinha do Palácio, juntamente com a CAPELA, edificada por "D. TOMÁS DE ALMEIDA", mutilação mais irreparável do conjunto, cometida antes de 1936).
Contribuiu ainda mais para a descaracterização dos espaços envolventes do Palácio, o alargamento da «RUA DO AÇÚCAR» e o aterro fronteiro, onde foram construídos armazéns no início dos anos 50 do século passado.
Em 1941, depois de várias obras de adaptação foi instalado neste Palácio o «MUSEU DACIDADE» ( vindo do "Palácio das Galveias"), foi inaugurado no dia 24 de Abril de 1942 ( 2 ) o qual se manteve no edifício até 1973, ano em que começou a ser transferido para o "PALÁCIO PIMENTA", no "CAMPO GRANDE".
Depois de efectuada esta mudança, o andar inferior do "PALÁCIO DA MITRA" foi cedido ao «GRUPO AMIGOS DE LISBOA». Numa síntese do percurso dos «AMIGOS DE LISBOA» instituição composta de grandes olisipógrafos como: NORBERTO DE ARAÚJO, LUÍS PASTOR DE MACEDO, GUSTAVO MATOS SEQUEIRA e outros. Em 18 de Abril de 1936 realizou-se a primeira Assembleia Geral para aprovar os respectivos Estatutos. O seu primeiro Presidente da Junta Directiva foi o "Engº. AUGUSTO VIEIRA DA SILVA e o cargo de Secretário-Geral foi atribuído a "LUÍS PASTOR DE MACEDO". "ALMADA NEGREIROS" desenhou o emblema do Grupo que ainda se mantém.
O «GRUPO AMIGOS DE LISBOA» tiveram a sua primeira sede na "RUA GARRETT" no número 66-2º (Palácio Marquês de Nisa"), em Junho de 1953 passava para o "Largo Trindade Coelho", Nº 9-1º e a 15 de Julho de 1975 rumavam para o "PALÁCIO DA MITRA", deixando em Abril de 2003 para se instalarem na "RUA PORTUGAL DURÃO" Nº 58 onde ainda funciona. Em 1980 o Governo da altura considerou esta instituição de "Utilidade Pública".
Com a saída do "MUSEU DA CIDADE" do "PALÁCIO DA MITRA" o andar nobre tinha ficado reservado para cerimónias oficiais dos serviços de protocolo da CML.

A azulejaria que este edifício encerra, reveste-se do elemento mais importante da decoração do Palácio. Merecia uma leitura detalhada e pormenorizada, infelizmente não é possível de momento, com imensa pena nossa.

Em 2008 a "CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA" deliberou, em reunião de 2 de Abril a proposta Nº 166/2008, respeitante à realização do contrato de constituição do direito de superfície a favor da "ANAFRE-ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FREGUESIAS", previsto desde 2005, tendo arrendado o r/c e cave do emblemático e histórico «PALÁCIO DAMITRA» pela quantia de Trezentos e cinquenta Euros mensais ( 3 ).

( 1 ) - NORBERTO DE ARAÚJO, INVENTÁRIO DE LISBOA, fasc. V. p. 16
( 2 ) - GUIA DO MUSEU DA CIDADE, CML, LISBOA - 1942

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ X ] A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA ( 1 )»

RUA DO AÇÚCAR [ X ]

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 Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetii (Fachada principal da antiga "FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA" virada para a "Rua do Açúcar") inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1929) Foto de Mário Novais (A Fábrica neste ano tomou a designação de "Fábrica de Borracha Luso-Belga", mantendo durante muitos anos no topo da sua fachada este nome, virado para a "Rua do Açúcar" inRESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Açúcar - (2013) (Panorama da antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga" com frente para a "Rua do Açúcar" com lateral para a "Rua José Domingos Barreiro". Podemos ainda ver os telhados típicos em "SHED" muito usados nas fábricas para aproveitamento de luz solar) in GOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (1922) - (Anúncio da Companhia de Borracha, na Exposição do Rio de Janeiro na década de vinte) in  CAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (1923) - (Anúncio da "Fábrica Nacional de Borracha de Victor C. Cordier, Lda", penúltima designação da "Fábrica de Borracha Luso-Belga", na "Rua do Açúcar") inRESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ X ]

«A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA ( 1 )»

Apesar do seu nome ser mais conhecido por «FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA de "VICTOR CORDIER",Lda.» não pode ficar dissociada da primeira industria de borracha instalada no mesmo espaço.
«JULES DAVID" em Setembro de 1895, pede autorização à Câmara para instalar e sua industria de "CAOUTCHOUC". O processo de obras junto da CML dá-nos a conhecer sobre o pedido do empresário de origem belga, representante da "Companhia da BorrachaMonopólio de Portugal", desejando construir uma fábrica para laboração de borracha e uma casa de habitação,  no BEATO.
Data de 7 de Janeiro de 1899 o início da laboração, ficando sujeita à produção de cinquenta toneladas ano.
O edifício da "COMPANHIA DA BORRACHA" tinha frente para a "RUA DIREITA DO AÇÚCAR" nessa época. E de acordo com os alçados de finais do século XIX, a fábrica era composta de um único piso, terminando em platibanda, onde se inscrevia o nome de «COMPAGNIE DU CAOUTCHOUC, MONOPOLE DE PORTUGAL».
Este edifício era interrompido pelo portão de entrada e encontrava-se associado ao prédio de habitação do proprietário.
A área coberta, como podemos constatar no anúncio publicado no ano de 1922 (aqui inserido), é presumivelmente a mesma da fábrica do período de "Victor Cordier", encontrando-se já instalados os edifícios de telhado em "SHED" e a zona da casa das caldeiras e das máquinas, junto à chaminé e com ligação para a "RUA JOSÉ DOMINGOS BARREIRO" e "RUA AFONSO ANNES PENEDO".
Para a época, o estabelecimento da "Companhia Nacional de Borracha" era inovador, tratando-se de uma industria pouco desenvolvida em Portugal. A sua instalação deve-se essencialmente a capitais estrangeiros de origem belga.
Esta industria não possuía nenhum proteccionismo por parte do Estado, embora fosse autorizado um monopólio ao empresário "JULES DAVID".

A passagem da COMPANHIA para as mãos do industrial "VICTOR CORDIER" não é muito clara. A última data com referência à COMPANHIAé a de 1922 e o primeiro elemento informativo do novo proprietário é de 1926, sob a denominação de "VICTOR C. CORDIER, LDA.". Os capitais continuaram a ser maioritariamente belgas, mas a presença de accionistas portugueses não tardou, originando em 1929 a denominação de «FÁBRICA DEBORRACHA LUSO-BELGA», nome que foi mantido durante muitos anos escrito na fachada principal.
Com esta nova situação, alterações sucessivas vão sendo realizadas nos edifícios construídos. No processo de obras registam-se pedidos de alteração de telheiros, para a instalação de novas áreas de apoio aos trabalhadores, como o vestiário, o refeitório e balneários. 
Na década de quarenta, além do grande espaço de fabrico, existiam as secções de aquecimento (para a vulcanização), do pó de sapato e ainda o armazém de confecções, o depósito de matérias-primas, a serralharia, um posto médico e uma garagem. 

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XI ]-A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA ( 2 )».

RUA DO AÇÚCAR [ XI ]

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 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Fachada da antiga "FABRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA" na "Rua do Açúcar" freguesia de MARVILA) -Abre em tamanho grande- in ARQUIVO/APS 
 Rua do Açúcar - (2013) - (Um troço da "Rua do Açúcar" vendo-se à nossa esquerda a antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga") inGOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) - (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (Uma aspecto da "Rua do Açúcar", podendo-se observar o final da antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga" que ligava com a "Companhia Portuguesa de Fósforos") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (1940) (Anúncio da "Fábrica de Borracha Luso-Belga" publicitando as botas de borracha "LUSBEL" para homem e senhora) inRESTOS DE COLECÇÃO 
 Rua do Açúcar - (1947) (A "Fábrica de Borracha Luso-Belga" de Victor C. Cordier, Lda.", anunciando os seus artigos) in RESTOS DE COLECÇÃO
Rua do Açúcar - (1950) - (No ano de 50 a "Fábrica de Borracha Luso-Belga" anunciava a transformação de pneus usados em pneus novos) inRESTOS DE COLECÇÃO


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XI ]

«A FÁBRICA DE BORRACHA LUSO BELGA ( 2 )»

Em relação ao edifício modernista da década de quarenta - aquele que caracteriza a actual tipologia virada para a "RUA DO AÇÚCAR" -, desconhece-se o arquitecto que a projectou.
Aquando da fundação da Companhia, a matéria-prima mais importante consistia no "CAOUTCHOUC" em bruto, proveniente de ANGOLA, S. TOMÉ, BRASIL, PERU e MÉXICO. A matéria-prima chegava até à fábrica em embarcações e seguia para os depósitos, com a forma de torcidas ou de "pães" cor de tijolo escuro. Eram utilizados por ano cerca de sessenta mil quilos desta matéria.
Até à obtenção dos diversos produtos registavam-se uma série de operações: - O "CAOUTCHOUC" era submetido ao aquecimento em caldeiras com água quente para ser cortado de imediato;- Após o corte, seguia-se a lavagem em água fria de modo a perder as impurezas; - O "CAOUTCHOUC" passava por cilindros laminados;- A operação posterior intitulava-se "malaxage", tendo como objectivo a ligação dos diversos fragmentos, para obtenção de folha de borracha;- Após a secagem, as folhas sofriam uma operação de mistura com as diferentes substâncias que entravam na sua composição, antes do "CAOUTCHOUC" ser vulcanizado; - Por fim, as folhas sofriam uma acção compressora dos cilindros e de um forte laminador, a calandra. Da máquina saíam umas folhas com a consistência e espessura desejada para se utilizarem na obtenção dos diversos produtos.
De todas as operações a mais importante era a vulcanização porque permitia conservar as propriedades essenciais do "CAOUTCHOUC".
As primeiras fases de tratamento da matéria-prima dependiam de algumas máquinas-ferramentas importantes, como a calandra. Para a obtenção de alguns produtos, como a mangueira a máquina era também fundamental, mas noutras fases de acabamento a mão-de-obra tinha um papel determinante.
Em 1943, ainda aparece em planta a casa da caldeira e a máquina a vapor, indicando a força motriz utilizada na "FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA".
A fábrica era a concessionária em PORTUGAL e ILHAS adjacentes da patente internacional, "STANDARD SUPER-MOULDING CO. LTDA.", para a moldagem de pneus das marcas "MICHELIN", "ENGLEBERT" e "DUNLOP". Mas a gama de produtos fabricados era vastíssima, desde acessórios para bicicletas, motas, automóveis, mangueiras para diversas funções, sacos de água fria e quente etc.. Um sector muito importante da produção era o calçado, fabricando-se desde galochas a sapatos.
Em 1940, a fábrica imprime um catálogo de calçado para a época de Inverno com os respectivos preços, destacando nessa publicidade a marca registada "CRUZ DE CRISTO".
A 4 de Junho de 1974 a entidade patronal da "Fábrica de Borracha Luso-Belga" põe em marcha um processo de falência, vindo a encerrar as portas em 1975.

Dotada de umas instalações, exemplares de arquitectura Industrial oitocentista, formava uma unidade, ocupando um quarteirão amplo com um conjunto de edifícios distribuídos por várias zonas: uma mais moderna, actualmente ocupada por escritórios com frente para a "Rua do Açúcar", zonas de produção que integram um edifício mais antigo, datado do século XIX, com telhados em "SHED", e a zona das caldeiras onde se erguia uma ampla chaminé em tijolo.

No "ARQUIVO DE HISTÓRIA SOCIAL do ICS-INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA, encontra-se arquivado o processo de insolvência da "FÁBRICA DE BORRACHA LUSO-BELGA". Cota: FG 3843-CS0319 data 06/05/1974 - LISBOA - TÍTULO - Nota informativa do Delegado dos "SERVIÇOS DE ACÇÃO SOCIAL DO MINISTÉRIO DO TRABALHO".
Informação sobre a fábrica de artigos de borracha - Fábrica Luso-Belga de (Victor C.Cordier): encerramento da fábrica; falência; apoio para concessão de empréstimo no (Banco do Fomento); (...) ocupação de instalações pelos trabalhadores. 13 fl. ms. papel (cópia). NOTAS - Documentos reunidos num dossier sob a epigrafe «REIVINDICAÇÕES».

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XII ]-A COMP. PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOC. NAC. DE FÓSFOROS»

RUA DO AÇÚCAR [ XII ]

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 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Actual aspecto da fachada da "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (Finais do séc. XIX) (Aspecto da fachada na "Rua do Açúcar" da "Fábrica de Fósforos" inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1998) (Planta Aerofotogramética 6/8 escala 1:2000, actualizada em 1987, das antigas instalações da "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar", contornando para a "Rua Capitão Leitão" e traseira para a "Rua Afonso Anes Penedo") inCAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1920) - (Planta do Pavimento da "Companhia Portuguesa de Fósforos" sua fábrica do Beato, com frente para a "Rua do Açúcar", pertencente ao Arquivo de Obras da CML.)(Processo de obras nº 8517-Fábrica dos Fósforos) in  CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (depois de 1925) (Caixa de fósforos produzida na "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar", alusiva a LISBOA) in MUSEU DOS FÓSFOROS
Rua do Açúcar - (depois de 1926) (Desenho gráfico de Roberto) (Anúncio da "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" incentivando, ricos, remediados e pobres a juntar 100 tampas de caixas para se habilitarem a um "Citroen") in RESTOS DE COLECÇÃO

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XII ]

«A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 1 )»

A extensão da «QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA» era enorme, embora tivessem as suas casas nobres no topo com frente para a "ESTRADA DE MARVILA", adquirem em 1707 mais casas e terreno, ficaram também com frente para a antiga "ESTRADA DE SÃO BENTO PARA O POÇO DO BISPO" (hoje "RUA DO AÇÚCAR"). São nestes terrenos que vamos encontrar instalada entre 1895 e 1985 esta actividade de fósforos tão peculiar nesta zona Oriental da Cidade de LISBOA.
Nos finais do século XIX, o fabrico de fósforos ou acendalhas passou da fase oficial e manufactureiro para a industrial. Este processo tecnológico deve-se às significativas descobertas dos processos químicos para o aperfeiçoamento da acendalha, registados na primeira metade de oitocentos. Um dos avanços mais significativos ficou a dever-se a «E. KOPP» e a «SCHROTTER» que introduziram uma modificação alotrópica do fósforo ordinário, ou seja, a combustão deixou de ser tóxica ou inflamável.
Em 1855, industriais suecos começaram a aplicar estas propriedades ao fósforo ordinário, passando no futuro a ser denominado este produto por "fosforo vermelho", "fósforo sueco ou fósforo de segurança".
O "INQUÉRITO INDUSTRIAL de 1890" testemunha este facto, pois menciona, em Lisboa, diversas pequenas unidades fosforeiras, onde o carácter mecanizado da produção é diminuto.
O ESTADO pretendeu inverter esta situação, alargando à produção fosforeira as tendências de centralização e monopólio ou exclusivo, estratégia aplicada, na maior parte das vezes aos sectores dos "TABACOS" e dos "SABÕES".
Assim, a partir de 1891, lançou-se um concurso com o objectivo de desenvolver uma industria exclusiva de fósforos. Mas dificuldades diversas e a renda elevada da oferta da concessão, situada em 280.500$000 réis anuais, afastava os candidatos a empresários.
Em 1895 surge a "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS" através de uma proposta do político "HINTZE RIBEIRO". O ESTADO viabilizou um contrato que acabou por ser assinado com os accionistas dos fósforos, em 25 de Abril desse ano. O objectivo consistia na exploração exclusiva do fabrico e venda de fósforos em Portugal.
Assim, a "COMPANHIA" liquidou todas as pequenas fábricas que existiam no país instalando as novas unidades fabris em LISBOA na "RUA DO AÇÚCAR" ao BEATO, e no PORTO em (Lordelo).
A exclusividade da produção prolongava-se por um período de trinta anos, durante o qual se procedia ao prolongamento da renda anual ao ESTADO, estabelecida em contrato.
Anterior a esta firma já tinha existido neste espaço, em regime livre, como hoje, a «FÁBRICA LISBONENSE»( 1 ).

( 1 ) - Norberto de Araújo - Peregrinações em Lisboa, livro XV - LISBOA pág. 74 - 1993

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XIII ]A COM. PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS"( 2 )»

RUA DO AÇÚCAR [ XIII ]

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 Rua do Açúcar - (1998) Foto de António Sacchetti (Aspecto exterior da antiga fábrica da "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" na "RUA DO AÇÚCAR" in CAMINHO DO ORIENTE
 Rua do Açúcar - (1911) (Anúncio da "COMPANHIA PORTUGUESA DE PHOSPHOROS" com a sua fábrica de laboração na "Rua do Açúcar" e escritórios na "Rua de S. Julião, 139) inRESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Açúcar - (1920) (Alçados e Planta da casa das Caldeiras da "Companhia Portuguesa de Fósforos" na "Rua do Açúcar", pertencente ao Arquivo de Obras da C.M.L. - Processo Nº 8517 - Fábrica dos Fósforos) inCAMINHO DO ORIENTE 
 Rua do Açúcar - (ant. 1925) - Caixas de fósforos "contra o vento", produzidas na "Companhia Portuguesa de Fósforos" na "Rua do Açúcar") in MUSEU DOS FÓSFOROS
Rua do Açúcar - (1926) (Caixas de fósforos produzidas pela "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar" - Lisboa - Alusiva ao "ADAMASTOR" in MUSEU DOS FÓSFOROS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XIII ]

«A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 2 )»

A sede social ficou em LISBOA, na "RUA DE S. JULIÃO, número 139. A «COMPANHIAPORTUGUESA DE FÓSFOROS» teve um capital de 2 400 000$000 réis, através de acções e obrigações. A maioria dos accionistas eram portugueses, aos quais se associaram algumas casas estrangeiras, principalmente o "BANCO DE PARIS" e o dos "PAÍSES BAIXOS".
O capital social foi crescendo significativamente em 1922 atingia o valor de 9 000 000$00  e em 1978, de 25 000 000$00 escudos. A Administração da Sociedade foi confiada a um conselho composto por um número variável, entre cinco ou nove elementos, com preferência para a nacionalidade portuguesa, segundo os Estatutos de 1909. Alguns empresários que integravam a Administração, em 1895 eram, o "VISCONDE DE CARNAXIDE", "CARLOS REINCKE", "JORGE O´NEIL", "MANUEL DE CASTRO GUIMARÃES" e "J.W.H.BLECK".
A tendência caminhava para o aumento da produção e para um alargamento dos mercados às ILHAS e COLÓNIAS portuguesas. O certo, é que em 1922, publicita-se a filial de ÁFRICA, localizada em LUANDA e denominada por «SOCIEDADE COLONIAL DE FÓSFOROS, LDA.". Dois momentos importantes de crescimento desta industria relacionam-se com as guerras mundiais.
Num período de actividade de cerca de 90 anos, a FÁBRICA DO BEATO, que inicialmente empregava mil operários, tinha em 1978 setenta e nove empregados, composto por 50% de homens e mulheres. Os indicadores numéricos revelam o crescimento e a sua decadência. No entanto não se pode esquecer a remodelação tecnológica e a automatização de alguns sectores da produção foram tendo ao longo do período de actividade, diminuindo assim naturalmente a presença do operariado.
A actividade da fábrica da "RUA DO AÇÚCAR" foi, nos seus primeiros trinta anos, marcados pela fase de exclusividade de mercado, em virtude da acção protectora do ESTADO. Mas em 1925, finda a concessão estatal, a "MATCH and TABACCO TIMBER SUPPLY CO." adquiriu todo o activo e o passivo da "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS", transferindo praticamente todo o capital para a "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS".
A actividade desta nova Empresa irá reger-se pela resposta constante à concorrência de outras grandes unidades, como a "COMPANHIA LUSITÂNIA DE FÓSFOROS" do PORTO e a "FOSFOREIRA PORTUGUESA" de ESPINHO.
À semelhança de outras industrias europeias, como a metalurgia "Grand Hornu" na BÉLGICA, os edifícios que integram o conjunto da unidade industrial organizam-se internamente, sendo pouco perceptível para o exterior da "RUA DO AÇÚCAR" os ambientes de laboração. De facto, a "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS" é uma das poucas industrias da "ZONA ORIENTAL DE LISBOA" que desenvolveu esta filosofia organizacional, não mostrando para a via pública elementos identificativos ou de ostentação, mais parecendo uma fortaleza que encerra em si toda a produção.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XIV ]-A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 3 )».

RUA DO AÇÚCAR [ XIV ]

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 Rua do Açúcar- (2010) foto de Barragon (Um troço da "Rua do Açúcar" onde vamos encontrar à nossa esquerda um edifício em estado degradado ver aqui, segue-se um prédio de rendimento, um espaço da "Rua José Domingos Barreiros", seguindo-se a antiga "Fábrica de Borracha Luso-Belga" e agarrado a este edifício as instalações da "Sociedade Nacional de Fósforos" até às imediações do "Palácio da Mitra") in SKYSCRAPERCITY 
 Rua do Açúcar - (1955) (A "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" anunciando duas novas marcas de fósforos "AVIADOR" e "GUARDA-CHUVA" para o mercado Nacional) in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua do Açúcar - (1929) (Caixas de fósforos produzidos pela "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS" na "RUA DO AÇÚCAR", com a marca "PÁTRIA" alusiva às "QUINAS" da Bandeira Portuguesa) in  MUSEU DOS FÓSFOROS
 Rua do Açúcar - (Década de 30 do séc. XX - Foto de autor não identificado (Festa na Creche da "Sociedade Nacional de Fósforos" na "Rua do Açúcar") in    ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO
 Rua do Açúcar - 32.12.1935 - Foto de autor não identificado (Momento durante a inauguração do Refeitório para o pessoal menor, da "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS") in    ARQUIVO NACIONAL TORRE DO TOMBO
Rua do Açúcar - (1922) - (Anúncio da "COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS" na "Exposição do Rio de Janeiro") in   CAMINHO DO ORIENTE 


(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XIV ]

«A COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS, DEPOIS SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS ( 3 )»

O interior desta "massame de betão" é composto por vários edifícios, uns localizando-se no interior do pátio e outros encostando-se ao muro da delimitação, muitos deles de dois pisos. A planta de 1920, revela-nos a localização interna das áreas funcionais de todos os restantes serviços de apoio. Das várias oficinas identificadas podemos destacar as estufas para fósforos e amorfos, a secção de massas químicas, de molha de fósforos, do enchido de fósforos e do empacotamento, entre outras. Este documento permite simultâneamente compreender a organização da unidade fabril, a identificação das várias secções existentes e o desenvolvimento tecnológico, num dos períodos mais significativos da história da empresa.
O projecto da casa das caldeiras, datado da mesma época, é um exemplo do crescimento da fábrica e de como a construção dos diversos sectores se realizou ma maioria das vezes, isoladamente.
A «COMPANHIA PORTUGUESA DE FÓSFOROS» produzia os fósforos suecos e os de cera. Em 1911, a "Fábrica do Beato" impressionava; "pela variedade de maquinismo que se encontram em numerosas e amplas oficinas, tendo em vista os mais delicados pormenores da divisão do trabalho. Em todas as instalações se nota o mais apurado método e uma excelente organização de serviços técnicos" ( 1 ).
A matéria-prima mineral era importada de França, sendo guardada em latas e colocadas em tanques cheios de água, para posteriormente ser aplicada nas cabeças dos palitos de cera (fósforo branco) ou na lixa das caixas dos fósforos suecos (fósforos vermelhos).
Para a fabricação dos fósforos eram necessários vários e numerosos operações, que podem resumir-se a quatro, no caso concreto das acendalhas vermelhas:
1) - Divisão da madeira eram pequenas hastes ou palitos;
2) - Preparação da pasta ou massa inflamável;
3) - A quimicagem;
4) - A excitação e embalagem.
Durante a década de trinta, a "SOCIEDADE NACIONAL DE FÓSFOROS", desenvolveu um forte plano de apoio social aos operários. Apesar de não ter construído casas para os empregados, a Sociedade criou um Serviço médico, um posto de socorros, um balneário, um refeitório, uma creche, uma cooperativa, um grupo desportivo, tudo no interior dos altos muros da "Fábrica do Beato". Por outro lado, desenvolveu uma política de subsídios, para o caso de doença ou invalidez.

( 1 ) - "Fábrica de Phosphoros", in Problemas e Manipulações Chimicas, Vol. III. LISBOA, 1911, pp 384-387.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XV ] - A FÁBRICA DE CORTIÇA NA QUINTA DA MITRA».

RUA DO AÇÚCAR [ XV ]

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 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (A Rua Central que constituía a antiga "Fábrica Seixas", na "Quinta da Mitra", mais tarde as instalações do "Asilo da Mitra") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) - (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Edifício na "Quinta da Mitra" construído no tempo da "Fábrica da Cortiça" que mais tarde serviu para outras actividades, hoje propriedade da Segurança Social) inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedido por Ricardo Moreira) (Outro aspecto do edifício em "tijolo à vista" construído no tempo da "Fábrica Seixas", depois utilizado para vários fins) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Os edifícios do lado direito da antiga "Fábrica Seixas", de duas águas, encimados por um óculo, construídos em tijolo e rebocados a cal) inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (ant. a 1998) (Foto de António Sacchetti) (Aspecto actual do edifício construído já na última etapa e confinado a Norte com os terrenos do Caminho-de-ferro, hoje propriedade da Segurança Social) inCAMINHO DO ORIENTE
Rua do Açúcar - (1987) (Planta aerofotogramétrica, escala 1:2000, Maio de 1963, actualizada em 1987, da "Fábrica de Cortiça na Quinta da Mitra") inCAMINHO DO ORIENTE 

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XV ]

«A FÁBRICA DE CORTIÇA DA QUINTA DA MITRA»

A «FÁBRICA DE CORTIÇA» estava localizada na «QUINTA DA MITRA», junto ao "PALÁCIO" com o mesmo nome, fundado por «D. THOMAZ DE ALMEIDA». Esta fábrica de cortiça, dos finais do século XIX, insere-se no universo das corticeiras de LISBOAORIENTAL que caracterizavam o ambiente fabril e operário da zona do "POÇO DO BISPO" e "BRAÇO DE PRATA".

Das diversas fábricas que existiram na parte Oriental de Lisboa, subsistem as lembranças da «SOCIEDADE NACIONAL DE CORTIÇA» (Situada na "Quinta dos Quatro Olhos" junto à "Rua do Vale Formoso de Baixo") e os edifícios que descrevemos da empresa catalã «FUERTES Y COMANDITA». Entre as mais célebres corticeiras desta zona, podemos referir-nos a de «NARCISO VILLALLONGA», na "RUA DO AÇÚCAR", 10-13; «ROMÃO DA SERRA LOPES» no BEATO e a de«ANTÓNIO BONNEVILLE» na "ESTRADA DE BRAÇA DE PRATA" aos OLIVAIS, todas referidas no "INQUÉRITO INDUSTRIAL" de 1890, algumas atestando a presença de fabricantes e capital catalão e espanhol neste sector industrial.
Com a venda da "Quinta da Mitra" para a construção da linha de Caminho-de-ferro,  "D.JOSÉ DE SALDANHA» «MARQUÊS DE SALAMANCA", poderoso banqueiro e empresário, adquire os terrenos agrícolas - ou pelo menos o que ainda deles restava - abandonados até 1888, altura da construção da unidade corticeira.

Localizada no antigo «ALBERGUE DA MITRA» junto do«PALÁCIO DA MITRA» existiu uma «FÁBRICA DE CORTIÇA» fundada em 1889, pertencia à firma "FUERTES Y COMANDITA" que, em 1917, passa para a empresa portuguesa «FÁBRICA SEIXAS», que a explorou até 1919. A dissolução só terá ocorrido em 1925 ( 1 ), que a partir dessa altura passou a  pertencer à Segurança Social.
Esta fábrica construída em alvenaria de tijolo aparente, reveste-se de algum interesse pela organização dos edifícios industriais e armazéns adjacentes uns aos outros.
A sua refuncionalização e adaptação, permitiu chegar até aos nossos dias a estrutura antiga da fábrica, cuja memória se esvaeceu no tempo, com a instalação de novas funções sociais.
Esta fábrica composta por uma alameda central ladeada de cinco edifícios de duas águas, encimados por um óculo , com portão e janelas laterais, de um lado e uma correnteza de dois pisos do outro, são os aspectos mais salientes do que subsistiu.
O referido arruamento confina com um grande edifício transversal de quatro pisos, mais recente, com largas janelas repetidas e uma platibanda a todo o comprimento.
As janelas e os portais do piso térreo revelam a mesma linguagem construtiva. Este último edifício encontra-se confinado a Norte com os terrenos do Caminho-de-ferro.
Um outro arruamento formado largo, à direita do término da rua central, define o espaço fabril, no qual se construiu um edifício centralizado que, provavelmente, se destinava à casa das máquinas.
Quase em todos os prédios notam-se obras de alguma qualidade de intervenção dos engenheiros industriais, que não quiseram deixar uma fábrica malfeita, mas sim uma obra de acordo com as modernas normas construtivas das fábricas de cortiça.
Este aspecto foi tido em consideração quando se reconverteu o espaço para «ALBERGUE». A qualidade pode detectar-se também no interior, embora aí exista a necessidade de destrinçar o que foi obra dos empresários da cortiça e o que resultou da adaptação para fins sociais.
Do ponto de vista arquitectónico estamos na presença de uma construção em tijolo suporto por vigas de ferro, mas rebocada a cal.
Num destes edifícios da antiga «FÁBRICA DE CORTIÇA» esteve durante anos depositado provisoriamente, muito material destinado ao «MUSEU DO BOMBEIRO».
No ano de 2004 todas as peças foram transferidas, para o novo "MUSEU DO BOMBEIRO" instalado num edifício de construção e arquitectura moderna em «CARNIDE», junto do "CENTRO COMERCIAL COLOMBO".

( 1 ) - Norberto de Araújo, INVENTÁRIO DE LISBOA, fasc. V, p.16

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVI ] - A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 1 )».


RUA DO AÇÚCAR [ XVI ]

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 Rua do Açúcar - (2009) (Panorama da "freguesia de MARVILA" na zona Oriental da cidade de Lisboa, onde incluía a "QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA" in   GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Fachada da casa dos "Marialvas" na "Rua do Açúcar" com o seu andar nobre. Era chamada de "Quintinha" tendo esta propriedade muitos proprietários, veio para a posse dos "Marialvas" em 01.10.1707)  in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Fachada da casa dos "Marqueses de Marialva" situada junto da antiga cerca do "Convento de S. Bento de Xabregas", na "Rua do Açúcar") in  GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) (Um troço da "Rua de Marvila" onde começavam as terras e o Palácio dos "Marqueses de Marialva" para a nossa esquerda) in GOOGLE EARTH 
Rua do Açúcar - (2013) A "Rua de Marvila" no lado direito e até sensivelmente ao Pátio do Marialva" existiu o "Palácio dos Marialvas" do século XVII ao século XIX) inGOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XVI ]

«A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 1 )»

A enorme «QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA» ocupava parte significativa da encosta de "MARVILA", resultou da união entre duas parcelas foreiras ao MORGADO DOESPORÃO. Uma mais a norte, entrou na posse da família em data incerta, sendo no entanto frequentes os registos de baptizados e casamentos na freguesia dos OLIVAIS, a partir de 1663, podendo pois conjecturar-se que, pelo menos desde o célebre «1º MARQUÊS DE MARIALVA, "D. ANTÓNIO LUÍS DE MENESES», a quinta se encontra na posse da família. Outra, vizinha, dita a «QUINTINHA», adquirida em 1707 pelo "2º MARQUÊS DE MARIALVA o 4º Conde de Cantanhede, D. PEDRO ANTÓNIO DE MENESES"(1658-1711), com casas ainda existentes, sobre a "Estrada de São Bento para o Poço do Bispo".
Quanto à primeira e principal, tinha as suas casas nobres no topo sobre a "RUA DEMARVILA", onde ainda se podem ver alguns restos em deplorável estado de conservação.
Pela descrição junta, respeitante a 1747 podemos conjecturar as linhas mestras deste notável conjunto, transformado, como se percebe pela descrição mais tardia de «WILLIAMBECKFORD», em verdadeiro santuário de louvor  à figura do 1º MARQUÊS.
Nada resta da grande CAPELA, decorada com as bandeiras das Batalhas das "LINHAS DE ELVAS" e de "MONTES CLAROS", como afirma o citado inglês, parte da aura mítica dessa grande figura da história portuguesa. Aliás a vontade de exaltar a participação nesse momento histórico parece ter sido uma preocupação de alguns aristocratas, devendo citar-se a Capela de "D. GASTÃO COUTINHO", ao "GRILO", também decorada de  bandeiras, esta quinta dos Marialvas, em Marvila, é, com certeza, a célebre "Sala das Batalhas" na "Quinta de Benfica", dos "Marqueses de Fronteira", a única lembrança dessa gente aristocrata que permanece felizmente intacta.
Os "MARQUESES DE MARIALVA" encontraram-se frequentemente nesta quinta, pois são contínuos os registos de baptizados, casamentos e óbitos desde 1663.
O último assinalado é a morte do 3º Marquês, o estribeiro-mor, «D. DIOGO DENORONHA», em 1761, já viúvo da Marquesa senhora da casa. Após o terramoto e com a doação de "D. JOSÉ" ao 4º MARQUÊS, «D. Pedro», da "Quinta da Praia", em Belém, esta torna-se a residência principal desta casa, substituindo o desaparecido "PALÁCIO DO LORETO" (hoje PRAÇA LUÍS DE CAMÕES).
Quanto à "Quinta de Marvila" entra em progressivo declínio, como a conheceu «BECKFORD», com a natural aura de abandono tão sugestiva para a sua sensibilidade romântica. Era sobretudo utilizada para passeios familiares, sem se detectar efectiva residência na grande propriedade, em parte alugada para exploração.
Pela descrição  junta, sabemos que, além das casas ainda existentes da "QUINTINHA", possuíam mais outras na parte de baixo da quinta, sobre a estrada, certamente um pavilhão de regalo com vistas sobre o RIO TEJO, no fim da propriedade.
Este grande conjunto dos «MARIALVAS» na parte poente, foram ocupados em parte pelas instalações industriais da «SOCIEDADE NACIONAL DE SABÕES», tendo sido o restante, após a abertura da linha do caminho-de-ferro, escavado a pique, encontrando-se nesse plano baixo traçadas hoje as artérias, "RUA JOSÉ DOMINGOS BARREIROS" e "RUA CAPITÃO LEITÃO", onde também estiveram instaladas duas grandes industrias (de que já fizemos referência). Na "Rua Capitão Leitão" e "Rua Afonso Annes Penedo" funcionaram também grandes Armazéns de Vinhos, Tanoarias, um conjunto de  oficinas e algumas habitações operarias.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]-A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA( 2 )» 

RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]

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 Rua do Açúcar - (2013) Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira (A antiga Casa Nobre da "QUINTINHA" na "Rua do Açúcar",  que no século XIX pertencia à "Quinta de Marvila" dos  "Marqueses de Marialva", que nessa altura tinha  frente para o RIO) inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Varandim anexo ao primeiro piso da Casa Nobre dos "Marialvas" na "Rua do Açúcar") in  GOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (2013) (Um troço da "Rua da Açúcar" no lado direito as casas da "QUINTINHA", que foram propriedade dos "Marqueses de Marialva") in  GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) - (Aspecto da casa e seu varandim corrido, que no século XIX era utilizado para contemplar o bom panorama sobre o RIO que dali se desfrutava) inGOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) (Entrada para o "Pátio da Quintinha" era uma das propriedades que faziam parte da grande "Quinta de Marvila" dos "Marqueses de Marialva" inGOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XVII ]

«A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 2 )»

A «QUINTA DE MARVILA» dos«MARQUESES DE MARIALVA» até ao final do segundo quartel do século XIX. Em linha recta da "Rua do Açúcar" até à "Rua de Marvila" seguindo perpendicular à "Rua Capitão Leitão", atravessando a via-férrea, tudo na parte Norte. Nesta "Rua de Marvila" os "Marialvas" tinham o seu Palácio (que acabaram por abandonar). Seguindo para Sul, depois de passar a "Azinhaga dos Alfinetes", vamos ali encontrar o "Pátio do Marialva". Descendo obliquamente para Sul em direcção à "Rua do Açúcar" finaliza na propriedade chamada "Quintinha", de que lhes vamos falar.
A «QUINTINHA» era uma das várias propriedades foreiras da «GRANDE QUINTA DE MARVILA», integrada no Morgado do "ESPORÃO", ao qual pagava 3200 réis e sete galinhas de foro, segundo a escritura que fez "DONA INÁCIA DE NORONHA", viúva de "JOÃO DA COSTA", a "FRANCISCO DE TÁVORA", em 1584 ( 1 ). A propriedade esteve na maior parte do século XVII na posse da família COTRIM, sendo seu proprietário, em 1633 ( 2 ), escrivão - como seu pai "JORGE COTRIM" - dos Armazéns da Ribeira das Naus (1641) ( 3 ) de que foi capitão de infantaria dos carpinteiros (1645) ( 4 ). Sucedeu-lhe "JORGE COTRIM DE MELO", embarcado nas armadas da costa a partir de 1681. Anos depois (1687), o rei permitiu-lhe renunciar ao ofício de escrivão que herdara de seus maiores (...) "para se desempenhar das dívidas que tem" ( 5 ). Foi devido aos grandes empenhos com que se debatia que lhe foi penhorada a propriedade, pela acção movida por «JOÃOREBELO DE CAMPOS», seu credor em 2 806 944 réis, a quem foi passada carta de arrematação em 03.03.1707. "JOÃO REBELO", Corretor da Fazenda, vendeu-a em (01.10.1707) ao 2º. Marquês de Marialva, «D. PEDRO DE MENESES" que ali junto possuía a sua quinta. Pagou este 2 400 000 réis, com licença do Marquês de "FONTES", tutor do "CONDE DE VILA NOVA DE PORTIMÃO", a quem teve de pagar laudémio( A ) de quarentena. Situada junto da cerca do "Convento de S. Bento de Xabregas", é então descrita como: "(...) casas nobres, estrebarias, vários palheiros, pátio e seu poço de nora, tanque, vinha e árvores de fruto e outras pertenças que partem da banda do mar com casas do Conde de Vila Nova e da banda de terra outrossim com casas do mesmo conde e do poente com casas e quinta que foi de D. Helena de Távora e do norte com caminho que vai de onde chamam o GRILO para o Poço do Bispo e do sul com estrada que vai de Xabregas para o mesmo Poço do Bispo ( 6 ). 
Tratou o Marquês de fazer obras na quinta, celebrando um contrato com um carpinteiro em (05.07.1709).
Arrendada de quando em vez, a quinta e suas casas, à imagem de toda a grande propriedade do Marquês, não evitou a progressiva degradação, a partir da segunda metade do século XVIII. No ano de 1762 - situada entre a "QUINTA DAS MURTAS" e uma propriedade do CONDE DE VILA NOVA, antes da "QUINTA DA MITRA" - foi arrendada em 120 000 réis, constituída por: "(...) casas nobres, com lojas e primeiro andar com todos os mais cómodos precisos, árvores de fruta de caroço, parreiras e horta ( 7 ). Outras vezes apenas o casco da quinta era arrendado. 
Com a morte do último "MARQUÊS DE MARIALVA"(1823) passou a propriedade para a posse da "CASA DE LAFÕES". Nos anos de 1838 e 1839, sendo seu proprietário "JOÃO CÂNCIO DE MATOS", era conhecida por «QUINTINHA» ( 8 ), designação que perdura ainda no "PÁTIO DA QUINTINHA", ilha, popular ali instalada. As antigas casas nobres, apesar de transformadas nos seus interiores, mantêm grande parte da sua estrutura, devendo citar-se os revestimentos de azulejos de desenho típico dos séculos XVII e XVIII.

( 1 ) e ( 6 ) -IAN/TT,CN, C-9A, Cx. 61, Lº. 338, fls. 9v-12
( 2 ) -IAN/TT,ACA, Morgado do Esporão, mç. 194, doc. 4003.
( 3 ) -IAN/TT, Chancelaria de D. João IV, Lº. 13. fl. 33
( 4 ) -IAN/TT, Chancelaria de D. João IV, Lº. 19, fls. 43-44
( 5 ) -IAN/TT, Chancelaria de D. Pedro II, Lº. 64, fl. 210v
( 7 ) -AHTC, DC, Olivais, Livro de Arruamentos, mç. 852
( 8 ) -AHTC, Tesouro Público, mç. 124
SIGLAS
IAN/TT-Instituto de Arquivos nacionais / Torre do Tombo
CN - Cartórios Notariais
ACA - Arquivo da Casa de Abrantes
AHTC - Arquivo Histórico do Tribunal de Contas
DC - Décima da Cidade
( A ) -Laudémio - Pensão que o foreiro paga ao senhorio directo, quando há alienação do        respectivo prédio por parte do enfiteuta.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XVIII ] A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 3 )».

RUA DO AÇÚCAR [ XVIII ]

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 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Em terrenos que anteriormente foram da "Quinta de Marvila" dos "Marqueses de Marialva", ergue-se agora este belo edifício moderno, que supostamente pertence à "SOC. GERAL", e dedica-se a arrendar espaços para escritórios, situado na "Rua do Açúcar", 86) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar -  (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Fachada do Moderno edifício, nos terrenos da antiga "Quinta de Marvila" que pertenceram aos "Marialvas") in ARQUIVO/APS 
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Um troço da "Rua do Açúcar" onde podemos observar o estado degradado do "observatório" para o rio, da chamada "Quintinha" que fazia parte da "Quinta de Marvila") inARQUIVO/APS
Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Este edifício que possivelmente serviu de fábrica ou armazém, foi construído no espaço que pertenceu à "Quinta de Marvila" virada para a "Rua do Açúcar") in  ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Um troço da "Rua do Açúcar" sentido para Norte, no lado esquerdo a "Rua dos Amigos de Lisboa" inGOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) (Uma panorâmica tirada da "Rua da Cintura do Porto" para a "Rua do Açúcar" no sítio da grande "Quinta de Marvila") inGOOGLE EARTH

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XVIII ]

«A QUINTA DO MARQUÊS DE MARIALVA ( 3 )»

A «QUINTINHA» pertenceu ao conjunto da propriedade que o «MARQUÊS DE MARIALVA" tinha nesta área, cujo palácio se situava próximo do actual "PÁTIO DO MARIALVA", e os seus terrenos desciam até ao Tejo.
Como se sabe o palácio ainda visitado por "BECKFORD" em finais do século XVIII, foi descrito pelo nobre inglês como bastante arruinado, e dele hoje pouco resta. A quinta ou pavilhão que agora de desvenda, teve maior fortuna, podendo ser reconhecido como peça da arquitectura civil do século XVII ainda com decoração azulejar coeva e campanhas de obras no século XVIII.
A decoração cuidada dos interiores permite pensar que se trataria de um pavilhão de apoio a um antigo "CAIS MARIALVA", destruído para se ganhar terreno ao TEJO, como aliás o cais da "QUINTA DA MITRA", situado e escassos metros mais à frente.
As salas com abertura a nascente, davam acesso a um grande terraço, sobre o TEJO, de onde se desfrutava ainda no início do século XX de um panorama deslumbrante.
O "Pátio da Quintinha", uma das ilhas de habitação operária de Lisboa Oriental, protegido pelos antigos muros, edifícios para armazéns e fachadas de edifícios da quinta, a ilha franqueia-nos a entrada por um portão desmantelado.
Entramos num antigo pátio de calçada em basalto que se prolonga por baixo de um arco, passadiço da antiga Casa Nobre para outras dependências onde ainda se vêm restos de um muro de varanda ou terraço. No Pátio, restos de uma fonte ou poço, são também memória muito destruída da antiga casa.
A construção de habitações precárias foi tomando conta de todos os possíveis espaços, utilizando muros, armazéns, terraço como elemento de suporte. Os sucessivos habitantes foram criando uma nova realidade de pátio de habitação operária, num ambiente que ainda tem qualquer coisa de rural.
No século XIX a "QUINTA DE MARVILA" dos "MARQUESES DE MARIALVA" chegou a ter uma frente na via que dava para o rio, ou seja a actual "RUA DO AÇÚCAR" juntamente com o início da "RUA DO BEATO", que representa hoje desde a "RUA CAPITÃO LEITÃO" até ao final da entrada para o "PÁTIO DA QUINTINHA".
Nesta propriedade dos "Marqueses de Marialva" junto à actual "RUA DO AÇÚCAR" (na sua parte mais a sul), tem vindo a aparecer novas construções, substituindo os prédios que se vão degradando. Estamos a recordar-nos de um grande edifício pegado à "QUINTINHA" no sentido norte, uma nova construção de cor alaranjado escuro, tendo aspecto de ter sido uma fábrica, com armazéns e escritórios no primeiro piso. Segue-se um outro edifício de grandes proporções com jardins circundantes, linhas modernas que possivelmente serve uma empresa que arrenda espaços para escritórios, com ligação à "SOC. GERAL DE PROJECTOS IMOBILIÁRIOS E SERVIÇOS -SGPS", com entrada pela "Rua do Açúcar" e "Rua Amigos de Lisboa". Neste edifício existe uma representação da "antiga" "SACORMARÍTIMA", fazendo hoje parte (possivelmente) da "PETRÓLEOS DE PORTUGAL - PETROGAL".

DESCRIÇÃO DA «QUINTA DOS MARQUESES DE MARIALVA» EM «MARVILA», CONSTANTE DE UNS AUTOS DE 1747.
"QUINTA DE MARVILA" - "Uma quinta no lugar de Marvila, (...) a qual fica no caminho que vai do Grilo para os Olivais e começa no mesmo caminho para onde tem as casas e serventia principal e vai acabar no outro caminho junto ao mar que vai de "SÃO BENTO DOS LÓIOS para o POÇO DO BISPO", e constam de casas nobres que são muitas com galerias e mais oficinas, casa de oratório e ermida grande com tribuna e sacristia, retábulo entalhado e dourado com, serventia para o caminho dos OLIVAIS e na entrada ficam dois recebimentos em forma de alegretes com dois tanques, um maior que outro, que se comunicam com a horta, e tabuleiro com seus passeios e um jardim grande; destas casas se acham seis azulejadas e ladrilhadas, e tem em si vinhas e várias árvores de fruto e recreio, e no fim dela junto à estrada duas casas de campo com janelas para a estrada que vai para o POÇO DO BISPO, e tem dentro mais uma horta, casa de água e uma nora e umas cozinhas térreas com seu pátio, e atendendo a ser (...) a quinta de regalo a ser maior o que nela se despende do que o rendimento que dela se pode considerar (...).
Uma quinta chamada de COTRIM e parte com a quinta principal acima (...) e consta de casas nobres com vista para o mar e entrada que vai do GRILO para o POÇO DO BISPO de onde tem serventia, com estrebaria, palheiro, pátio, poço de nora, tanque, horta, vinha e árvores de fruto e terra de pão grande chamada a PEDREIRA, e da banda do mar.
Declaro mais que no dito sítio de MARVILA defronte da quinta principal há vários prazos em vida que (...) passaram (...) na forma de testamento da Excelentíssima Marquesa a seu filho o Excelentíssimo CONDE DE CANTANHEDE".

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«A RUA DO AÇÚCAR [ XIX ] A QUINTA DO BETENCOURT(1 )»

RUA DO AÇÚCAR [ XIX ]

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 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Um troço da "Rua do Açúcar" onde podemos observar o portal e o suporte onde deveria estar colocada a "Pedra de Armas" da "Quinta do Betencourt") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar- (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Fachada da residência do proprietário da "Quinta do Betencourt", na "Rua do Açúcar") inARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Um troço da "Rua do Açúcar" frente à residência da "Quinta do Betencourt") in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Pereira) (Sensivelmente neste sítio existia uma fábrica de Açúcar refinado do industrial "Christian Smith", que veio dar o nome a esta artéria) in ARQUIVO/APS
 Rua do Açúcar (2013) (Pormenor do portal onde se encontrava a pedra de Armas de "Pedro de Almeida Betencourt", hoje desaparecida) in GOOGLE EARTH
Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Na "Rua do Açúcar" uma parte da casa nobre da "Quinta do Betencourt") inARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO) - RUA DO AÇÚCAR [ XIX ]

«A QUINTA DO BETENCOURT ( 1 )»

A propriedade integrou o vínculo instituído por "LÁZARO LOPES DE ALMEIDA" e sua mulher, "D. FRANCISCA DIAS" (1634), com Capela na antiga Igreja do "CONVENTO DE S.FRANCISCO DE XABREGAS", em cujo cruzeiro foram sepultados, segundo disposição testamental ( 1 ). Este casal, sem geração "morador no POÇO DO BISPO na sua quinta de Xabregas sita junto do Convento de S. Bento, aforada ao Conde de "Figueiró", em 24.03.1645 apadrinhou "JOSÉ" ( 2 ),filho de "PEDRO DE ALMEIDA BETENCOURT", cuja família ficaria ficaria com a administração do Morgado de "LÁZARO LOPES".
"PEDRO BETENCOURT", que pouco anos decorridos estava na posse da "QUINTA DEMARVILA" (1669) servira, como seu pai, a CASA DE BRAGANÇA em VILA VIÇOSA de onde passara a LISBOA na companhia de«D. JOÃO IV».
Guarda-roupa do "PAÇO" acumulou o cargo de escrivão da fazenda do "CONSELHO DARAINHA", mantendo-se o cargo na família durante os reinados de "D. PEDRO V" e "D. JOÃO V".
«JOSÉ DE ALMEIDA BETENCOURT» e seu filho "PEDRO", ali baptizado em vida do avô (1676), mantiveram a sua residência na Quinta. Em 1763 a propriedade foi avaliada em 7 000 cruzados, sendo composta por quinta, casas nobres e mais sete moradias de casas pertencentes à dita quinta.
Era arrendatário, e morador, "CHRESTIANO ESMITE" ou "CHRISTIANO SMITH", "homem de negócios de grosso trato, que pagava 300 000 réis, mantendo-se até 1782". Depois de um período em que esteve devoluta, passou a conhecer a rotatividade entre os arrendatários: "JOÃO LISBOA" (1785) em parte das casas altas, estando o resto devoluto; "ANTÓNIO REBELO"(1786-89) e já no século XIX "ANA MAURÍCIA REBELO"(1814).
A adaptação a diferentes funções esquartejou por completo o seu interior. Transformado em vila operário ("o pátio Beirão") depois em Escola, mais tarde retomou a sua função primitiva, como habitação.
Assim, esta propriedade, parte integrante da grande "QUINTA DE MARVILA", a quem pagavam foro ( com o número 18 conforme se indica no mapa), era constituída por uma faixa rectangular de terreno entre a "RUA DIREITA DE MARVILA" e a "ESTRADA DOPOÇO DO BISPO", com acesso inicial pelas duas vias, confrontando a Norte com o "CONVENTO DE MARVILA"  e a Sul com os terrenos que em 1752 constituíam uma courela ainda adstrita à "CASA DE VILA NOVA" (ABRANTES).

( 1 ) - IAN/TT, RGT, Lº. 11 fls. 34v-36v
( 2 ) - INA/TT, RP Nª. Senhora dos Olivais, Baptismos cx. 1, Lº. 4

SIGLAS
INA-Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo
RGT - Registo Geral de Testamentos
RP - Registos Paroquiais

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA DO AÇÚCAR [ XX ] -A QUINTA DO BETENCOURT ( 2 )»

RUA DO AÇÚCAR [ XX ]

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Rua do Açúcar - (2013) (Fachada da propriedade na "Rua do Açúcar" da antiga "Quinta do Betencourt") inGOOGLE EARTH 
 Rua do Açúcar - (2013) (Fachada da Casa Nobre de Betencourt na "Rua do Açúcar" obtida do lado nascente (Poço do Bispo) inGOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar- (2007) - Panorâmica da "Quinta do Brtencourt", representa a primeira faixa de terreno entre a "Rua do Açúcar" e a "Rua Direita de Marvila" junto da passagem de nível. Segue para norte a "Quinta do Convento", fazendo parte as duas propriedades da antiga "Quinta de Marvila") in GOOGLE EARTH
 Rua do Açúcar - (2013) (Foto gentilmente cedida por Ricardo Moreira) (Uma parcela do edifício nobre da velha "Quinta do Betencourt") inARQUIVO/APS
Rua do Açúcar - (2010) (Foto de Barragon) (Início da "Rua do Açúcar" vendo-se depois do edifício de cor azul, a fachada da casa Nobre da "Quinta do Betencourt") inSKYSCRAPERCITY

(CONTINUAÇÃO) - «RUA DO AÇÚCAR [ XX ]

«A QUINTA DO BETENCOURT ( 2 )»

O foreiro mais antigo de que há informação é «LÁZARO LOPES DE ALMEIDA», que vinculou a propriedade a favor da família «ALMEIDA BETENCOURT», por certo seus familiares. É natural que inicialmente as casas se dispusessem no cimo da Quinta, sobre a "RUA DE MARVILA" então o eixo principal, levando a alteração da importância das vias públicas à escolha mais tardia da implantação da nova residência sobre a «ESTRADA DOPOÇO DO BISPO». Não existe informação sobre a data exacta da construção desta interessante fachada, bom exemplar da casa nobre urbana lisboeta do século XVIII, virada para a actual "RUA DO AÇÚCAR".
É certamente, tendo em vista alguns elementos decorativos, desenho  do portal de acesso, com frontão triangular, vergas curvas nas aberturas e grades das sacadas, datadas do segundo quartel do século XVIII em diante, quando estes elementos arquitectónicos se vulgarizam entre nós.
Podemos assim pensar tratar-se de uma campanha de obra da iniciativa do último membro da família "BETENCOURT", «PEDRO DE ALMEIDA BETENCOURT», aqui residente nesse período pelo menos até 1763, data em que na casa residia já «CHRISTAN SMITH».
O facto de sobre o portal se encontrar ainda o suporte para a pedra de armas, entretanto desaparecida, parece confirmar a hipótese de o construtor ser o referido senhor, dado que nenhum dos posteriores locatários teriam direito a uso de brasão. O citado cidadão inglês instalou nesta propriedade uma «FÁBRICA DE AÇÚCAR», eventualmente a origem que veio a dar o nome à actual "RUA DO AÇÚCAR". 
Sabendo que dela faziam parte algumas outras casas anexas, é possível que a referida fábrica - por certo de pequenas dimensões - se localizasse nessa dependência e não na Casa Nobre, a qual sabemos, pelos LIVROS DA DÉCIMA, habitada por "CHRISTIAN SMITH" até 1782.

A estrutura de construção é muito simples, embora denote algum cuidado, quer nos pormenores decorativos, quer na rigorosa obediência às regras da simetria. Sobre o piso térreo - inicialmente destinado a cavalariças e armazéns - corre o andar nobre de sacada que, para trás, é rés-do-chão, abrindo sobre um terraço lajeado.
A este andar se sobrepõe um mezanino ( 1 ),de  vão e abertura muito pequenas. Ao centro do piso térreo abre-se o portal - muito prejudicado nas suas proporções pela subida do nível da rua - que dá entrada para um vestíbulo agora compartimento, de onde nascia lateralmente a escada muito simples para o andar nobre.
Ao fundo desse vestíbulo abre-se um arco de acesso a um corredor largo que vencia em rampa o desnível da encosta, conduzindo ao referido terraço e deste por escada ao jardim e quinta (onde hoje funcionam os viveiros camarários) e na qual ainda se destaca o antigo poço com a sua nora.

( 1 ) - MEZANINO - Sobreloja; piso baixo entre dois mais altos, geralmente entre o rés-do-chão e o 1º andar.

(CONTINUA) - (PRÓXIMO) «RUA DO AÇÚCAR [ XXI ] A VILA PEREIRA»  

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