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Channel: RUAS DE LISBOA COM ALGUMA HISTÓRIA
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TERREIRO DO PAÇO [ V ]

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O PAÇO DA RIBEIRA ( 5 )
 Terreiro do Paço - (1707) - Desenho de autor não identificado (O Terreiro do Paço e o seu Palácio do Paço no século XVIII)  in  AS MURALHAS DA RIBEIRA DE LISBOA
 Terreiro do Paço - (século XVIII- Banda Desenhada) (A vista da cidade de  LISBOA, acrescentado o pormenor das suas localizações serem assinaladas numericamente. Esta obra, feita por dois artistas Belgas para a BD e retirada do Facebook de JOSÉ VALENTE)  in FACEBOOK - JOSÉ VALENTE 
 Terreiro do Paço - (Século XVI) Gravura em cobre (Vista geral de Lisboa. A cidade de LISBOA já então se alastrava consideravelmente e mirava o Tejo do alto das suas colinas) in  LISBOA - LELLO & IRMÃOS - ENCYCLOPÉDIA PELA IMAGEM
Terreiro do Paço - (1682) (Gravura de autor não identificado) (Uma execução no Terreiro do Paço pela Inquisição Portuguesa. Eram condenados em cerimónias chamadas de auto-de-fé, a morrer na fogueira)  in LISBOA DO SAPO 

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PAÇO [ V ]

«O PAÇO DA RIBEIRA ( 5 )

Essa varanda comunicava com "outro quarto, não menos majestoso, com suas galerias, eirados e torreões"; ali assistiam habitualmente os infantes, irmãos ou filhos dos Reis, e em 1754, quando o autor escrevia, servia este quarto de residência à Rainha-mãe, a senhora D. MARIA ANA DE ÁUSTRIA. Existiam ali "grandes e preciosas antecâmaras, com tapeçarias e móveis inestimáveis, e pinturas dos mais notáveis autores", observa o nosso cronista.
Residia El-Rei D. JOSÉ I, como alguns dos seus antecessores, no torreão filipino chamado "DO FORTE"; era este torreão a melhor habitação de todo o Palácio. "as sua antecâmaras, salas e gabinetes, encerram - diz o autor - o mais precioso que pode a terra dar, porque as tapeçarias de oiro, prata, veludo, damasco e outras sedas, quadros de admiráveis pinturas, e toda a mobília, dão a conhecer a soberania da Majestade que o ocupa". Que pena não ter querido descer a mais pormenores topográficos.
"A casa dos Embaixadores é a melhor da Europa"(ficava no segundo andar do Torreão).  Diz ainda que existia neste palácio uma notável BIBLIOTECA que constava de muitos livros e manuscritos raros ou únicos, que para o seu enriquecimento muito contribuiu o senhor Rei D. JOÃO V.
Continuemos a relatar este bom informador: 
"Para o lado do RIO  - prossegue ele, em 1754 - tem este Palácio um belo jardim com grande eirado, com viveiro abundante de todo o género de aves raras, tendo as suas vistas sobre o mar".
"O Senhor Rei D. João V acrescentou outro quarto a este Palácio: é o que fica no largo da Patriarcal, e corre até ao Teatro da Ópera. Consta estes augustos edifícios de vários corpos e muitas galerias, todas de apuradíssima arte, obra do famoso Arquitecto FREDERICO LUDOVICE, em que os mármores colocados teriam duração eterna".
"Dois lanços deste quarto abrem para o largo do Patriarcal, e em meia de cada um avulta um pórtico grandioso, levantado em grossas colunas marmóreas, com capitéis coríntios excelentemente folheados".
"Todo o restante deste primoroso edifício é feito de polidissimas cantarias, com formosos lavores e remates, com óculos romanos na cimalha, que lhe dão graça e beleza. O saguão que vai do Largo da Patriarcal e atravessa este quarto para a campainha, é a melhor peça de arte desta cidade, porque as quatro colunas de jaspe que tem na frente de duas escadas laterais, são perfeitíssimas no trabalho de lavores". (CAMILO CASTELO BRANCO - NOITE DE INSÓNIAS, Nº 8, AGOSTO 1874).

O Terramoto de 1755 deixou feito um montão de destroços o vasto PAÇO DA RIBEIRA, e o incêndio subsequente acabou de destruir preciosidades sem conta.
Aquele edifício, que El-Rei D. MANUEL I tinha erguido sobre os opulentos armazéns da CASA DA MINA, e acrescentado com tanto gosto; aquele PAÇO marinho, onde ele habitou com as suas três rainhas e seus filhos, aquela casa de família tão considerada por El-Rei D.JOÃO III, e habitada por ele, pela Rainha D. CATARINA, e pelos REIS D. SEBASTIÃO e D.FILIPE I em 1581, D. FILIPE II em 1619, essa importante casa, a melhor do REINO, em que moravam GOVERNADORES, o CARDEAL ARQUIDUQUE e a DUQUESA DE MÂNTUA; esse Palácio, tão melhorado pelo senhor D. JOÃO IV, e por seus filhos D.AFONSO e D. AFONSO e D. PEDRO; esse ninho que o mágico D. JOÃO V transformou numa espécie de "QUELUZ À BEIRA TEJO", e que El-REI D.JOSÉ dotou com um Teatro riquíssimo; esse museu de primores, de opulências, e de obras de arte nacionais e estrangeiras, que era o espanto da Península... Tudo isso... Bastou meia hora para ser destruído.

Considerando globalmente tudo que nestes derradeiros capítulos ficou tão laboriosamente armazenado, e fazendo um apanhado geral da pitoresca e variada crónica do PAÇO DA RIBEIRA, sobram motivos de lamentar a nossa incúria!
Contra os Terramotos, não há que dizer; e o de 1755 foi uma calamidade sem par, a que não se pode resistir.


(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ VI ]-O TERREIRO DO PAÇO»

TERREIRO DO PAÇO [ VI ]

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TERREIRO DO PAÇO
 Terreiro do Paço - (1572) Gravura em cobre (Visão em perspectiva aérea ou voo de pássaro, semi-panorâmica, semi-topográfica. A cidade de LISBOA está limitada a Oriente pelo Campo de Santa Clara; a Ocidente, pela zona da Esperança; e a Norte pelos montes da Graça, Penha de França e Sant'Ana, vendo-se todas as ruas, ruelas e becos, na sua irregularidade. Nela de desenham nitidamente a Praça do Pelourinho Velho, o TERREIRO DO PAÇO e o Rossio. Na parte inferior da gravura e nos cantos superiores, estão registados 140 referencias aos edifícios mais significativos de LISBOA. É a única gravura conhecida, que representa o "PAÇO DA RIBEIRA" antes das remodelações feitas por FILIPE TERZI. Na parte superior esquerda tem o título OLISSIPO, e foi inserida na obra de JORGE BRAUNIO - CIVITATES ORBIS TERRARUM - Vol. V - 1572.) in  MUSEU DA CIDADE
 Terreiro do Paço - (Século XVI) (Fragmento da panorâmica de LISBOA obra de "Braunio", que colocou no "TERREIRO DO PAÇO" umas tercenas cuja a existência se dúvida)  inLISBOA REVISTA MUNICIPAL
 Terreiro do Paço - (Século XVI) (Em primeiro plano o TERREIRO DO PAÇO, com seu Palácio Manuelino da Ribeira e o Cais da Pedra) inENCYCLOPÉDIA PELA IMAGEM - LIVRARIA CASTRO E SILVA
 Terreiro do Paço - (1637)  (Em 1637 ocorreu o tumulto do Manuelino de Évora, um pronúncio do que viria a ocorrer três anos mais tarde, em 1640, com a Restauração da Independência de 1 de Dezembro de 1640. Na imagem, uma formatura no Terreiro do Paço) in GUERRA DA RESTAURAÇÃO
Terreiro do Paço - (antes de 1755 provavelmente) (Maqueta virtual do "PALÁCIO DO PAÇO DA RIBEIRA" um projecto de ANA CRISTINA LEITE, chefe da Divisão de Museus e Palácios da C.M.L.)  in MUSEU DA CIDADE - SÉTIMA COLINA

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PALO [ VI ]

«O TERREIRO DO PAÇO»

Faltava ainda dizer mais umas palavras sobre a célebre PRAÇA que, ( por mais que teimem em lhe alterar o velho nome) sempre para o povo de LISBOA, lhe chamam de "TERREIRO DO PAÇO".

Esteve ali estabelecido um açougue, talvez fosse para lá transferido para estar próximo do TERREIRO DO PAÇO, por ter maior facilidade no desembarque do gado.
Em 1730 escreve um certo autor estrangeiro: "Notável é o açougue principal de LISBOA (situado no Terreiro do Paço) tanto pela sua largueza, como pelo seu asseio e ordem. São as paredes interiores revestidas a azulejo, e cobertas de grossa quantidade de peças de carne, penduradas na altura de seis pés, e dali para cima". Cada comprador aponta para a "fazenda" que deseja, e logo os moços, colocados nuns balcões ou estrados em volta, entregam o material pedido.

Vamos agora descrever as várias portas da cidade, rasgadas na muralha mandada construir por  El-Rei D. FERNANDO (ou MURALHA FERNANDINA), e que desembocavam no"TERREIRO DO PAÇO".
Primeiro, junto do corpo da "GUARDA REAL", na face Ocidental do Terreiro, abrindo-se, no edifício do PAÇO, a porta denominada "ARCO DAS PAZES"ou"PORTA DO ARCODOS PAÇOS" (65), a qual comunicava com o dito Terreiro com o pátio interior da residência régia chamado "PRAÇA DO RELÓGIO".
Já na face setentrional da  PRAÇA abria-se outra porta, a que o povo dava o nome de "ARCO DA MOEDA" ou"PORTA DA MOEDA"(66).
Segue-se a porta ou "ARCO DOS PREGOS"(67) demolido em 1755 e muito próximo do local onde existe hoje o ARCO DA RUA AUGUSTA. Este e o seguinte, chamados "DOSBARRETES", tiveram os seus nomes ligados a "Dez tendas de mercearias abastadas" que ali existiam.
Ao "ARCO DOS BARRETES" (68) que no tempo de FREI APOLINÁRIO (1750) se costumava chamar de "ARCO DO AÇOUGUE". O arco dos barretes era o arruamento dos carapuceiros, que nas suas tendas ofereciam aos transeuntes todas as formas de barretes e gorras.
E chegámos à mais Oriental das portas rasgada na linha setentrional do TERREIRO a Nº 69 do MAPA DE BRAUNIO "PORTAS DA RIBEIRA", (duas contíguas) no tempo ainda do TERREIRO DO PAÇO que em 1755 chegava mais a Oriente, deixara de existir em 1619. As outras eram serventias mais ou menos usadas; esta era maior, a mais elegante, a mais concorrida. Quando em 1581 veio a Portugal D. FILIPE I, já se podia considerar arruinada a porta, que (a bem dizer) eram duas a par, segundo muito bem nos mostra "BRAUNIO" e outros. 
Em 1691 tivemos a visita de FILIPE III, o SENADO DA CÂMARA mandou demolir alguns casebres que tinham trepado acima desta porta (como em cima de outras), e derrubar a própria porta.
Comunicava esta porta entre si com duas PRAÇAS: a grande área do TERREIRO DO PAÇO, com o mesquinho recinto do célebre"PELOURINHO VELHO"; por isso FREI NICOLAU DE OLIVEIRA, no livro GRANDEZAS (1804), não duvidou escrever "PORTA DO PELOURINHO", ou "picola", era a "COLUMNA MAENIA" dos povos medievos. No foro romano a COLUMNA MAENIA era o lugar do castigo dos criminosos, nas cidades e vilas cristãs tinham igual emprego, e figurava, além disso, como insígnia de Jurisdição Municipal.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ VII ]-A PRAÇA DO COMÉRCIO (1)»

TERREIRO DO PAÇO [ VII ]

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A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 1 )
 Terreiro do Paço - (Início do século XIX) (Gravura de H.L.Êveque) (Panorâmica da PRAÇA DO COMÉRCIO - No primeiro plano vários grupos de vendilhões com seus produtos; à esquerda, um barbeiro em actividade. Em segundo plano na esquerda pode ainda ver-se a nascente o TORREÃO DA ALFÂNDEGA, ainda sem balaustrada na cimalha. Uma foto de 1866 referente ao incêndio das velhas instalações da C.M.L. de 1863, mostra-nos o Torreão ainda incompleto) inARQUIVO MUNICIPAL PELOURO DA CULTURA-CML-O POVO DE LISBOA EXPOSIÇÃO ICONOGRÁFICA-1978-1979
 Terreiro do Paço - (d. 1758) (Desenho do Engº A. Vieira da Silva - Volume I "AS MURALHAS DA RIBEIRA DE LISBOA-1940) (Fragmento da planta de LISBOA actual (1936), sobreposta à LISBOA anterior ao Terramoto de 1755 a vermelho) inPUBLICAÇÕES CULTURAIS DO ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA-C.M.L.
 Terreiro do Paço - (ant. 1873) (Foto de autor não identificado (O Arco da "RUA AUGUSTA" na "PRAÇA DO COMÉRCIO", ainda nesta altura em construção-1861-) inARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA
Terreiro do Paço - (1880) - Foto de autor não identificado (Comemorações do 3º Centenário da Morte de Camões, ideia do escritor e político Teófilo de Braga. Com a inauguração do BAIRRO CAMÕES, o cortejo cívico que partiu da PRAÇA DO COMÉRCIO, acabou por assumir um carácter anti-monárquico, os festejos serviram para avaliar a capacidade republicana de mobilização popular) inLISBOA RIBEIRINHA-ARQUIVO MUNICIPAL PELOURO DA CULTURA DA C:M.L.

(CONTINUAÇÃO- TERREIRO DO PAÇO [ VII ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 1 )»

Em 1730 o autor do livro"Description de la ville de Lisbonne"dava ao "TERREIRO DO PAÇO" apenas uns quatrocentos passos de comprimento sobre duzentos de largo; e no século XVII "LUIZ MENDES DE VASCONCELOS" na sua obra "DO SÍTIO DE LISBOA"limitava-se a comparar o  "ROSSIO" como  menor,   "medindo dos Paços até aos Contos" ( 1 ), e acrescenta:"o qual TERREIRO DO PAÇO, tendo pela parte de terra estas ilustres e Reais fábricas dos Paços e Contos, tem pela do mar ordinariamente tantos navios postos com a proa em terra, e outros ancorados no mar, que os mastros e antenas parecem um grande bosque de espessas árvores".
OPADRE JOÃO BAPTISTA DE CASTRO, descrevendo o terreiro na transição para o novo risco pombalino, e diz assim:
"Uma das maiores praças que tinha LISBOA este espaço só terrapleno, em  o qual a vista do Palácio Real, e outros ilustres edifícios na parte da terra, com a variedade das muitas embarcações grandes e pequenas no mar vizinho, formavam uma bela perspectiva. Desfigurou tudo o terrível incêndio sucessivo ao terramoto, reduzindo a cinzas quanto encenava tão famoso Palácio; e sobretudo, com a perda irreparável, a preciosa e vasta Biblioteca régia, cheia de inumeráveis livros raríssimos e códices manuscritos".
O Palácio foi demolido, para se projectar outro artefacto, e formar uma nobilíssima PRAÇA DO COMÉRCIO, com várias acomodações para os tribunais.

Mas não pararam ali os destroços causados da espantosa catástrofe.
"O ímpeto das águas - diz outro coevo, o minucioso MOREIRA DE MENDONÇA - desfez o fortíssimo CAIS DA PEDRA, que discorria na marinha do TERREIRO DO PAÇO desde os armazéns da ALFANDEGA até quase à frente do forte da VEDÓRIA".

O Decreto de 16 de Janeiro de 1758 ordenou se fizesse o novo TERREIRO, e determina como; tendo sido o Capitão Engenheiro EUGÉNIO DOS SANTOS DE CARVALHO quem soube dar corpo, e forma condigna, ao alto pensamento do insigne MINISTRO.
Hoje, como há dezenas de anos ali se vê e se admira tão desafogado e concertado logradouro, hoje que já umas poucas de gerações se habituaram a olhar aquela arquitectura nobre, uniforme mas fria, como símbolo do pensar e sentir daquele grande homem, que tanto pensava, e nada sentia, é curioso e interessante ouvir considerações que à cerca da BAIXA escrevia "TWISS" em 1772, que a BAIXA POMBALINA, regular e pautada, começava a sair dos escombros; o povo assistia admirado à ressurreição de LISBOA; e "TWISS" mencionava no seu livro de VIAGENS:
"Estão neste momento edificando umas poucas ruas paralelas, cortadas de outras em ângulos rectos. Cobrem o bairro do antigo Paço Real da Ribeira destruído pelo terramoto. Chama-se a principal delas "RUA AUGUSTA". Correm-lhe, pelos dois lados, passeios orlados de "columnellos"( 2 ). As casas novas têm quatro ou cinco andares".
Levou seu tempo a concluir a PRAÇA. Quando em 1775 se inaugurava a estátua, ainda a maior parte dos edifícios em volta da "PRAÇA DO COMÉRCIO" (com excepção no lado Oriental) estava por fazer. Para essas festas públicas levantou-se um "simulacro" de madeira pintada, representando as secretarias e as arcadas como futuramente viriam a ficar.
( 1 ) - CONTOS - (Ant."CASA DOS CONTOS", repartição que era especialmente incumbida de processar e liquidar as contas dos Administradores das rendas reais).
( 2 ) - O francês diz poteaux; o termo técnico dos Arquitectos pombalinos é COLUMNELLOS; o povo chamava-lhes "frades".

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ VIII ]-A PRAÇA DO COMERCIO (2)»

TERREIRO DO PAÇO [ VIII ]

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A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 2 )
 Terreiro do Paço - (1760) (Planta da "BAIXA POMBALINA" - Plano Nº 5 apresentado por EUGÉNIO DOS SANTOS e CARLOS MARDEL ao concurso da reconstrução da cidade de LISBOA após o terramoto de 1755) inORDEM DOS ENGENHEIROS 
 Terreiro do Paço - (Século XVIII)  (Evolução urbana de LISBOA entre 1718-1756 na Baixa Pombalina)  in   A BAIXA POMBALINA - PASSADO E FUTURO
 Terreiro do Paço - (Lisboa no século XIX) (A "BAIXA POMBALINA" nomeadamente a "PRAÇA DO COMÉRCIO" no século XIX. A Torre localizada a Oeste da Praça só ficou concluída por volta de 1840,(muito embora a sua balaustrada só terá sido colocada em finais da década de sessenta do mesmo século) in A BAIXA POMBALINA - PASSADO E FUTURO
 Terreiro do Paço - (Século XIX) (Espólio de Eduardo Portugal) (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" vista do rio Tejo, vendo-se algumas embarcações para banhos, junto da muralha que protege a Praça)  in ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA - C.M.L.
Terreiro do Paço - (1879) (Levantamento topográfico de Francisco e César Goullard: planta Nº 51 referente à PRAÇA DO COMÉRCIO. A estação do Sul, ainda se encontrava junto da Torre Poente) (Abre em tamanho grande)inARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA - C.M.L.


(CONTINUA) TERREIRO DO PAÇO [ VIII ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 2 )»

A construção de Praças foi uma paixão do século XVIII. LISBOA, por via do Terramoto de 1755, também sentiu essa paixão, e de tal modo que a nossa PRAÇA DO COMÉRCIO, continuadora  do antigo TERREIRO DO PAÇO,é hoje considerada uma das obras de referencia desta época. Atendeu-se na cronologia da época, das mais significativas praças edificadas nos século XVII e XVIII: 1668/1674, PALÁCIO DE VERSALHES, Louis le Vau e Jules Hardouin - Mansart. - 1699, PRAÇA VANDÔME, PARIS, plano de Jules Hardouin - Mansart e de Boffrand - 1748, O PLANO DE PARIS, de Pierre Patté (1723-1814); - 1755, as três Praças de  NANCY, iniciadas em 1752, com planos de Hérè de Corney; - 1756, PRAÇA DO COMÉRCIO, LISBOA, plano de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel.
Os 6 planos mandados fazer por POMBAL imediatamente a seguir ao Terramoto de 1755, segundo a"DISSERTAÇÃO"de MANUEL DA MAIA, entregue em 4 de Dezembro, foram divididos por igual número de arquitectos ou grupos de Arquitectos que previam diferentemente a integração de um novo espaço urbano que substituísse o velho e destruído "TERREIRO DO PAÇO", em conjugação com os diferentes traçados urbanos visualizados nas diferentes propostas: - PLANO 1, de GUALTER DA FONSECA e PINHEIRO DA CUNHA não indica uma solução concreta para o espaço do TERREIRO DO PAÇO; - PLANO 2, dos irmãos POPPE, conservava a forma do antigo TERREIRO DOPAÇO; - PLANO 3, de EUGÉNIO DOS SANTOS e de A.C. ANDREAS, propõe uma praça aberta ao Rio com uma dimensão maior do que aquela que conhecemos hoje; - PLANO 4, de GUALTER DA FONSECA, imagina uma praça aberta ao rio, mas com dimensões inferiores da que conhecemos; - PLANO 5, de EUGÉNIO DOS SANTOS e CARLOSMARDEL, a praça que conhecemos hoje; PLANO 6, de ELIAS SEBASTIÃO POPPE, uma enorme praça rectangular paralela, mas não totalmente aberta ao rio, e contendo no seu terço poente uma futura catedral de LISBOA
Se o que estava em causa era apenas o plano da Praça, talvez esta sexta proposta fosse a mais imaginativa. Mas na verdade, o problema a resolver era bem mais vasto e complexo e, na globalidade das seis propostas, a mais coerente com a cultura da época e com o propósito de arrancar com as bases para a construção de uma cidade existente há séculos, era sem dúvida alguma a de EUGÉNIO DOS SANTOS e CARLOS MARDEL, a única que também fazia propostas concretas para a área da cidade compreendida entre a BAIXA e o BAIRRO ALTO - a área envolvente do actual CHIADO.
Curiosa é a atitude de todos os projectistas, nas suas propostas, em conservarem o espaço dos estaleiros da RIBEIRA DAS NAUS, que apenas vem a ser completamente soterrado nos anos 40 do século XX, com a ligação da PRAÇA DO COMÉRCIO, (foram realizadas alterações substanciais de modo aprazíveis para o cidadão, em Julho de 2014, na nova RIBEIRA DAS NAUS. - ver mais em PÚBLICO) às novas vias ribeirinhas denominadas "AVENIDA DO INFANTE DOM HENRIQUE" e AVENIDA DA RIBEIRA DAS NAUS.
MANUEL DA MAIA, na sua DISSERTAÇÃO, abordava ainda mais outra hipótese, a de optar por uma cidade inteiramente nova em BELÉM, local pouco povoado, com boa exposição e relevos suaves, onde os edifícios aí existentes se tinham comportado bem em relação à ruína que grassara na concentração de LISBOA de então. Contudo, esta hipótese não foi contemplada pelo MARQUES DE POMBAL e não passou para além da sugestão.
É ainda no século XVI - XVII, a 06.06.1775, dia do aniversário do rei que é inaugurada a estátua de D. JOSÉ I (que falaremos mais em pormenor noutro capitulo), que vem a morrer dois anos depois.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ IX ]-A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 3 )»

TERREIRO DO PAÇO [ IX ]

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A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 3 )
 Terreiro do Paço - (Anos cinquenta do século vinte) Fotógrafo não identificado (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" no século XX  - durante um longo período de anos - era um espaço para estacionamento de carros) in  SKYSCRAPERCITY

 Terreiro do Paço - (ant. 1932) (LISBOA vista de Aeroplano - Esta vista permite apreciar em toda a sua grandeza e perfeita harmonia de proporções a soberba "PRAÇA DO COMÉRCIO". Nesta época ainda com o seu arvoredo, e as obras da Estação Sul e Sueste (à direita baixa da foto) que teve a sua inauguração em 28 de Maio de 1932) in ENCICLOPÉDIA PELA IMAGEM-LELLO & IRMÃO

 Terreiro do Paço - (1900) (Um postal da graciosa "PRAÇA DO COMÉRCIO" que naquela época existia nas suas laterais um conjunto de árvores, que acabou por volta de 1911. A tradicional "CANOA DO TEJO" não ofusca a grande Praça) in JORNAL A CAPITAL

Terreiro do Paço - (entre 1900 e 1944) Gravura fotografada por José Artur Bárcia em suporte negativo de prata e vidro) (Postal Ilustrado do ARCO DO TRIUNFO da "RUA AUGUSTA na "PRAÇA DO COMÉRCIO" no século XIX) inAML

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PAÇO [ IX ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 3 )»

Nestes  Torreões da "PRAÇA DO COMÉRCIO" não existe qualquer ligação arquitectónica continuada com os corpos laterais desta Praça, facto que para nós constitui um mistério em presença da qualidade e do rigor usado neste tipo de Arquitectura.
A PRAÇA DO COMÉRCIO encontra-se na linha das Praças que se construíram então no continente Europeu e que , na sua grande maioria, partiam para uma solução inovadora no desenho deste típico lugar das grandes cidades; a Praça deixara de ser fechada para se abrir numa ou mais faces, onde talvez a "PRAÇA DE S. PEDRO (1624)", de BERNINI, tenha funcionado como ponto de partida.
A "PRAÇA DO COMÉRCIO" tem uma característica relativamente às restantes; abre-se completamente numa das suas faces sobre a paisagem e o estuário imenso de um rio - que passa a constituir a sua quarta fachada - motivação que lhe é transmitida na linha do mais antigo "TERREIRO DO PAÇO", destruído pelo Terramoto de 1 de Novembro de 1755, característica que os arquitectos de POMBAL souberam habilmente captar e renovar.

A "PRAÇA DO COMÉRCIO"é um paralelogramo de 722:100 palmos quadrados; a saber: os lados Norte e do Sul medem 830 palmos; os Nascente e Ponte, 870 palmos.
Área da Arcada do Norte: 20:416 palmos quadrados.
Área da Arcada do Nascente: 14:300.
Área da Arcada do Poente: 14:300.
Área do vão de cada arco 90 palmos quadrados; número de arcos nos 3 lados da Praça: 86; Área total do vão de todos os arcos (exceptuando o da RUA AUGUSTA), 7:740 palmos quadrados.
Área da planta do monumento central, que é elíptica: 4:116 palmos quadrados.
Nos extremos das duas alas, do Nascente e do Poente e os dois Torreões, um do Ministério da Guerra e o outro da Alfândega, que avançam sobre a Praça; a planta dessa porção saliente é para cada Torreão um paralelogramo, cuja área é de 4:440 palmos quadrados; total da área absorvida pelos dois Torreões: 8:880 palmos quadrados.
Deduzindo da área total da Praça esse espaço dos Torreões e o do monumento, ficam livres 780:668 palmos quadrados.
Dando a uma pessoa 9 palmos quadrados, calcula-se que na área da Praça e sua arcadas podem caber 86:740 pessoas ( 1 ).
O Torreão da Alfandega foi o primeiro a ser construído, indica a "fonte" que em 1772 já estava levantado, (numa foto de 1866 referente a um incêndio na Câmara Municipal de Lisboa em 1863, mostrava que o Torreão da Alfândega, ainda lhe faltava a balaustrada na cimalha). A construção do Torreão do lado Poente, demorou mais 67 anos.

( 1 ) - Parte deste curioso estudo é retirado de um artigo intitulado:"Cálculo demonstrativo da área da Praça do Comércio de Lisboa", e do número de pessoas que pode conter. Vem na "MNEMOSINE LUSITANA" de 1817, Nº XVIII, e é assinado por J.C.Silva, que julgo ser o talentoso gravador "JOAQUIM CARNEIRO DA SILVA". 

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ X ] - A PRAÇA DO COMÉRCIO (4)»

TERREIRO DO PAÇO [ X ]

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A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 4 )
 Terreiro do Paço - (Dezembro de 1965) Desenho de APS (Um trabalho Charadístico para o grande "TORNEIO CIDADE DE LISBOA" publicado na revista "O CHARADISTA"órgão oficial da "TERTÚLIA EDÍPICA", no ano de 1965) in ARQUIVO/APS
 Terreiro do Paço - (depois de 1932) Foto de autor não identificado (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" na altura ainda sem a ligação à "AVENIDA DAS NAUS". A "Estação Fluvial Sul e Sueste" do Arquitecto Cottinelli Telmo, inaugurada (nas comemorações do regime), em 28 de Maio de 1932) inENCICLOPÉDIA PELA IMAGEM - LELLO & IRMÃO
 Terreiro do Paço - (1905) Foto de Sousa & Fino,Lda. (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" reconstruída entre 1758 e 1873, segundo o plano pombalino de reedificação de LISBOA, a "PRAÇA DO COMÉRCIO" recebeu a estátua equestre de D. JOSÉ em 6 de Junho de 1775. Em 1873, era concluído o ARCO da RUA AUGUSTA, encerrando-se assim o ciclo de obras iniciadas em 1758. in ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA-AML-C.M.L.
Terreiro do Paço - (1889) (Aspecto da "PRAÇA DO COMÉRCIO" no topo nascente, já com o Torreão da Alfandega concluído, mas o acesso para Oriente ainda estava vedado)  in AML 

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PAÇO [ X ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 4 )»

Conta-nos o General COSTA CASCAIS que em Novembro de 1842, para estabelecer os alicerces do "TORREÃO" Ocidental da PRAÇA DO COMÉRCIO, foi necessário cavar, pregar estacas, e estancar muita água. ( 1 )
Assim a tendência que mostra sempre esses alagadiços terrenos "a dar de si", é prova do estado difícil de todo o lado Poente. No entanto a "ortografia" das obras públicas alguma coisa vai conseguindo. 
Um edital de 20 de Agosto de 1833, institui  certas providências policiais que se aplicam aos cais e Praças. A postura Camarária de 13 de Agosto de 1841, mandada vigorar por Edital de 9 de Setembro seguinte, determina um grande melhoramento na Praça, vedando o trânsito de veículos ou cavalgaduras pelos passeios e pelo centro da PRAÇA DO COMERCIO; outra de 24 de Outubro de 1842 proíbe que os arrais e mestres de faluas( 2 ) e outros barcos grandes do Tejo, amarrem no CAIS DAS COLUNAS, a não ser o tempo indispensável para cargas e descargas.
Em Julho de 1851 oficiou a CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA ao Administrador Geral da ALFANDEGA GRANDE, pedindo-lhe desse ordem para que os homens da companhia braçal não atravessem carregados de fardos o centro da PRAÇA DO COMÉRCIO( 3 ).
A arborização da PRAÇA DO COMÉRCIO fez-se em 1866 e permaneceu até à segunda década do século XX. Dizem os mais cépticos que foram cortadas porque tapavam a vista das arcadas.
Em frente do TORREÃO Ocidental (do Ministério da Guerra) existia a certas horas do dia o espectáculo de chegadas e partidas dos vapores com destino ao Barreiro e Seixal, levando e trazendo alentejanos, cujos trajos se reconhecem logo. A arcada do mesmo lado tem ainda uma outra função. Primeiro vemos militares, que entram e saem apressadamente do Ministério, ou pretendentes à espera de alguém importante, fazendo a RUA de ante-câmara, até poderem balbuciar duas palavras a Sua Excelência.
Foi em 13 de Maio de 1797, dia de anos do PRÍNCIPE REGENTE D. JOÃO que pela primeira vez se abriu a REAL BIBLIOTECA PÚBLICA DA COROA, criada no ano transacto pela senhora D. MARIA I; data célebre nos anos desta Praça. Ficava no segundo andar, onde funcionou também a DIRECÇÃO-GERAL DOS PRÓPRIOS NACIONAIS. Em 1834 a Biblioteca foi transferida para as instalações do CONVENTO DE SÃO FRANCISCO. 
A Arcada do Ministério do REINO já tem outro aspecto; ali estão estacionadas sempre as carruagens dos altos políticos que vêem procurar instruções, àquele quartel-General da política.
Aos primeiros anos da reconstrução pombalina remonta também a alteração da designação da PRAÇA, o que corresponde igualmente a uma alteração de função e a uma adequação ao contexto sócio-económico da época pombalina.

( 1 ) - Artigo da REVISTA UNIVERSAL LISBONENSE, Tomo II, pag, 95, col. 1
( 2 ) - FALUA - (de faluca), s.f. embarcação de vela, semelhante à fragata, mas mais pequena.
( 3 ) - Sinopse dos principais actos administrativos da Câmara Municipal de Lisboa em 1851, pag. 17.  


(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XI ] A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 5 )»

TERREIRO DO PAÇO [ XI ]

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A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 5 )
 Terreiro do Paço - (Anos 50 do século XX) (Edições Gótica-Porto) (Vista aérea da "PRAÇA DO COMÉRCIO" quando ela ainda era um parque de estacionamento de carros-Postal Ilustrado Impresso em Trieste-Itália)  in ARQUIVO/APS
 Terreiro do Paço- (1756) (Projecto de Eugénio dos Santos)  (A "Baixa Pombalina" planta antes do Terramoto de 1755 e o projecto dos novos arruamentos)  in HISTÓRIA DA ARTE -USZA
 Terreiro do Paço - (ant. a 1939) Autor não identificado (A PRAÇA DO COMÉRCIO, aspecto do Cais das Colunas, onde sobressaem as colunas anteriores às que aí foram colocadas aquando da segunda viagem do Presidente Carmona ao Ultramar) inARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA-CML-AML
 Terreiro do Paço - (1907) Foto de Joshua Benoliel (A chegada de individualidades Japonesas ao Cais das Colunas na PRAÇA DO COMÉRCIO) in ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA-CML-AML
Terreiro do Paço - (Finais do século XIX) (A PRAÇA DO COMÉRCIO, à nossa direita podemos ver que a Estação Sul e Sueste ainda não estava construída no local que hoje conhecemos, a antiga encontrava-se frente ao Torreão Poente da Praça) in ARQUIVO/APS

(CONTINUAÇÃO - TERREIRO DO PAÇO [ XI ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 5 )»

Na "ARCADA DA JUSTIÇA", onde existiam os engraxadores de calçado, símbolo em todas estas paragens burocráticas.
A JUNTA DO CRÉDITO PÚBLICO dá também uma feição sua à população que ali "formiga" em certos dias do ano, em nome das inscrições de assentamento: viúvas, procuradores, proprietários etc..
Continuando, vemos ali a estação da GUARDA PRINCIPAL, que mistura com elemento civil e militar, e traz às 11 horas da manhã, quando se rende a guarda, uns minutos de música marcial.
Segue-se a ARCADA chamada "DO MARTINHO DA NEVE", ou mais correctamente, «do ANSELMO». Tendo por singularidade de ter sido, nesta PRAÇA, toda ela ornada de EDIFÍCIOS DO ESTADO, a única propriedade particular. É ponto de muito pitoresca observação, pela afluência, quase exclusiva, de RIBATEJANOS naquele café, chegados nos comboios de SANTA APOLÓNIA, e que ali vão almoçar. Toda a manhã na Arcada estacionam saloios, arrumados ao longo das paredes laranjeiras e limoeiros para venda, com as raízes embrulhadas.
Depois pelas 3 horas da tarde, passam os negociantes para a sua "Praça" e no Verão ali descansam a tomar uma "carapinhada"( 1 ), ou uma pirâmide de sorvete de morango e leite. Mais à tarde e à noite era sítio deserto.
Apesar da boa fama da "NEVE"do MARTINHO, assegura CASTILHO que não foi ele o primeiro a usar este método na Capital conforme muitos têm essa ideia. Assim a neve usava-se no passado regime, para preparo de muitos produtos culinários, como hoje se usa neste clima que tanto precisa, às vezes de correctivos aos excessos.
Quando no Verão de 1619 aqui veio D. FILIPE DE CASTELA, o SECRETÁRIO DE ESTADO e CRISTOVÃO SOARES, recomendando à CÂMARA os preparos com que devia celebrar em LISBOA tão fausto acontecimento, lembra-lhe que"se faça algum assento sobre a neve, por conta da cidade". Obrigou-se pois um PAULO DOMINGUES, "NEVEIRO", morador às FRANJAS DAS FARINHAS, a trazer a LISBOA quatro cargas diárias de neve; e obrigou-se a CÂMARA a prestar uma casa no TERREIRO DO PAÇO, e outra às portas de  SANTA CATARINA, para a venda do produto a 40 réis o "arrátel"( 2 ). Portanto, os nossos tetra-avós foram tomar neve ao "TERREIRO DO PAÇO", como ainda hoje vamos.
Este Palácio da Arcada foi construído depois do terramoto por ANSELMO JOSÉ DA CRUZ, senhor do SOBRAL, e FISCAL DAS OBRAS PÚBLICAS. Morava ali em 1791, e seu filho SEBASTIÃO ANTÓNIO DA CRUZ SOBRAL, DESEMBARGADOR extravagante da CASADA SUPLICAÇÃO. Passou o prédio ao genro de ANSELMO, o ilustre GERALDO WENCESLAU BRAAMCAMP DE ALMEIDA CASTELO BRANCO, 1º BARÃO DE SOBRAL, que ali morava em 1820. Em 3 de Janeiro de 1830 houve um terrível incêndio nesse PALÁCIO, incêndio que provocou vítimas, por exemplo, LUIZ FERREIRA DA SILVA, confeiteiro estabelecido na RUA NOVA D'EL-REI (Capelistas) no número 124.  Passou o prédio ao filho segundo do BARÃO, que se chamava ANSELMO JOSÉ BRAAMCAMP, e deste à sua filha D.LUISA MARIA JOANA BRAAMCAMP, BARONEZA de ALMEIRIM pelo seu casamento. Ficou em partilhas ao segundogénito dos senhores BARÕES DE ALMEIRIM, e Sr. ANSELMO B. FREIRE, que em Junho de 1889, o vendeu ao sr. ERNESTO GEORGE, Alemão, gerente da COMPANHIA DOS VAPORES TRANSATLÂNTICOS.

( 1 ) - CARAPINHADO - s.f. (de carapinha). Bebida nevada coalhada no gelo, como limonadas, etc.; sorvete crespo no gelo.
( 2 ) - ARRÁTEL - (do Ár. arrati), s. m. antigo peso de dezasseis onças ou 459 gramas.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XII ]-A PRAÇA DO COMÉRCIO ( 6 )»

TERREIRO DO PAÇO [ XII ]

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PRAÇA DO COMÉRCIO ( 6 )
 Terreiro do Paço - (Início do século XX) (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" vista por "Bargelli" em que diz, tratar-se de uma espécie de claustro a que faltasse a quarta parede. "Piero Bargelli", historiador de arte florentina-1897-1980) in BAIXA POMBALINA
 Terreiro do Paço - (Primeiro quartel do Século XX) (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" já com as suas árvores desenvolvidas. Dizem, que as árvores foram cortadas da Praça, porque tapavam a vista das Arcadas) in A CAPITAL
 Terreiro do Paço - (Segundo quartel do século XX) ( Vista aérea da "PRAÇA DO COMÉRCIO" já com a "Estação de Sul e Sueste" no local de hoje, tendo sido inaugurada a 28 de Maio de 1932) In LISBOA POMBALINA E O ILUMINISMO
 Terreiro do Paço - (Anterior a 1938 ) (Nesta altura a "PRAÇA DO COMÉRCIO" ainda não tinha ligação com o CAIS DO SODRÉ, pela (AVENIDA RIBEIRA DAS NAUS). Só foi possível, depois de ser desactivado o "ARSENAL DA MARINHA DE LISBOA" em 1938)  in  PROSIMETRON
Terreiro do Paço - (1900) (A"PRAÇA DO COMERCIO" num postal de lembranças de LISBOA. Uma colecção promovida pelo Jornal "A CAPITAL")  in  A CAPITAL


(CONTINUAÇÃO)- TERREIRO DO PAÇO [ XII ]

«A PRAÇA DO COMÉRCIO" ( 6 )»

A última arcada, finalmente, em frente e perpendicular à do café, a que vai correndo ao longo da face Oriental da PRAÇA, tem horas do dia em que parece positivamente o inferno, com o despacho e saída de mercadorias da Alfandega.
Teríamos muito a dizer desta PRAÇA, comparado com o que foi em tempos recuados, hoje a PRAÇA DO COMÉRCIO, um dos símbolos marcantes de LISBOA.
Antigamente esteve ali a morada régia, e portanto acumulava-se nesse grande centro nervoso a actividade do alto viver elegante da Capital.
Os "CENTROS COMERCIAS", laboriosos e elegantes, mudaram de poiso; as Secretarias do ESTADO nem são comerciais, nem elegantes... nem operosas (Dizia Castilho).
A "PRAÇA DO COMÉRCIO"é considerada a sala de visitas de LISBOA. Mede cerca de 4 hectares e tem 86 arcos.
Mas nem sempre foi como nós a conhecemos. Aquilo que hoje é chão firme, há muitos séculos, era uma praia com areia e lodo. O RIO inundava as RUAS da cidade com muita frequência. Existia cais onde ancoravam os barcos.
Era assim, em 1147, quando as tropas de D. AFONSO HENRIQUES tomaram LISBOA aos MOUROS.
Na época dos DESCOBRIMENTOS, ali chegavam os carregamentos de especiarias e outros produtos provenientes das rotas da epopeia marítima. A  PRAÇA foi tendo cada vez mais importância comercial.
A PRAÇA DO COMÉRCIO foi espaço para feiras e mercados, no tempo da INQUISIÇÃO em PORTUGAL serviu para autos-da-fé, palco de Paradas Militares, sala de entradas de algumas individualidades, recinto de: Aclamações, manifestações, comícios, exposições, recinto taurino, e até já foi parque de estacionamento de carros.

O Miradouro do "ARCO DA RUA AUGUSTA" abriu ao público no dia 9 de Agosto de 2013, com um espectáculo de multimédia, projectado no próprio arco, denominado "ARCO DE LUZ", da autoria de NUNO MAYA e CAROLE PORNELLE.
O TERRAÇO DO ARCO pode ser visitado diariamente. O ARCO da RUA AUGUSTA, situado na entrada e fazendo passagem para a PRAÇA DO COMÉRCIO, o ARCO esteve recentemente sobre obras que originaram a construção de um elevador, cuja entrada se localiza na RUA AUGUSTA, que nos leva ao topo do MONUMENTO e onde se encontra um miradouro a partir do qual é possível ter uma vista desimpedida sobre alguns dos mais emblemáticos Monumentos de LISBOA, desde a própria PRAÇA DO COMÉRCIO, à SÉ CATEDRAL,à BAIXA POMBALINA, ao CASTELO DE SÃO JORGE e, inevitavelmente ao RIO TEJO.
A chegada ao Miradouro passa pela SALA DO RELÓGIO, que dá para a RUA AUGUSTA, podemos ver uma exposição que conta a história do ARCO a da sua construção.

CURIOSIDADES
O TORREÃO Poente da PRAÇA DO COMÉRCIO, será o novo núcleo MUSEOLÓGICO do ex-MUSEU DA CIDADE que passou a chamar-se: MUSEU DE LISBOA.
A denominação de PRAÇA DO COMÉRCIO foi atribuída pelo 1º Decreto de Toponímia de D. JOSÉ I, em 5 de Novembro de 1760 e, foi uma homenagem aos comerciantes de LISBOA que, voluntariamente cederam 4% sobre os direitos Alfandegários de todas as mercadorias, para a reconstrução da cidade de LISBOA

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ III ]-A RENOVADA PRAÇA DO COMÉRCIO» 

TERREIRO DO PAÇO [ XIII ]

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A RENOVADA PRAÇA DO COMÉRCIO
 Terreiro do Paço - (2013) (Vista tirada do Miradouro do Arco da RUA AUGUSTA, para a "nova""PRAÇA DO COMÉRCIO") (Foto gentilmente cedida pela amiga Ondina Castelar)  inONDINA CASTELAR
 Terreiro do Paço - (2012) - Foto de autor não identificado (A "PRAÇA DO COMÉRCIO" depois das últimas obras de requalificação do piso central)  in REPSOL
 Terreiro do Paço - (2012) - Foto de autor não identificado ( A "NOVA" PRAÇA DO COMÉRCIO depois da regularização do seu piso)  in  PASSEIOS (cá dentro)
Terreiro do Paço - (2012) Foto de Jebulom  ( A "Nova""PRAÇA DO COMÉRCIO" já na fase final das sua obras) ( Abre em Tamanho grande)  in WIKIPÉDIA


(CONTINUAÇÃO)- TERREIRO DO PAÇO [ XIII ]

«A RENOVADA PRAÇA DO COMÉRCIO»

O projecto do pavimento provisório da PRAÇA DO COMÉRCIO esteve a cargo dos arquitectos "JOSÉ ADRIÃO" e"PEDRO PACHECO", estando em utilização intensa, durante onze anos.
Supostamente o pavimento provisório devia servir a cidade até 2001, sendo que nessa altura começariam as obras do pavimento definitivo. Contudo o desenvolvimento do projecto coincidiu com o desenrolar das obras do TÚNEL DO METROPOLITANO, obra que sofreu significativas contrariedades, sendo a mais significativa o colapso parcial, seguido de alagamento do troço do Túnel da PRAÇA DO COMÉRCIO.
Esta situação alterou para a dificuldade e um maior conhecimento da geologia precária destes terrenos, tendo sido realizadas sondagens e consultas, a numerosos técnicos com vista a realizar obras que permitissem a recuperação do Túnel do Metro. Recordamos que o referido Túnel apenas entrou em serviço no mês de Dezembro de 2007, tendo a obra sido iniciada em 1995.
Ao mesmo tempo verificou-se que o "TORREÃO POENTE" da PRAÇA DO COMÉRCIO necessitava de obras de consolidação dos terrenos, pois o assentamento que vinha sofrendo desde a sua construção, representava já, cerca de 1,2 m., começava a por em risco a sua estabilidade estrutural.
Existindo mudanças na C.M.L. entre Janeiro de 2002 a Outubro de 2005, tendo ficado definida a presidência do Engº CARMONA RODRIGUES, que devido a este período de forte rotatividade na Edilidade, o projecto da PRAÇA DO COMÉRCIO esteve parado, não se lhe conhecendo desenvolvimentos significativos.
Finalmente em Agosto de 2007 a C.M.L. passa a ser presidida pelo DR. ANTÓNIO COSTA, sendo nessa altura constituída a "SOCIEDADE FRENTE TEJO" que passa a desenvolver o trabalho necessário à reabilitação de parte da BAIXA POMBALINA, nomeadamente a PRAÇA DO COMÉRCIO.
A Sociedade cedo abandona os projectos existentes, abandonando a ideia do TÚNELRODOVIÁRIO e do PARQUE DE ESTACIONAMENTO SUBTERRÂNEO, e avançando com o projecto de infra-estruturas subterrâneas da PRAÇA DO COMÉRCIO, canalizando as águas residuais e pluviais para a estação de tratamento. Em simultâneo contratam o Arquitecto BRUNO SOARES para a realização do projecto de pavimentação da PRAÇADO COMÉRCIO. Este projecto adopta muita das atitudes programáticas propostas pelo projecto dos Arquitectos JOSÉ ADRIANO e PEDRO PACHECO, nomeadamente a ocupação das arcadas laterais da PRAÇA como zona turística e de estar, mas não respeita o contínuo descendente entre a BAIXA POMBALINA e o CAIS DAS COLUNAS.
Assim, a eficiência construtiva, um espaço construído para três anos de uso, acaba por sobreviver sem mazelas ao longo de onze, mantendo a sua qualidade poética do sítio de contemplação sobre o TEJO e a CIDADE ao mesmo tempo que sobre este pavimento aconteciam numerosas actividades públicas, é o facto notável que atesta sem margem de dúvidas a qualidade das suas propostas.[Extracto do artigo para a disciplina de História da Arquitectura e da Construção - Curso de Doutoramento em Arquitectura - Docente: Professora Doutora Madalena Cunha Matos - FAUTL, LISBOA - Março de 2011]. 

A PRAÇA DO COMÉRCIO ao longo da sua existência registou uma evolução que passou pela "adaptação do conceito" de PRAÇA REAL e, actualmente o que eventualmente se pretende é adaptar esta PRAÇA e aproveitar as suas potencialidades arquitectónicas para dar outra vocação ao espaço.
Dizia o CORREIO DA MANHÃ em Outubro de 2010, que LISBOA terá uma NOVA PRAÇADO COMÉRCIO". O projecto de requalificação urbanística da PRAÇA DO COMÉRCIO com as alterações introduzidas pelo autor, o Arqº. BRUNO SOARES, na sequência do debate público. Assim, as obras de requalificação do Arqº B.S. pretende transformar a P.C. numa Praça de espectáculos com uma rede de infra-estrutura que permita realizar eventos e festas.
FRANCISCO HIPÓLITO RAPOSO integrou a equipa que seleccionou a nova cor para a PRAÇA DO COMÉRCIO, e  por se aproximar "à cor do Sol poente", foi escolhida quase por unanimidade,  a COR Nº 4, sendo a que possui laivos de ouro ao entardecer e em dias soalheiros. Chegou-se também à conclusão que a cor original da PRAÇA"andava" entre o amarelo e o ocre, numa das suas variantes mais antigas.
A PRAÇA DO COMÉRCIO foi devolvida aos alfacinhas e turistas que condignamente nos visitam, no ano de 2012, depois de umas prolongadas obras de requalificação.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XIV ]-A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I( 1)»

TERREIRO DO PAÇO [ XIV ]

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A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 1 )
 Terreiro do Paço - (2011) Foto de Manuelinho Daire (A estátua de D. José I na PRAÇA DO COMÉRCIO, antes da intervenção de obras. Esta estátua foi inaugurada em 1775, ainda a Praça estava inacabada) in MANUELINHO DE ÉVORA
 Terreiro do Paço - (1902) (Tabacaria Costa) - (A PRAÇA DO COMÉRCIO no início do século vinte. O Arco do Triunfo desta Praça, ficou finalmente concluído no ano de 1861)  in A CAPITAL
 Terreiro do Paço - (Anos trinta do século vinte) (Cliché de N. Ribeiro) (A Estátua Equestre de D. JOSÉ I, levantado a meio da mais vasta Praça de Lisboa, e uma das mais belas da Europa, ela é bem o padrão de glória de Lisboa reedificada, que foi um "milagre" do esforço Pombalino) in ENCICLOPÉDIA PELA IMAGEM - LELLO E IRMÃO
Terreiro do Paço - (1774) (Gravura de Joaquim Carneiro da Silva) (Gravura representando a ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I, tal como foi construída. Na face anterior do pedestal além das armas reais, um medalhão com o busto do MARQUÊS DE POMBAL)  inMURAL DAS PETAS

(CONTINUAÇÃO) - TERREIRO DO PAÇO [ XIV ]

«A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 1 )»

O Terramoto de 1755, ao arrasar grande parte do centro histórico de LISBOA, motivou um novo plano urbanístico, desenvolvido a partir da ideia básica de uma grande PRAÇA Régia aberta ao TEJO. Para o centro da PRAÇA DO COMÉRCIO, designação nova que substituía a de TERREIRO DO PAÇO, projectou-se desde o início uma estátua equestre representando o monarca reinante, D. JOSÉ I.
O sítio da estátua consta do plano de EUGÉNIO DOS SANTOS (1711-1760) e será deste engenheiro-Arquitecto o primeiro desenho para a obra (c. 1759), inspirado em modelos de PERRAUL e LE BRUN. É entretanto colocada a primeira pedra, assinalando o local definitivo. Um projecto do pintor VIEIRA LUSITANO, datado de 1756, é rejeitado, e somente em 1770, através de um concurso, é seleccionado o escultor JOAQUIM MACHADO DE CASTRO (1731-1822) para executar a estátua. 

MACHADO DE CASTRO formara-se em MAFRA, com ALEXANDRE GIUSTI, e será ao longo da sua vida um permanente defensor da dignidade do escultor e da escultura face à incompreensão de uma sociedade deficitária em cultura artística.
Através das obras que esculpiu e, sobretudo, por meio dos textos teóricos que foi produzindo. MACHADO DE CASTRO assume um papel decisivo na cultura portuguesa da sua época, revelando-se um intransigente defensor do método e da estética do classicismo. A estátua equestre é a sua primeira obra de responsabilidade, embora se veja coagido   a executar um projecto alheio, exactamente aquele que EUGÉNIO DOS SANTOS delineara.
Estabelece-se então uma guerra surda e uma disputa pelo comando hierárquico do trabalho entre arquitecto e o escultor. As permissas  culturais da ditadura pombalina beneficiavam o primeiro. 
As críticas de MACHADO DE CASTRO e as alterações propostas só parcialmente são atendidas. Da proposta inicial consegue eliminar um LEÃO que o cavalo pisava, substituindo-o pelas serpentes; intervêm na correcta definição dos grupos laterais, o TRIUNFO com o cavalo, a FAMA com o elefante alusivo ao IMPÉRIO; consegue alterar algo à definição das pregas dos panejamentos.  Mas a sua ortodoxia estética não vinga, pois não consegue impor a sua ideia de vestir o rei à romana e de coroá-lo de louros.
Trabalhando sobre prazos curtos, MACHADO DE CASTRO enceta então uma verdadeira auto pedagogia, pois o escultor confessa que à partida tudo ignorava sobre estátuas equestres. É-lhe disponibilizado um cavalo para estudo e desenho mas não consegue que o REI pose; socorre-se de abundante bibliografia estrangeira que devora e cita. Seguindo um correcto fraseamento metodológico fará sucessivos estudos em cera, barro e estuque, modo de ir controlando a obra. Mas não consegue testá-la completamente pois não tem possibilidades de a colocar num espaço amplo e de avaliar os efeitos luminosos da luz natural. Apertado num atelier algo deprimente, o autor joga toda a sua pessoal participação criativa em sábias criações de "ICONOLOGIA" de CÉSAR RIPPA, fonte literária que usa abundantemente para os relevos do pedestal.
Estes relevos, não previstos no projecto inicial, dão a MACHADO DE CASTRO a satisfação de produzir obra própria, desde a concepção à execução, fazem-no sentir um verdadeiro artista e não um mero artífice, mão-de-obra apenas, como quando executava a figura do REI a cavalo, um projecto alheio.
Para a retaguarda do pedestal MACHADO DE CASTRO imagina uma cena em que a cidade inerte sai dos escombros, auxiliada pelo AMOR da virtude e pela generosidade RÉGIA, amparadas financeiramente pela providência humana e pela Arquitectura.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XV ]-A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 2 )»

TERREIRO DO PAÇO [ XV ]

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A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 2 )
 Terreiro do Paço - (2011) Foto gentilmente cedida por ONDINA CASTELAR ( A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I, obra do Mestre MACHADO DE CASTRO)  in ONDINA CASTELAR 
 Terreiro do Paço - (2003) Foto de Dias dos Reis ( A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I na PRAÇA DO COMÉRCIO, ao entardecer)  in  DIAS DOS REIS
 Terreiro do Paço - (2014) -21.06.2014-Foto gentilmente cedida pela amiga ONDINA CASTELAR (Vista da ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I, captada do Miradouro do ARCO TRIUNFAL DA RUA AUGUSTA) in  ONDINA CASTELAR
Terreiro do Paço - (2005) Foto de Osvaldo Gago  (Estátua Equestre de D. José I, a primeira estátua do género feita em Portugal)  in WIKIPÉDIA


(CONTINUAÇÃO)-TERREIRO DO PAÇO [ XV ]

A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 2 )»

A alegoria correspondente à face do pedestal, virada ao RIO, representa o retrato de POMBAL, posteriormente apeado e substituído pelas ARMAS DA CIDADE, quando o Ministro caiu em desgraça (reinado de D. Maria I) e novamente colocado pelos liberais, em 1834.
A Estátua Equestre foi inaugurada com uma cerimónia afectivamente presidida por POMBAL e apenas espreitada pelo REI desde uma janela próxima. Ao escultor não será permitido entrar no recinto da cerimónia, ao contrário do fundidor, o tenente BARTOLOMEU DA COSTA, de um modo muito ignorante considerado, em relação ao monumento, com uma paternidade acrescida face ao escultor.
A recompensa do fundidor será igualmente superior, enfim, um conjunto de peripécias que concorrem par fazer de  MACHADO DE  CASTRO uma personagem algo atormentada para o resto da sua vida, conforme se depreende da sua literatura que, por vezes, roça a confidencialidade.
Mas esta estátua equestre, de difícil gestão, irrompe por entre a monotonia concentracionária do urbanismo da BAIXA como um monumento de singular qualidade, beneficiando ainda de uma localização ímpar face ao RIO TEJO, embora sujeita à crua luz lisboeta.
Retrata um REI ( D. JOSÉ I  vigésimo quinto REI de PORTUGAL, filho de D. JOÃO V que, subiu ao trono em 1750 por morte de seu pai), que vicissitudes várias fizeram "déspota"(1) e «iluminado», numa PRAÇA DO COMÉRCIO (actividade que o voluntarismo de POMBAL seria o motor primeiro da sociedade), enquadrada por prédios iguais e por um ARCO DO TRIUNFO (mais tarde concluído). Cumpre-se neste percurso icónico a sua vocação ideológica principal onde a afirmação persuasiva não se faz sem alguma ambiguidade. A falta de demonstração programática e, sabemos à "posteriori", a falência do modelo propagandeado, são compensados pelo rigor artístico da obra executada. O programa arquitectónico das novas igrejas da BAIXA, obedecendo a princípios de simplicidade exterior, (com excepção da sua frontaria), constitui uma oportunidade perdida quanto ao incremento de uma vasta campanha de escultura.
São por isso, escassas as peças escultóricas aí encontradas, circunstância agravada por alguma falta de exigência quanto à concepção e elaboração.
A estátua Equestre de D. JOSÉ I em LISBOA inscreve-se, bem entendido, na tradição francesa, definida entre "HENRIQUE IV"e"LUÍS XIV", que foi seguida em toda a EUROPA no século XVIII.  A estátua de D. JOSÉ I, sendo «a última pedra» de LISBOA pombalina e, além disso, o símbolo de PORTUGAL POMBALINO.

Dizia MACHADO DE CASTRO que só teve oito dias para estudar o cavalo, do qual deixou muitos desenhos no seu álbum. A posição «piafé»( 2 ) foi escolhida: o cavalo, fogoso e retido, tem um aspecto tenso, e nisso as suas linhas ganham uma qualidade nervosa. O animal esculpido defende-se, no entanto, é demasiado pequeno para o cavaleiro e a sua cabeça grande demais. O REI, coberto com uma armadura leve e com o manto ao vento, tem certa dignidade. A rainha, a primeira vez que viu a escultura, na oficina do artista, achou-a horrível, mas isso era devido a um efeito de luz, se acreditarmos nas justificações do escultor, aflito com uma tal crítica. De resto, o infeliz artista nunca fora admitido à presença do REI para retocar a imagem, que por maus retratos fizera. No entanto, o elmo emplumado que domina a cabeça de D. JOSÉ I, pelo contrário, é bem modelado.

( 1 ) - DÉSPOTA - (do Gr. "despótes", dono de casa, senhor) 2.gen. pessoa que governa com autoridade absoluta e arbitrária; ditador, dominador, opressor, tirano e usurpador.

( 2 ) - PIAFÉ - s.m. (do fr. "piaffé"). Movimento que o cavalo faz, batendo com as mãos e os pés no chão, mas sem avançar.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XVI ] - A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 3 )».

TERREIRO DO PAÇO [ XVI ]

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A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 3 )

Terreiro do Paço - (2014) (Foto gentilmente cedida pela amiga Maria Eugénia Antunes) (Aspecto da "PRAÇA DO COMÉRCIO" e ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I, depois das últimas obras. Imagem captada do Miradouro do Arco da RUA AUGUSTA)  in MARIA EUGÉNIA ANTUNES

 Terreiro do Paço - (2007) Foto de Dias dos Reis (Estátua Equestre de D. JOSÉ I na PRAÇA DO COMÉRCIO, antes da  intervenção de 2013) in DIAS DOS REIS


 Terreiro do Paço - ( 2010 ) Foto de JL Cabaço (A ESTÁTUA EQUESTRE DO REI D. JOSÉ I, uma obra do mestre MACHADO DE CASTRO, antes da intervenção de limpeza)  in  PANORAMIO 

Terreiro do Paço - (2002) Foto de autor não identificado (A PRAÇA DO COMÉRCIO" com a sua ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I e o ARCO DO TRIUNFO concluído em 1861) in CCDR-LVT

(CONTINUAÇÃO)-TERREIRO DO PAÇO [ XVI ]

«A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 3 )»

Os trabalhos de fundição ficaram concluídos em 15 de Outubro de 1774. A ESTÁTUA levou 35 mil quilos de metal que foram derretidos em 28 horas e vertidos em apenas 8 minutos para a forma de gesso."Foi muito inovador o processo de fazer uma peça única, realizado pela primeira vez numa obra desta dimensão, esse trabalho foi importante, até por questões comerciais e valorização do país, na industria de armamento, pois com este conhecimento foi possível fazer-se canhões de fusão com grandes dimensões".
Este trabalho foi realizado nas oficinas da  "FUNDIÇÃO DE CIMA" (antiga Fundição deCanhões emSANTA CLARA). O Bloco de bronze deste monumento é composto de uma patina branca, que o enobrece, tem aproximadamente sete metros de altura e pesa sensivelmente 30 toneladas. 
Na madrugada do dia 22 de Maio de 1775 começou a condução da estátua colossal, desde SANTA ENGRÁCIA, passando pela RUA DO PARAÍSO, (foi aberta uma rua para o carro conseguir passar, puxado por cerca de mil homens, pois a figura real não podia ser deslocada por animais), descendo ao MUSEU DE ARTILHARIA e pela RUA DE ALFÂNDEGA até à PRAÇA DO COMÉRCIO. Para garantir total segurança na condução da estátua, foi necessário demolir algumas casas térreas e barracas pertencentes a particulares.
A IGREJA DE Nª. SENHORA DO PARAÍSO também sofreu danos, sendo que em 1778, três anos depois da inauguração da estátua, ainda a irmandade  daquela IGREJA requeria ao INTENDENTE DAS OBRAS PÚBLICAS, que fosse reedificado o que naquela IGREJA havia sido demolido.
Foi organizado um importante cortejo que desfilou entre alas de tropas de linha, que cortejo que teve grandeza, pela sua originalidade. A ZORRA que levava a Estátua chegou ao local no princípio da tarde do dia 25 (levou três dias e meio no seu trajecto) e a admirável obra de MACHADO DE CASTRO foi colocada na manhã do dia 27, ficando coberta por um invólucro de seda carmesim.
A sua inauguração foi fixada para 6 de Junho de 1775, dia do aniversário do REI. Com 61 anos, o pobre D. JOSÉ I podia ver-se fundido em bronze em cima do seu cavalo, metido numa armadura bélica que nunca usara...
Assistiu, porém, à cerimónia, clandestinamente, com a rainha e os quatro filhos, o genro e o irmão, os netos, dissimulados numa sala do novo edifício da ALFÂNDEGA, (supondo-se oficialmente ausente) neste dia solene em que o MARQUÊS DE POMBAL triunfava e, com ele, os seus amigos do alto comércio e da finança.
A localização desta estátua foi imposta pelo plano de EUGÉNIO DOS SANTOS e ocupa um lugar singular: o centro geométrico de um triângulo equilátero cujos vértices se encontram no eixo do ARCO DA RUA AUGUSTA (ao tempo ainda não totalmente  edificado) e nos eixos das portadas laterais dos dois torreões que rematam a frente aberta da PRAÇA DOCOMÉRCIO.    
A Estátua  fui paga pelo comércio de LISBOA, pela verba de 4% do imposto alfandegário, não foi divulgado o custo total da obra, mas os burgueses pombalinos eram, supostamente, os seus proprietários. A inscrição em bronze, no pedestal, honrando o "COLLEGI NEGOTIARUM CURANS" não o deixava esquecer.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«TERREIRO DO PAÇO [ XVII ] A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 4 )»

TERREIRO DO PAÇO [ XVII ]

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A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 4 )
 Terreiro do Paço - (2014) - Foto de MIMG47 (A Estátua de D. JOSÉ I na PRAÇA DO COMÉRCIO, uma obra de MACHADO DE CASTRO, depois da intervenção de limpeza em 2013) inPANORAMIO
 Terreiro do Paço - ( 2013) Foto de Mariline Alvas (Estátua equestre de D. JOSÉ I, na altura de intervenção de limpeza entre finais de 2012 até Agosto de 2013) in CORREIO DA MANHÃ
 Terreiro do Paço - (22.11.2012) Foto de Daniel Rocha (Pormenor da parte superior da Estátua equestre de D. José I, durante a intervenção de limpeza)  in PÚBLICO
Terreiro do Paço - (2013) (A Estátua Equestre de D. JOSÉ I, na PRAÇA DO COMÉRCIO, devidamente protegida para ser limpa)  in CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA

(CONTINUAÇÃO) TERREIRO DO PAÇO [ XVII ]

«A ESTÁTUA EQUESTRE DE D. JOSÉ I ( 4 )»

A família Real transportou-se para o seu convencionado esconderijo em pequenas carruagens, enquanto POMBAL tomava lugar num cortejo faustoso onde entravam os magistrados do SENADO DA CIDADE, de que seu filho primogénito era presidente, os representantes dos organismos oficiais do comércio e dos "mesteres"( 1 ) e uma grande parte da Nobreza. Descendo das carruagens, o cortejo, completado ainda por outros dignitários que o esperavam, estendeu-se pela vasta PRAÇA e, fingindo não ver a família Real, que espreitava a cerimónia de uma janela, dirigiu-se finalmente para o monumento recoberto de ricos panejamentos. Escusado será dizer que foi o MARQUÊS DE POMBAL e o filho que puxaram os cordões para o descobrir. Encontrava-se junto da comitiva JOAQUIM DA CRUZ SOBRAL, a primeira fortuna comercial do reino, TESOUREIRO-MOR, ADMINISTRADOR DA ALFANDEGA, INSPECTOR-GERAL DOS TRABALHOS PÚBLICOS, homem inteiramente dedicado ao MINISTRO DO REINO ( 2 )
A PRAÇA DO COMÉRCIO só ainda tinha metade construída; as alas do lado Norte sem o arco, e metade da ala do lado Ocidental.
As festas duraram três dias (mas já durante quatro dias o povo tinha acompanhado o difícil transporte da estátua, como antegozo da festa). A PRAÇA foi decorada com uma grande TORRE DE MADEIRA, cortejos de oito carros alegóricos, devidamente complicados, ao gosto da decoração teatral do círculo de GIACCOMO AZZOLINI (1721-1791)( 3 ), fogo de artifício, exercícios militares, iluminações públicas, espectáculos de ópera, um baile e um banquete para o povo, e um outro para a corte, que custou mais de 40 contos de réis.
Para o efeito, um imenso serviço de porcelana decorada com a imagem do monumento tinha sido encomendada na CHINA.

Em finais de 2012 começou uma intervenção de restauro e limpeza na estátua de D. JOSÉI. O restauro a cargo do "WORLD MUNUMENT FUND" (Organismo Internacional que intervencionou a TORRE DE BELÉM e o MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS) foi orçado em 490 mil euros.
A estátua foi devidamente protegida e montados andaimes a uma altura  mais de 14 metros do solo. O último dos andaimes que cobria o conjunto, composto pelo cavalo e a figura do REI,  colocada sobre um elaborado pedestal em pedra. Diz o coordenador do projecto JOSÉ IBÉRICO NOGUEIRA:"Qualquer metal sofre efeitos da erosão e, neste caso, o vento e a aproximação do mar causam sempre enormes desgastes. O trabalho é de limpeza e de contenção desse processo químico e mecânico". 
Apesar da vista deslumbrante sobre o TEJO, os técnicos ao serviço de WMF pouco se distraem. Paciência, precisão e minúcia, são os instrumentos necessários para que a obra se finalize no tempo previsto, obrigando a muito trabalho manual. Só para se ter uma pálida ideia, há quem se dedique a limpar todo o gradeamento que rodeia o pedestal, com algodões embebidos em álcool e acetona para retirar gorduras.
Um estudo iniciado ao estado da estátua permitiu analisar todas as patologias e o levantamento gráfico, em que se usou uma técnica que cruza feixes de "laser" e cujo resultado é próximo ao de uma radiografia, detectou os problemas que afectam a pedra e o metal e permite ver para dentro do plinto, analisando a estrutura. Um micro jacto de água limpou a pedra e a precisão dos técnicos faz o mesmo ao cavalo do rei.
A liga de que é composta a peça foi também alvo de apurado estudo. "Especulou-se muito sobre a cor original, mas hoje sabe-se que, do ponto de vista químico a liga, que se pensava ser de bronze, estará mais próxima do latão almirantado, usado pela MARINHA em peças polidas, e que tem coloração dourada. É uma liga de cobre, zinco e também chumbo, com alta capacidade de resistência à salinidade".
O restauro esteve a cargo da firma WMF, que financiou com 370 mil euros, a CML com 80 mil Euros e 40 mil de privados. Foram encontradas nesta intervenção 14 tiros de balas marcados na estátua, tendo sido a primeira limpeza da Estátua em 1926. Em 1983, foram retirados do interior do cavalo 3 mil litros de água. 
Notas finais: D. José I não pousou para MACHADO DE CASTRO, o rosto do REI foi desenhado à imagem de um medalhão e as mãos são as do próprio autor do trabalho.
A conclusão da intervenção de limpeza da Estátua Equestre e seu pedestal, ficaram concluídas no mês de Agosto de 2013.

( 1 ) - MESTERES - do Lat. s. m. artes, ofícios, profissões manuais; (Hist.) cada um dos 24 ofícios mecânicos que tinham os seus procuradores na Casa-dos-Vinte-e-Quatro).

( 2 ) - Optámos pela versão publicada por J. RIBEIRO GUIMARÃES (op. cit., II, p. 215) segundo ms. anónimo. No dizer do Jesuíta de quem seguimos, Pombal e Cruz Sobral teriam puxado os cordões. A versão pareceu-nos mais verosímil, uma vez que o filho  do Ministro era o Presidente do Senado da Cidade
.
( 3 ) - Conhecem-se pagamentos feitos aos pintores, decoradores; JOSÉ ANTÓNIO NARCISO, BELCHIOR DOS REIS ANTUNES e DOMINGOS JOSÉ BRUNO e ainda ANTÓNIO JOSÉ PINTO.(Ver E. FREIRE DE OLIVEIRA op. cit. XVII, pp. 496, 498 e 499)

[ FINAL ]

BIBLIOGRAFIA

- ARAÚJO, Norberto - Peregrinações em Lisboa-Livro XII-Vega_1992-LISBOA
- CASTILHO, Júlio de -A RIBEIRA DE LISBOA -Imp. Nac.- 1893 - Lisboa
- CHORÃO, João Bigotte - Nossa Lisboa dos Outros - 1ª Ed. CTT - 1999 Lisboa
- COELHO, Antº. Borges - Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista - Caminho-2000-Lisboa
- CONSIGLIERI, Carlos e ABEL, Marília-LISBOA- 750 anos de capital 1ª Ed.-  Dinalivro -2005 - Lisboa.
- Correio da Manhã de 10 de Fevereiro de 2013.
- Dicionário da História de Lisboa- Cood. de Francisco Santana e Eduardo Sucena - Carlos Quintas & Associados-Consultores,Lda- 1994 - Sacavém.
- FRANÇA, José-Augusto - LISBOA POMBALINA E O ILUMINISMO - 3ª Ed. - Bertrand Editor - 1987 - Lisboa.
- HISTÓRIA nº 80 - Outº de 2005 - ANO XXVI (III série) - Lisboa.
- LISBOA Revista Municipal Nº 16 e Nº 17 de 1986 - CML - 1986 LISBOA.
- MOITA, Irisalva - O LIVRO DE LISBOA . Livros Horizonte - 1994 - Lisboa.
- OLHARES DE PEDRA - Editor - João Fragoso Mendes - Global Notícias Publicações-2004-Lisboa.
- PINHEIRO MAGDA - Biografia de LISBOA - Esfera do Livro - 20011 - Lisboa.
- SANTOS, Maria Helena Pinheiro dos - A BAIXA POMBALINA-PASSADO E FUTURO- Livros Horizonte- 2000 - LISBOA.
INTERNET

(PRÓXIMO)-«RUA LEITÃO DE BARROS [ I ] -A RUA LEITÃO DE BARROS ( 1 )»

RUA LEITÃO DE BARROS [ I ]

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«A RUA LEITÃO DE BARROS ( 1 )»
 Rua Leitão de Barros - (2014) (Um troço da "RUA LEITÃO DE BARROS" de Nascente para Poente, na freguesia de "São Domingos de Benfica")  in GOOGLE EARTH
 Rua Leitão de Barros - (2007) ( Vista panorâmica (parcial) da "FREGUESIA DE SÃO DOMINGOS DE BENFICA" onde se insere a "RUA LEITÃO DE BARROS")  in GOOGLE EARTH
 Rua Leitão de Barros - (Década de 60 do século XX) (Livro "OS CORVOS" de Leitão de Barros com desenhos de João Abel Manta.  "LISBOA Rainha do Tejo". Crónicas dominicais reunidas  em dois Tomos. ( Abre em tamanho grande ) in FRENESI LOJOA
 Rua Leitão de Barros - (1930)  ( "LEITÃO DE BARROS" ao comando das operações, para mais um dos seus filmes, supostamente a "MARIA DO MAR")  in  CINEMA SAPO 
Rua Leitão de Barros - (1930) (Cartaz publicitário,  resumo do argumento e ficha técnica do filme "MARIA DO MAR", uma obra fundamental de "LEITÃO DE BARROS")  in MARIA DO MAR

RUA LEITÃO DE BARROS [ I ]

«A RUA LEITÃO DE BARROS ( 1 )»

A «RUA LEITÃO DE BARROS» pertence à freguesia de «SÃO DOMINGOS DEBENFICA», começa na "RUA PADRE FRANCISCO ÁLVARES", em frente do número 14 e não tem saída.
Completou este mês 44 anos que, por EDITAL de 4 de Novembro de 1970, publicado no Diário Municipal do dia 7 seguinte, que mandou dar o nome do artista àquele que era o primeiro impasse à RUA PADRE FRANCISCO ÁLVARES.   LISBOA consagra assim um seu filho que muito a enobrecera e a propagandeara.
"LEITÃO DE BARROS" homem irrequieto e talentoso, foi vasta e diferenciada a sua colaboração com os periódicos e, além da escrita,  há a salientar o facto de ter sido um renovador de certos géneros.

«JOSÉ JÚLIO MARQUES LEITÃO DE BARROS» nasceu em LISBOA a 22 de Outubro de 1896, e faleceu também em LISBOA em 29 de Junho de 1967. Frequentou a ESCOLA DEBELAS-ARTES, concluindo o 3º ano de Arquitectura, o que não dispensou de passar também pelas FACULDADES DE CIÊNCIAS e LETRAS e ainda cursar as cadeiras necessárias ao exercício do Magistério secundário. Completo o curso da ESCOLA NORMAL SUPERIOR da UNIVERSIDADE DE LISBOA e realizado o exame de Estado, foi nomeado professor de liceu, cargo que exerceu durante alguns anos, leccionando DESENHO e MATEMÁTICA no "LICEU PASSOS MANUEL", em LISBOA.
Os jornais atraíam-no: começou por colaborador num antigo "CORREIO DA MANHÃ" e na primeira série de "A CAPITAL". Passou depois por uma efémera "IMPRENSA DA MANHÃ" e pela revista "ABC", muito dedicado às questões históricas. 
Mas o seu sentido artístico e o grande poder de crítica não lhe permitiam que ficasse só a escrever crónicas saborosas.
Fundou e dirigiu o semanário "DOMINGO ILUSTRADO" (1925-1927), com o qual lançou entre nós o magazine leve, de actualidades.
Foi seguindo atentamente as transformações dos processos gráficos e não resistiu em seguir para a ALEMANHA onde aprendeu o processo da heliogravura ou (Fotogravura).
Voltando a PORTUGAL, um acordo com a empresa do "DIÁRIO DE NOTÍCIAS", dava-lhe a hipótese de relançar o "NOTÍCIAS ILUSTRADO" (1928-1935), sob a sua direcção e utilizando os modernos processos. Mais tarde, surgiram dificuldades que o levaram a abandonar esse projecto e a fundar outra revista que teve vida mais dilatada:o famoso "OSÉCULO ILUSTRADO"
A sua última ( e talvez hoje a mais recordada) participação na feitura de jornais passou de novo no "DIÁRIO DE NOTÍCIAS", onde manteve durante anos uma saborosa crónica dominical, intitulada genericamente  "OS CORVOS". Aqui não se limitava a uma visão descrita e típica da sua cidade, antes se "espraiando" em observação e bom humor sobre toda a vida nacional. Muitas dessas crónicas vieram a ser reunidas em dois tomos, com ilustração de "JOÃO ABEL MANTA", constituindo hoje uma preciosidade dos Alfarrabista de LISBOA e não só.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA LEITÃO DE BARROS [ II ] -A RUA LEITÃO DE BARROS (2)».

RUA LEITÃO DE BARROS [ II ]

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«A RUA LEITÃO DE BARROS ( 2 )»
 Rua Leitão de Barros - (2014) -(Entrada da "RUA LEITÃO DE BARROS" que liga à "RUA PADRE FRANCISCO ÁLVARES) in GOOGLE EARTH
 Rua Leitão de Barros - (1940) (Planta da "EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS" inaugurada em 23 de Junho de 1940 no sítio de BELÉM) in  RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua Leitão de Barros - (1930) (Fotografia de Salazar Dinis) ("LEITÃO DE BARROS" sabe colher o imprevisto e, apesar da ingenuidade de algumas cenas - como o quase afogamento de Maria - pôde dar largas à sua vigorosa cena)   in  MARIA DO MAR
 Rua Leitão de Barros - (1931) - ("A SEVERA" um filme de "LEITÃO DE BARROS", rodado em PORTUGAL e FRANÇA)  in   RESTOS DE COLECÇÃO
Rua Leitão de Barros - (1932) - (Desenho de STUART) (Uma publicação do extinto "DIÁRIO DE LISBOA" que publicava "AS MARCHAS DE LISBOA" na noite de SANTO ANTÓNIO. As MARCHAS DE LISBOA tiveram início no ano de 1931, por iniciativa de "LEITÃO DE BARROS" e o entusiasmo do olisipógrafo "NORBERTO DE ARAÚJO") (Abre em tamanho grande) in AS MARCHAS DE LISBOA DE NORBERTO DE ARAÚJO


(CONTINUAÇÃO) - RUA LEITÃO DE BARROS [ II ]

«A RUA LEITÃO DE BARROS ( 2 )»

«LEITÃO DE BARROS» ao falar de si próprio empregando um tom anedótico, condizente com o seu fino sentido de humor. Parecia não se tomar demasiado a sério, um homem que ainda hoje é indefinível, tantas foram as suas facetas em que se distinguiu: professor, jornalista, realizador cinematográfico, pintor, autor teatral, organizador de festejos e dos maiores cortejos que LISBOA já viu.
«LEITÃO DE BARROS» era um homem de sete ofícios, apesar do contributo dado ao jornalismo, não era homem para se ficar por aí.
O TEATRO e o CINEMA, por exemplo, tiveram nele um apaixonado.
Para o primeiro, escreveu várias peças, algumas das quais de êxitos. Lembremos COLÉGIO UNIVERSAL, PRÉMIO NOBEL (escrita em parceria com FERNANDO SANTOS e ALMEIDA AMARAL, sendo representada no TEATRO NACIONAL) e ainda AVÓ LISBOA, de que foram protagonistas PALMIRA BASTOS e VASCO SANTANA.
Expôs ainda várias obras de PINTURA em MUSEUS portugueses, em ESPANHA, no MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE MADRID e ainda no BRASIL.

Mais conhecida ainda ficou a sua participação no CINEMA.
MALMEQUER a MAL DE ESPANHA (1918) foram os seus primeiros filmes. Neles se salientam duas tendências: a evocação histórica dos temas e a crónica anedótica.
Com o documentário NAZARÉ (1930) retoma um tema já explorado em (1923).   "LISBOACRÓNICA ANEDÓTICA" (1930) em que mistura actores conhecidos como: NASCIMENTO FERNANDES, BEATRIZ COSTA, VASCO SANTANA, ERICO BRAGA, CHABY PINHEIRO, ESTEVÃO AMARANTE, JOSEFINA SILVA, EUGÉNIO SALVADOS, ADELINA ABRANCHES, COSTINHA, ALVES DA CUNHA e outros, todos eles interpretavam personagens típicas de LISBOA.  No mesmo ano eram rodados ainda os filmes NAZARÉ e MARIA DO MAR.
Em "MARIA DO MAR", com colaboração no argumento e assistência de realização de ANTÓNIO LOPES RIBEIRO, é para muitos a obra-prima do cinema "mudo" português, representado nas cinematecas de LONDRES, NOVA IORQUE, MOSCOVO e TÓQUIO. 
Rodado na PRAIA DA NAZARÉ, aborda as dificuldades da vida da comunidade piscatória, narrando a história de amor entre dois jovens cujas famílias haviam cortado relações na sequência  dum naufrágio.  O recurso ao grande plano, o desenho sensual dos corpos em contraste com a fúria dos elementos e a convincente combinação da actuação dos actores profissionais, de amadores e de gente anónima dão a "MARIA DO MAR" uma frescura que permite encontrar no filme elementos dum modernismo que permanece no tempo.  Neste filme deram a sua colaboração os actores: ROSA MARIA, OLIVEIRA MARTINS, ADELINA ABRANCHES e outros, sendo estreada no cinema"SÃO LUÍS"a 20 de Maio de 1930.
A célebre "SEVERA" uma fantasia biográfica da fadista, é um dos filmes "maisportuguês", no sentido de reflectir um dramatismo e até uma auto-comiseração que eventualmente caracterizam a alma portuguesa, para outros terá sido (sem culpa directa de LEITÃO DE BARROS) um repositório de elementos que marcariam de forma pouco positiva certo cinema português; a associação fado e touros, em ambiente melodramático.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«RUA LEITÃO DE BARROS [ III ]-A RUA LEITÃO DE BARROS ( 3 )». 

RUA LEITÃO DE BARROS [ III ]

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«RUA LEITÃO DE BARROS ( 3 )»
 Rua Leitão de Barros - (2014)  (Um troço da "RUA LEITÃO DE BARROS" de Poente para Nascente)  in GOOGLE EARTH
 Rua Leitão de Barros - (2010) Foto de André Barragon  (A "RUA LEITÃO DE BARROS" no seu lado a Norte)  in SKYSCRAPERCITY
 Rua Leitão de Barros - (1940)  (Foto do Guia Oficial da "EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS" realizada no sítio de BELÉM,  uma ideia de António Ferro coadjuvação de "LEITÃO DE BARROS) in RESTOS DE COLECÇÃO
 Rua Leitão de Barros - (1940) Foto de autor não identificado  (Aspecto de alguns PAVILHÕES na "EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS" em BELÉM, no ano de 1940, mais uma das iniciativas de "LEITÃO DE BARROS")  in FONTE DO ROSÁRIO
 Rua Leitão de Barros - (10 de Julho de 1940) (Primeira página de "ARQUIVO NACIONAL" dedicado ao "DESFILE DE OITO SÉCULOS DE HISTÓRIA", uma organização de "LEITÃO DE BARROS")  in   RESTOS DE COLECÇÃO
Rua Leitão de Barros - (1936)  ("BOCAGE" um filme histórico realizado por "LEITÃO DE BARROS". No elenco RAUL DE CARVALHO, ANTÓNIO SILVA, JOÃO VILLARET e outros. Destacamos o grande Tenor português "TOMAZ ALCAIDE na interpretação da serenata no Lago "O AMOR É CEGO E VÊ")  (Abre em tamanho grande)  in CINEMA PORTUGUÊS

(CONTINUAÇÃO)- RUA LEITÃO DE BARROS [ III ]

«A RUA LEITÃO DE BARROS ( 3 )»

"LEITÃO DE BARROS""aposta" seguidamente no cinema sonoro, para o qual os estúdios portugueses ainda não dispunham das condições técnicas requeridas. 
Ainda do filme "A SEVERA" (1931) com cenas  exteriores ( por vezes de grande beleza estética) rodadas em PORTUGAL (sem som) e cenas de interiores filmadas em FRANÇA, onde o filme foi sonorizado, teve um enorme êxito comercial. Com "LEITÃO DE BARROS"e outros cineastas foi criado um movimento para a construção dos Estúdios da TOBIS PORTUGUESA EM 1932.
"LEITÃO DE BARROS" realiza ainda "AS PUPILAS DO SENHOR REITOR"(1935), tendo paralelamente realizado o primeiro desfile das MARCHAS POPULARES, O CORTEJO DE VIATURAS, o CORTEJO DA EMBAIXADA DO SÉCULO XVIII, o CORTEJO E TORNEIO MEDIEVAL dos JERÓNIMOS e o CORTEJO HISTÓRICO DAS FESTAS CENTENÁRIAS DE LISBOA.
Em 1936 mais um filme de "LEITÃO DE BARROS"desta vez o«BOCAGE», salientamos a magnifica interpretação do Tenor TOMAZ ALCAIDE na serenata "O AMOR É CEGO E VÊ".
Em 1937 aparece uma combinação de melodrama e comédia e beneficia de uma invulgar energia e interpretação da jovem actriz "MIRITA CASIMIRO"em"MARIA PAPOILA". Segue-se "VARANDA DOS ROUXINÓIS" (1939), A PESCA DO ATUM(1939), documentário rodado no ALGARVE.
Em 1942 rodava na PÓVOA DO VARZIM um dos seus filmes mais sugestivos, "ALA-ARRIBA!", uma história de amor marcada por rivalidades. No ano de 1944 prepara o regresso dos filmes históricos. "INÊS DE CASTRO", uma co-produção entre PORTUGAL e ESPANHA.
No ano de 1946 realiza o filme histórico "CAMÕES", realiza ainda "VENDAVALMARAVILHOSO" tendo no elenco AMÁLIA RODRIGUES, mas a estreia em PORTUGAL em finais de 1949, revela-se uma autentica decepção.
Os próximos trabalhos de LEITÃO DE BARROS em cinema situar-se-ão no âmbito do documentário, sendo em geral feitos por encomenda: A ÚLTIMA RAINHA DE PORTUGAL(1951), "RELÍQUIAS PORTUGUESAS NO BRASIL"(1959), "COMEMORAÇÕES HENRIQUINAS"(1961), "A PONTE DA ARRÁBIDA"sobre o DOURO, "ESCOLAS DE PORTUGAL"(1962) e"A PONTE SALAZAR"sobre o Rio Tejo de (1966).
No evento da "EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS" de 23 de Junho de 1940, "LEITÃO DE BARROS" representava a organização como SECRETÁRIO-GERAL e  o ARQUITECTO-CHEFE era o Arqtº. COTTINELLI TELMO. Esta exposição pretendeu demonstrar o poderio político-cultural do então "ESTADO NOVO".
Sobrou-lhe ainda tempo para ser um dos fundadores do grupo "AMIGOS DE LISBOA", em 1936, a par de outros olisipógrafos como: VIEIRA DA SILVA, MATOS SEQUEIRA, NORBERTO DE ARAÚJO, TINOP ou PASTOR DE MACEDO. A outra sua faceta, muito apreciada do grande público, foi a organização de desfiles e grandes cortejos. Pode assim ser considerado o "pai" das MARCHAS POPULARES DE LISBOA, com a sua primeira edição no  ano de 1932, e ainda a alma dos cortejos históricos com que a cidade festejou as suas grandes datas - em 1940, no Centenário da Nacionalidade, e em 1947, quando fez 800 anos de cristã, por exemplo.
Em 1935 foi lhe conferida a distinção de COMENDADOR DA ORDEM MILITAR DE SANTIAGO E ESPADA e em Março de 1941 recebeu a medalha de GRANDE-OFICIAL DA ORDEM MILITAR DE CRISTO.

CURIOSIDADE
Um episódio pitoresco foi presenciado por um guarda Republicana, quando "LEITÃO DE BARROS" fazia umas filmagens, em frente do Palácio da então ASSEMBLEIA NACIONAL, quando ele gritava "-Ó SALAZAR, FECHA A CÂMARA!". A guarda Republicana mostrou-se no mínimo intrigada: quem era aquele senhor que tinha autorização para andar a filmar ali e que, afinal, fazia exigências estranhas ao PRESIDENTE DO CONSELHO.  E, na dúvida, entendeu que o melhor seria averiguar.
A cena foi contada pelo próprio cineasta anos mais tarde, em reunião com um grupo de estudantes e devidamente explicada: "o seu "cameraman" era o excelente "SALAZAR DINIS", que descera do palanque onde se encontrava a tomar imagens e deixara a câmara aberta com a lente virada ao Sol". A frase tão aparentemente subversiva não era mais do que uma recomendação. Difícil terá sido certamente explicar estes factos simples à Guarda. [ FINAL ]

BIBLIOGRAFIA
- Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (20 Volumes)- Secretariado por MAGALHÃES, António Pereira; OLIVEIRA, Manuel Alves, - 1ª Ed. - LISBOA - Editorial Verbo, Vol. 3, 1973, pág 729.
- Jornal A CAPITAL"Os Corvos dos Jornais" - José Leitão de Barros

INTERNET

(PRÓXIMO)«LARGO DO LIMOEIRO [ I ] -O PÁTIO DO CARRASCO (1)»

LARGO DO LIMOEIRO [ I ]

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«O PÁTIO DO CARRASCO ( 1 )»
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (2006) Foto de APS  (O aspecto interior do "PÁTIO DO CARRASCO", numa tarde de verão)  in  ARQUIVO/APS
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (2014) ( O LARGO DO LIMOEIRO, ao fundo no lado direito, a entrada para o "PÁTIO DO CARRASCO" )  in GOOGLE EARTH
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (s.d.) Foto de Eduardo Portugal ( O "PÁTIO DO CARRASCO" no "LARGO DO LIMOEIRO")  (Abre em tamanho grande )in AML 
Largo do Limoeiro - Pátio  do Carrasco (c. de 1953) Foto de Fernando Martinez Pozal (O Arco visto do interior do "PÁTIO DO CARRASCO")  (Abre em tamanho grande )  in  AML

 LARGO DO LIMOEIRO [ I ]

«O PÁTIO DO CARRASCO ( 1 )»

O «PÁTIO DO CARRASCO» situa-se no "LARGO DO LIMOEIRO" junto da "RUA DO LIMOEIRO", na antiga freguesia de "SANTIAGO", actual freguesia de "SANTA MARIA MAIOR".
Consta que este pátio pertencia às cavalariças do antigo Palácio do "CONDE DE ANDEIRO".
Diz-nos "NORBERTO DE ARAÚJO" nas suas "PEREGRINAÇÕES EM LISBOA" que; "é uma das curiosidades cenográficas do sítio, e vem de longa data. Na fachada do PÁTIO, que olha para a RUA, notam-se três janelas do século XVI, de vêrga direita canelada, e distinguem-se nas ombreiras  vestígios do mainel que as bipartia ao alto". São estes os mais antigos elementos do pitoresco recinto muito pequeno chamado de "LARGO DO LIMOEIRO" um pouco degradado.
Conta-nos ainda o mestre "LUÍS PASTOR DE MACEDO" que em 1686 o Pátio se chamava de: "PÁTIO DEFRONTE DO LIMOEIRO"( 1 ),  em 1682 o  "PÁTIO DO TERREIRO DO LIMOEIRO"( 2 ), e em 1630 o  "PÁTIO DO LIMOEIRO"( 3 ) que supomos ser, como os anteriormente citados, o mesmo "PÁTIO DO CARRASCO". E acrescenta: "o nome do PÁTIO indica-nos que seria ali a morada dos carrascos em casa paga pelo REI, ou revela somente a estada temporária de qualquer daqueles executores da justiça".

A entrada para o "PÁTIO DO CARRASCO"é feita por um arco sustentando os andares do prédio. Trata-se de um pedaço de pitoresco (embora triste)  abundante nesta LISBOA, que não deixa de nos oferecer um certo interesse contemplativo.
O seu interior é ladeado por frentes de uma construção ingénua, e remendada de obras, as necessárias para satisfazer as exigências Camarárias. Na sua totalidade aparente, deixa adivinhar a ruína que transmite, das escadas do velho alpendre já desaparecido, ao qual o tempo vai dando uma patina de resignação.
Noutra fase do "PÁTIO DO CARRASCO" - onde entre o Sol e as mulheres cantam e ralham, quase em simultâneo - mora a alegria, que não necessita de muito para nos causar cobiça.
Por altura dos "SANTOS POPULARES" o Pátio é enfeitado com balões e bandeiras de papel de várias cores, os mais novos fazem a "MARCHA" e as raparigas namoradeiras improvisam os bailaricos.
E assim, tudo em família, vão-se divertindo, escondendo o que está menos bem, daquilo que já deviam possuir, mas sempre alegres.

Pertenciam estas casinhas ultimamente a quatro senhorios, cujos nomes não são relevantes.
Tirando o peso do nome que carrega o Pátio, podemos considerar que isto servirá para cenografia teatral ou cinematográfica, porque conserva ainda raízes de vidas tristes dum povo com certa graça duradoura.
Sabe-se que neste PÁTIO provavelmente residiu o último Carrasco português. De nome completo "LUÍS ANTÓNIO ALVES SANTOS (1806-1873), era também conhecido por "LUÍS NEGRO", por usar no exercício da sua profissão o seu "GABÃO"( 4 ) preto.

- ( 1 ) - Liv. III dos Mitos, fl. 20-V.-S. MARTINHO
- ( 2 ) - Idem fl. 15
- ( 3 ) - Idem Liv. II perdeu-se ou extraviou-se o verbete onde faz referência ao ano exacto.
- ( 4 ) - GABÃO - (do Persa, Kába, manto) s.m. Capote com capuz, mangas e cabeção.  

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO LIMOEIRO[ II ]-O PÁTIO DO CARRASCO ( 2 )»

LARGO DO LIMOEIRO [ II ]

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«O PÁTIO DO CARRASCO ( 2 )»
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (2006) Foto de APS  (O interior do "PÁTIO DO CARRASCO" no ano do Mundial de Futebol, numa tarde de Sol)  in  ARQUIVO/APS
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (1968) Foto de Armando Serôdio (O "PÁTIO DO CARRASCO", uma vista do seu interior) (Abre em tamanho grande)  in AML
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (Finais do século XIX) (Desenho de Roque Gameiro) (O "PÁTIO DO CARRASCO" desenho do mestre "ROQUE GAMEIRO" estampa Nº 63) in JCABRAL
Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco- (s.d.) Foto de Eduardo Portugal (O interior do "PÁTIO DO CARRASCO" vista pelo fotografo Eduardo Portugal) ( Abre em tamanho grande) in  AML

(CONTINUA) - LARGO DO LIMOEIRO [ II ]

«O PÁTIO DO CARRASCO ( 2 )»

Possivelmente o "ÚLTIMO CARRASCO PORTUGUÊS" nasceu na freguesia de "CAPELUDOS", CONCELHO de VILA POUCA DE AGUIAR, e DISTRITO de VILA REAL.
"LUÍS NEGRO" levou uma vida atribulada, cheia de equívocos e ódios que a própria história tarda em explicar.
Nascido numa terra onde nunca se conhecera um delinquente, o jovem LUÍS não viria a imaginar um destino tão amargo para a sua alma. Paradoxalmente, foi bem cedo que entrou por caminhos tortuosos, feitos de armadilhas e falácias, que o conduziram inevitavelmente à negritude.
Existia já aos dez anos de idade um rol de peripécias numa fuga para LISBOA. Vende laranjas para sobreviver, mas ao fim de alguns meses volta à sua terra com saudades dos seus parentes. Nesta curto espaço os pais vão da consternação à alegria do regresso do filho pródigo.
No anos de 1822 com 16 anos  alistou-se no REGIMENTO DE CAVALARIA 6. No final da  recruta viu-se envolvido na revolução iniciada pelo general MANUEL DA SILVEIRA dentro de uma conjuntura política marcada pelas guerras liberais.
Com efeito, o jovem soldado LUÍS ALVES,"sem saber porquê encontra-se a servir um exército de realistas"( 1 ). Combateu no CAMPO GRANDE e na ASSEICEIRA, foi ferido na "BATALHA DE SANTA MARIA DE ALMOSTER", terminando os serviços militares na capitulação da GOLEGÃ.
Finalizada a guerra, volta para a sua terra natal, no entanto um grupo de soldados do REGIMENTO 9 avançou para o capturar. Andou fugido pelos montes, os ódios de quem lutara contra os absolutistas consubstanciavam-se em ciladas, prisões e tentativas de homicídio. A resposta surgia com fugas.
Uma tentativa de embarque para o BRASIL levou para a cadeia de CHAVES.
Depois de intensos interrogatórios acabou por denunciar aquele que o ajudara na última figa. Isto "valeu-lhe" 3 anos de cadeia. 
Conduzido a VILA POUCA DE AGUIAR, instauraram-lhe dezoito processos; "eram inumeráveis os crimes que se lhe imputavam".Confessava duas mortes cometidas em legítima defesa, e não negava os ferimentos feitos nos soldados que o perseguiam das duas fugas da cadeia.
Todavia a infinidade de mentiras e as ameaças das testemunhas de acusação levaram LUÍS ALVES a perder o sangue-frio.  Perante o magistrado, atira-lhe à cara o banco em que estava sentado... momentos depois era CONDENADO À MORTE. Devia morrer na forca. Com a sentença confirmada por instâncias superiores e altos funcionários judiciais, restou-lhe a comutação dessa pena prestando-se a exercer o cargo de executor da ALTA JUSTIÇA CRIMINAL, ou seja o cargo de«CARRASCO».
Não aceitou de bom grado, foi necessário o pranto da sua mulher que definitivamente  convenceu este "EX-DRAGÃO DE CHAVES" ( 2 ).
Dizia ele amargurado: "Em má hora cedi. Deixei-me convencer, dobrei, aceitei a humilhação, o ferrete e a vergonha. Oxalá não o tivesse feito!". A sociedade necessitava de ter, talvez, mais um "CARRASCO"! E quem fala assim... é o último de PORTUGAL

- ( 1 ) - Defensores da Monarquia Absolutista e das pretensões de D. MIGUEL (vulgo antiliberais). Opunham-se aos seguidores da MONARQUIA CONSTITUCIONAL e de D. PEDRO. A assinatura da Paz na Convenção de ÉVORA-MONTE(1834) significou a vitória das forças liberais e, consequentemente, o triunfo da MONARQUIA CONSTITUCIONAL.

- ( 2 ) - Célebre "COMPANHIA DO REGIMENTO Nº 6" caracterizada pela bravura e tenacidade. Adoptaram como insígnia esse animal mitológico.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO LIMOEIRO [ III ]O PÁTIO DO CARRASCO(3)»

LARGO DO LIMOEIRO [ III ]

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«O PÁTIO DO CARRASCO ( 3 )»
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco- (2006) Foto de APS ( Entrada em túnel para o "PÁTIO DO CARRASCO"  in  ARQUIVO/APS
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (Depois de 2006) (O "PÁTIO DO CARRASCO" um dos seus pitorescos pormenores) (Abre em tamanho grande) in  APONTAMENTOS DE LISBOA
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco-( 2011) ( Placa Toponímica do "PÁTIO DO CARRASCO" em LISBOA) in ONTEM, EU REPARAVA NO SORRISO DAS VACAS
 Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco - (1883) (Uma edição do livro "O ÚLTIMO CARRASCO-LUÍS NEGRO" de LEITE BASTOS)  in LIVREIRO MONASTICON
Largo do Limoeiro - Pátio do Carrasco- (1883) (Livro com o título "O ÚLTIMO CARRASCO""LUIZ NEGRO" de LEITE BASTOS, editada na antiga  oficina Literária na Rua Nova do Almada em LISBOA)  in  PEDRO ALMEIDA VIEIRA


(CONTINUAÇÃO) - LARGO DO LIMOEIRO [ III ]

«O PÁTIO DO CARRASCO ( 3 )»

Numa quarta feira do dia 20 de Agosto de 1873 o "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" anunciava na sua primeira página a morte de LUÍS ALVES. Tinha 67 anos e faleceu na CADEIA DOLIMOEIRO -  «"era entre nós o último representante d'esses desgraçados, cuja perversidade e destino fatídico, a sociedade aproveita como instrumento da sua fria e calculada vindicta"» e remata o artigo do jornal. "LUÍS NEGRO" era o nome,"terrivelmente adjectivado, do último Carrasco legal ( 1 )", que marca os derradeiros suspiros da pena de morte em PORTUGAL.
 Negritude manchada, quer do exercício da profissão ou ainda supostamente ligada ao seu «GABÃO PRETO», que insistentemente usava. 
Cento e quarenta e sete anos sobre a data da abolição da pena de morte em PORTUGAL (Lei de 1 de Julho de 1867) representam um pioneirismo incomparável na saga história da luta pelos "DIREITOS HUMANOS". Orgulho português que se deve prioritariamente a um conjunto de deputados oitocentistas verdadeiramente iluminados.
Controversas à parte, certo é que ainda hoje restam marcas da presença do "CARRASCO". Em LISBOA , e imediatamente à frente do "LARGO DO LIMOEIRO", junto à antiga "CADEIA DO LIMOEIRO", encontramos o «PÁTIO DO CARRASCO» estranhamente funesto e degradado.
Para a fama de "LUÍS ALVES", o "NEGRO", "sinistro" funcionário do MINISTÉRIOPÚBLICO, muito terá contribuído o facto do "VISCONDE DE OUGUELA" (CARLOSRAMINHO COUTINHO) o ter entrevistado na prisão do LIMOEIRO e LEITE BASTOS ter escrito um romance histórico e biográfico sobre tal personagem com o título "O ÚLTIMOCARRASCO" e ainda ser referenciado por CAMILO CASTELO BRANCO em"NOITES DE INSÓNIAS".

«JOÃO FERNANDES ANDEIRO» (CONDE DE ANDEIRO), era um fidalgo galego natural de "ANDEIRO" na CORUNHA, que D. FERNANDO, que ambicionava o trono de CASTELA, e invadir a GALIZA, aproveitando as lutas que se seguiram ao assassínio de D. PEDRO I (1369) por um meio-irmão, HENRIQUE, o "BASTARDO".
O "ANDEIRO" refugiou-se em INGLATERRA e o DUQUE DE LENCASTRE, que também pretendia o trono de CASTELA, enviou-o secretamente a PORTUGAL para negociar uma aliança. É então que o fidalgo se apaixona por D. LEONOR TELES, e segundo "FERNÃOLOPES","foi esta afeição em ambos muito forte". D. FERNANDO cumula-o de riquezas e fá-lo CONDE DE OURÉM.
Morto o REI, o escândalo dos amores da regente do reino e o grave problema da sucessão, acumularam ódios; ANDEIRO é assassinado no «PAÇO DO LIMOEIRO" por D. JOÃO, MESTRE DE AVIS, satisfazendo assim a vontade de alguns nobres e de todo o povo, que viam na real mancebia uma afronta para o rei, e um perigo para a NAÇÃO

- ( 1 ) - CAMILO CASTELO BRANCO in NOITES DE INSÓNIAS

(Para ver mais fotos do "Pátio do Carrasco" pode consultar este blogue amigo:MÁRIO MARZAGÃO ALFACINHA)

BIBLIOGRAFIA

- ARAÚJO, Norberto -Peregrinações em Lisboa-Livro II Ed. VEGA, com o patrocínio da Fundação Cidade de Lisboa - 1992 - LISBOA.
- BASTOS, Francisco Leite - O ÚLTIMO CARRASCO - 1883 - Lisboa
- CASTELO BRANCO, Camilo - NOITES DE INSÓNIA, Liv. Chardron de Lello & Irmãos- PORTO - 1929.
- Dicionário Ilustrado da História de Portugal - Editado por Publicações Alfa - 1986-Impresso em ESTELLA (NAVARRA)-ESPANHA.
- ELEUTÉRIO, Victor L. - O Último Carrasco em Portugal, s.d. (pp. soltas)
- MACEDO, Luís Pastor de - LISBOA DE LÉS A LÉS- Pub. Culturais de CML-Vol. II 2ª. Ed. 1960 - LISBOA.
- MACHADO , Júlio M. - Crónica da Vila Velha de Chaves, Gráfica do Tâmega, CHAVES-1994.
-OUGUELLA, Visconde - O Último Carrasco - Liv. de Antº. Maria Pereira - Lisboa -1897.
- SANTOS, Mª. José M. - A Sombra e a Luz - As prisões do Liberalismo - Edições Afrontamento, PORTO - 1999.

INTERNET
- MÁRIO MARZAGÃO ALFACINHA
- PÁTIO DO CARRASCO
- WIKIPÉDIA 

(PRÓXIMO)«RUA LUÍS PASTOR DE MACEDO [ I ]-A RUA LUÍS PASTOR DE MACEDO(1)»

CURIOSIDADES SOBRE A "BICA-CAFÉ"

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A BICA-CAFÉ
Curiosidades sobre a BICA - (século XX) (Quando apareceu a primeira máquina expresso em Portugal, as pessoas não estavam habituadas ao sabor forte e amargo do café...)    in   DOM TACHO RESTAURANTE

 Curiosidades sobre a BICA - (1908) ( Na "BRASILEIRA" no CHIADO tomava-se café servido à mesa numas cafeteiras pequenas cujo conteúdo era retirado da máquina de café de saco que possuía umas torneiras)   in CAFÉ MUSEU

Curiosidades sobre a BICA - (1911)  (Rua Garrett, 120 e 122)   Foto de Joshua Benoiel   ("A BRASILEIRA" no CHIADO, casa especializada no café do BRASIL) in   AML 

Curiosidades sobre a BICA - (1979) ( Rua Garrett, 120 e 122-LISBOA) Foto de Neves Águas (A porta de "A BRASILEIRA" no CHIADO com seu aspecto de arte "DECO")  in AML

«CURIOSIDADES SOBRE A BICA-CAFÉ»

Possivelmente a origem da palavra "BICA" resultará da própria palavra "BICA", em português, é o tubo de saída da água de uma fonte.

Como a Máquina Expresso tem o manípulo de saída do café em forma de uma ou duas "BICAS", ao contrário da "MÁQUINA" de saco ou filtro que possuía apenas torneiras. Em LISBOA, nos melhores cafés, tinham "CAFÉ DE FILTRO" (da torneira), e "CAFÉ EXPRESSO" (da BICA), e assim ficou o termo até hoje.

Uma outra explicação para a designação da "BICA" encontrada no Blogue "MOURA MORTA" da região de COIMBRA, designadamente de VILA NOVA DE POIARES.
"Como sabem o termo "BICA"é um termo que se começou a usar em COIMBRA (zona centro do país) quando o café "A BRASILEIRA" vendeu os primeiros "expressos". Em LISBOA, o público achava esses "expressos" muito amargos. Daí que o pessoal de "A BRASILEIRA" inventou um "SLOGAN" para ajudar nas vendas. "BEBA ISTO COM AÇÚCAR". E pegou. Hoje a palavra foi reduzida às iniciais: "BICA" que ainda hoje o é em COIMBRA. Afinal a "BICA" tem uma razão forte de existir!"(LUÍS FILIPE SANTOS).

No início do século XX o café na "A BRASILEIRA" no CHIADO era servido numa cafeteira grande com cabo de madeira. Como podemos deduzir quando chegava ao último cliente a ser servido o café já estaria frio.
Um cliente ( que habitualmente tratava sempre por "tu" os criados) dizia: "ó ALBINO, vai mas é à "BICA"( 1 ).  Assim ficou generalizado o termo "BICA".
"BICA" - Nome generalizado em LISBOA e COIMBRA termo que no PORTO, poderá não ser entendido.

- ( 1 ) -voltar a encher a cafeteira na torneira do recipiente onde era feito o café.

Também existem muitos termos para diversos procedimentos das "BICAS", conforme o gosto de cada cliente.

- Uma Bica cheia
- Uma Bica com cheirinho
- Uma Bica curta
- Uma Bica curta em chávena escaldada
- Uma Bica dupla
- Uma Bica italiana
- Uma Bica normal
- Uma Bica normal em chávena não aquecida
- Uma Bica pingada

E eventualmente existirá mais alguma "identificação" que de momento não me ocorre.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Em 19 de Novembro de 1905 a "A BRASILEIRA" no CHIADO, LISBOA, abriu as suas portas ao público, vendendo o genuíno café em grão do BRASIL de MINAS GERAIS, moído à vista do cliente. O seu fundador ADRIANO TELES, vivera durante vários anos no BRASIL, mantendo excelentes contactos que lhe permitiam importar café e outros produtos regularmente. Três anos mais tarde, o sucesso do estabelecimento levou a que se construísse uma "SALA DE CAFÉ". novidade na época e que rapidamente se generalizou, tornando o local obrigatório para a elite lisboeta.

(PRÓXIMO)«RUA LUÍS PASTOR DE MACEDO [ I ]-A RUA LUÍS PASTOR DE MACEDO ( 1 )»
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